"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 11 de outubro de 2011

NOTAS POLÍTICAS

A lição de JK
Sebastião Nery

Depois de tensas horas trancados, numa reunião dramática, até a madrugada, ainda lembro da cara emburrada, de boi chuchado, de Benedito Valadares, cabeça baixa, humilhado, pálido, saindo lá de dentro derrotado, pela primeira vez, numa votação do partido. Por um voto.

A candidatura de Juscelino a presidente da República em 1955 dependia, para nascer, daquela reunião da Executiva Estadual do PSD de Minas, em 1954. Benedito, chefe do PSD mineiro, morria de medo dos militares e não queria Juscelino de jeito nenhum.

Afinal, em 10 de fevereiro de 55, dos 1.925 delegados da convenção nacional, 1.646 aprovaram a candidatura de JK. Contra, unânimes, os diretórios de Pernambuco (Etelvino Lins), Santa Catarina (Nereu Ramos), Rio Grande do Sul (Perachi Barcellos) e 160 da Bahia (Antonio Balbino).

***
UNIÃO NACIONAL

Juscelino viajou o País visitando o PSD. Desceu na Bahia, Antonio Balbino, governador, estava em cima do muro:

- Qual é a verdadeira posição do Café?

- Qual deles, Balbino? O vegetal ou o animal?

Em Pernambuco, Etelvino propôs a união nacional.

- Etelvino, quando você fala em União Nacional está pensando em União Democrática Nacional.

- Então você não quer a união?

- Ora, Etelvino, candidato não faz união. Candidato disputa. Quem faz união é governo, depois de empossado.

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O MEDO

Em 27 de janeiro, a “Voz do Brasil” tinha divulgado documento levado por Juarez Távora a Café, em que “militares apelavam para um candidato único e civil”. Juscelino respondeu com seu discurso histórico:

- “Deus me poupou o sentimento do medo”.

Em 31 de março, com João Goulart (PTB) como vice, deixou o governo de Minas com o vice Clovis Salgado, do PR, e saiu pelo País inteiro pregando o Desenvolvimento com o seu Plano de 30 Metas (depois, 31, com Brasília) e prometendo 50 anos em 5.

Em 3 de outubro, 3 milhões de votos (36%), Juarez 2 milhões e meio (30%), Ademar 2 milhões e 200 (26%), Plínio 700 mil (8%).

Democracia é isso. O resto é torta de ditadura.

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DIRCEU E CUNHA

José Dirceu e Eduardo Cunha estão em grandes páginas vadias dos jornais, vendendo o que não têm para entregar. Dirceu vende o PT, Cunha vende o PMDB. Um insinua que ainda tem o Mensalão. O outro acha que ninguém resiste a seu Mensalinho.

Os dois são os Zeca Pagodinhos de seus partidos: todo mundo fala mal, mas acaba bebendo a cerveja que ele vende.

E assim vão os dois fazendo a praça, cada dia mais parecidos fisicamente, até nas carecas bem cuidadas. E o dinheiro público que pague.

Sebastião Nery
11/10/2011

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