"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 23 de outubro de 2011

ESQUERDA x DIREITA (PARTE 13)

A era dos emergentes

Como vimos no último post, a fase de estagnação econômica dos anos 90 que atingiu principalmente os países emergentes se estendeu até 2002 com os efeitos do 11 de setembro. A partir de 2003, finalmente o cenário começa a mudar. Só para dar uma idéia, o PIB mundial, que de 1990 até 2002 tinha aumentando pouco mais de US$ 10 trilhões, apenas em 2003 deu um salto de mais de US$ de 4 trilhões, continuando a crescer numa proporção semelhante até 2008, quando o PIB mundial chegou a casa dos US$ 61, trilhões. Ou seja, em apenas seis anos (de 2003 a 2008), o PIB mundial cresceu o triplo que havia crescido em toda década de 90!

Mais interessante ainda é observar que tal crescimento foi mais concentrado entre os países emergentes e pobres, o que contraria todo o discurso dos partidos de esquerda que passaram toda a década de 90 alardeando os efeitos negativos do “neoliberalismo” e da globalização, como instrumento de dominação dos países ricos.

Vamos ver os gráficos da evolução dos PIBs de cada região econômica do planeta para entender o que aconteceu nos últimos anos.
Vamos começar pela América do Sul:


Sem dúvida, o detalhe que mais chama a atenção neste gráfico é o rápido crescimento entre os anos de 2003 e 2008, o que ressalta ainda mais o contraste com os difíceis anos que marcaram o final da década de 90 e início dos anos 2000.

Aliás, o gráfico é bem parecido com a trajetória brasileira, com um detalhe: o Brasil cresceu menos que a América Latina. Vejamos: enquanto a comemorada média de crescimento do governo Lula nos oito anos foi de 4%, a média da América Latina foi de 4,1%. Pior, quando comparado a média da América do Sul, o crescimento do PIB brasileiro é meio ponto percentual inferior na média.

Voltando ao gráfico, depois dos estagnados anos 80, a partir de 1994 vários países da América Latina conseguem controlar a inflação, o que traz uma sensível melhora nas taxas de crescimento. Com a série de crises iniciadas em 1997 entre os emergentes, a América do Sul têm um significativo retrocesso, chegando ao fundo do poço em 2002, para novamente entrar em uma fase de rápida expansão que prossegue até a crise de 2008.

Ou seja, em apenas seis anos (entre 2003 e 2008,) o PIB do continente foi multiplicado por duas vezes e meia.

Agora vejamos o gráfico do continente mais pobre:


Observe que ao contrário da América Latina, que sofreu bastante com as crises de 1997 a 2001, o continente africano permaneceu quase indiferente. No entanto, o crescimento africano, a partir de 2003, é bem parecido com o verificado entre os latino-americanos.

Só a título de curiosidade, foi na África, mais precisamente em Angola, que aconteceu o crescimento mais rápido da história. Em apenas um ano, em 2006, Angola cresceu absurdos 19,4%!

Agora observemos o gráfico do continente asiático:


Também fica claro o forte impacto da série de crises do final da década de 90 e início dos anos 2000. Apesar de revelar a forte aceleração do crescimento já verificado na África e na América Latina, entre 2003 e 2008, o gráfico do continente asiático reúne países muito heterogêneos, o que atenua a curva de crescimento dos últimos anos.

Vejamos então o gráfico do sul da Ásia, região que concentra os novos emergentes:


Mesmo sem contar o vertiginoso crescimento da economia chinesa, a curva de ascensão dos últimos anos do sul asiático é semelhante ao fantástico crescimento africano e latino-americano.

Agora vamos observar o gráfico da evolução do PIB dos países do leste europeu:


Os países pós-comunistas do leste europeu foram os que mais sofreram na década de 90. Aliás, a derrocada iniciou bem antes da queda do muro de Berlim. Após o recorde do PIB de US$ 1,2 trilhão em 1983, as economias do leste europeu iniciaram uma vertiginosa queda que demorou uma década e meia, reduzindo seus PIBs pela metade em 1999. Felizmente, a partir da década de 2000 tais países iniciam uma fantástica recuperação que multiplicou seus PIBs por cinco entre 2000 a 2008!

Agora vamos ver o que ocorreu com o mundo rico no mesmo período:


O que mais chama atenção neste gráfico é a quase indiferença das economias norte-americana e canadense às crises que atingiram os continentes mais pobres. Apesar do crescimento linear, o rápido crescimento verificado nos demais continentes a partir de 2003 não é tão perceptível. De 2003 a 2008 o PIB da América do Norte cresceu pouco mais de 30%. Sem dúvida, um bom crescimento, porém insignificante quando comparado aos 300% de crescimento dos países do leste europeu; 270% da África; 250% da América do Sul; dos quase 100% da Oceania; e até mesmo dos 60% da raquítica América Central.

Mas, e a Europa? Como se comportou o velho continente neste novo mundo? Vejamos:


Observe que a curva ascendente da economia da Europa ocidental é semelhante à da América do Norte, com a diferença que a Europa sentiu as crises dos anos 80 e do início dos anos 2000. Outra pequena diferença: o PIB da Europa Ocidental cresceu 50% entre 2003 e 2008, um resultado um pouco melhor que os 30% da América do Norte, mas igualmente insignificante quando comparado ao crescimento dos demais continentes. Se considerarmos, no entanto, que parte deste crescimento decorre da demanda reprimida nas crises do início da década, concluímos então que o crescimento da economia européia segue no mesmo ritmo do norte-americano: acomodado, com sinais cada vez mais evidentes de esgotamento do potencial de crescimento.

Pior que o desempenho norte-americano e europeu só mesmo da economia japonesa, que permaneceu estagnada desde meados dos anos 90.

Agora vejamos o gráfico da Oceania:


Mais uma vez, o que chama mais atenção é o rápido crescimento a partir de 2003, com um leve retrocesso no início dos anos 2000. A Oceania, portanto, aparece como uma exceção no mundo rico, pois cresceu num ritmo mais Aacelerado a partir de 2003, pegando carona no crescimento da China, já que a Austrália é uma das grandes exportadoras de minérios do mundo, assim como o Brasil.

Mas afinal, o que aconteceu a partir de 2003 que provocou o deslocamento do eixo do desenvolvimento econômico dos países ricos para os emergentes?

Este é o assunto do post da próxima semana, quando falaremos sobre a ascensão dos BRICs.
Até lá!

Amilton Aquino

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