"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 26 de novembro de 2011

REFLEXÕES

O passado, o tempo e a ocupação da Rocinha

O passado já foi o futuro, e o presente é o passado e o futuro, sendo um e outro ao mesmo tempo, no incapturável segundo da existência.

Este preâmbulo é um exemplo da realidade fática do processo dialético, presente em todas as áreas do conhecimento. Somos ao mesmo tempo movimento e imobilidade.

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AS INVASÕES

O império romano iniciou o processo de queda, depois de 13 séculos de domínio, quando as tropas dos imperadores, ao ocuparem as cidades, destruíam tudo que viam pela frente, saqueavam e matavam os que resistiam à humilhação e ao vilipêndio.

Os exemplos são tão elucidativos ao longo da História, pontuadas pela tragédia da Revolução Francesa, onde as cabeças da família real e a dos responsáveis pelo terror, Robespierre, Danton e Marat rolavam em praça pública. Um espetáculo de sangue e revolução para depois todo o poder ser entregue ao Imperador Napoleão.

O general francês planejou as famosas guerras napoleônicas, derrubou reis, anexou terras e transformou as monarquias absolutistas em Estados nacionais. Mas, o que ficou marcado em sua biografia foi a derrota em Waterloo e o Código Napoleônico.

Para ficar no tempo mais presente, lembramos da ascensão e queda do Terceiro Reich (nazismo) e das invasões soviéticas e americanas no Afeganistão, todas fracassadas e que deixaram um rastro de destruição e mortes.

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A OCUPAÇÃO DA ROCINHA

O Estado democrático brasileiro, desde o nascimento da República, abandonou as comunidades carentes, que sem alternativa de moradia decente construíram suas casas nas encostas, nas margens dos rios e nos morros das cidades, primeiro com telhados de zinco e paredes de madeira, num segundo momento passaram a construir seus cômodos com alvenaria.

Na lacuna deixada pelo Estado, surgiram os líderes e chefões do tráfico e das milícias. Na falta do Estado, o privado tomou conta de tudo. Adotaram suas próprias regras de conduta, suas leis draconianas e sumárias, enfim dominaram através do medo e do assistencialismo de ocasião, à moda de Robin Hood.

Na outra ponta sinistra, políticos de olho nos votos em abundância, instituíram a bica d’água em épocas de eleição e a distribuição “gratuita” de tijolos, cimento e telhas para que os membros da comunidade construíssem suas casas mais resistentes as intempéries.

A vida é movimento e flexibilidade, a imobilidade e a estagnação são a decadência. Na ausência do Estado, o espaço foi ocupado pela criminalidade atual.

A instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e a midiática entrada dos soldados das Forças Armadas e da Polícia Militar na comunidade da Rocinha no Rio de Janeiro não pode se limitar apenas à entrada das forças de segurança, à moda dos exemplos descritos anteriormente, ressalvadas as comparações no tempo e no espaço.

Precisam vir acompanhadas de uma constante presença do Estado, em busca do tempo perdido. Políticas de educação, saúde, cultura, lazer, saneamento básico, proteção das áreas verdes e uma sustentável inclusão social precisam ser implementadas, caso contrário, o estado de coisas anterior voltará com todas as forças e mais organizado.

Os exemplos da História, no passado que já passou (assunto da moda), são temas inebriantes, os quais precisam ser analisados em profundidade pelos governantes, para que possam tomar decisões definitivas e não as paliativas de acordo com o momento presente das comunidades “pacificadas”.

Roberto Nascimento

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