"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 26 de setembro de 2011

DOIS FARSANTES CONTRACENAM NO VÍDEO PRODUZIDO E DIRIGIDO PELA TV CÂMARA

Produzido e dirigido pela Câmara dos Deputados, um vídeo protagonizado por dois vigaristas comprova que, na novilíngua do Congresso, “sessão” pode ser sinônimo de fraude.
Aparentemente, as imagens registram uma reunião da Comissão de Constituição e Justiça que, seguindo sem desvios o roteiro de praxe, aprova um balaio de projetos em apenas três minutos.

Ao lado da secretária que cuida da ata, César Colnago (PSDB-ES) preside uma sessão com o quórum mínimo de 31 parlamentares. “Havendo o número regimental, declaro aberta a reunião”, avisa no início do vídeo. A câmera mostra o deputado Luiz Couto (PT-PB) como se fosse um dos presentes. É o único. Outros 34 assinaram a lista e viajaram para o feriadão que agora começa na tarde de quinta-feira e só termina na manhã de terça.

“Em discussão”, continua Colnago segundos depois. “Não havendo quem queira discutir, em votação. Os deputados que forem pela aprovação, permaneçam como se encontram.” A câmera fecha em Luiz Couto, sentado na primeira fileira. O número regimental não se mexe.

“Aprovado”, comunica o presidente. O tucano e o petista reprisaram o script para livrar-se de três blocos de projetos – relativos à concessão e renovação de radiodifusão, acordos internacionais e projetos de lei.
Além dos artistas principais, o elenco incluiu um grupo de coajuvantes formado por assessores dos gazeteiros. Filmados por poucos segundos, tocos capricharam na pose de deputado.

“Nada mais havendo a tratar, declaramos encerrada a reunião”, diz Colnago três minutos mais tarde. Fisionomia sóbria, despede-se do único presente como se enxergasse uma pequena multidão. E convoca a próxima reunião, “a realizar-se na terça feira, às 14h30.” Espertamente, os funcionários da TV Câmara evitaram registrar a continuação da conversa entre os dois deputados.

Para azar dos farsantes, um repórter do Globo estava por perto. “Um coroinha com um padre, podia dar o quê?”, ouviu o padre Luiz Couto do parceiro que jura ter sido coroinha. Enquanto a secretária mal continha o entusiasmo pela enxurrada de projetos aprovados, Colnago recitou a última fala: “Depois dizem que a oposição não ajuda…”







Augusto Nunes

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