"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 11 de dezembro de 2011

A ERA DO CINISMO REPUBLICANO

Um monumento ao cinismo: seis meses depois de inaugurar o mensalão, Lula promete combater os corruptos



“O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo”, fantasia Lula no começo do vídeo de 1min19 que reproduz um dos melhores-piores momentos do discurso de posse, lido no Congresso em 1° de janeiro de 2002.

Segundos depois, o orador promete acabar com a “cultura da impunidade”. A turma que lota o plenário da Casa dos Horrores aplaude de pé. Com um sorriso de Mona Lisa que não ensaiou, Marisa Letícia sorri e bate palmas.

Hasteado metros atrás da primeira-dama, Antonio Palocci sublinha os aplausos com o rosto sério de quem vai mandar prender todos os estupradores de sigilo bancário e os traficantes de influência.
Segue o palavrório. A câmera passeia de novo por Marisa Letícia e Palocci quando o presidente cita a frase que José Dirceu repetia de meia em meia hora antes que se descobrisse tudo: “Ser honesto é mais que apenas não robá e não deixá robá”, ensina. É preciso também “aplicar os recursos públicos com transparência”.

Nomeado para chefiar a Casa Civil, Dirceu virou chefe de quadrilha e aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal.
Depois do guerrilheiro de araque, Lula instalou no quarto andar do Planalto a afilhada Dilma Rousseff, que assumiu a gerência da fábrica de dossiês, e Erenice Guerra, quadrilheira que fundou a Casa Vil, desmoralizada de vez pela chegada de Palocci, que escapou da cadeia duas vezes.

O inventor do Brasil Maravilha também ornamentou o primeiro escalão com um buquê de prontuários que inclui Carlos Lupi, Silas Rondeau, Edison Lobão, Humberto Costa, Walfrido dos Mares Guia, Anderson Adauto, Benedita da Silva, Alfredo Nascimento, Wagner Queiroz, Wagner Rossi, Orlando Silva e Saraiva Felipe, fora o resto.

Discursos de posse costumam ser incorporados ao acervo do Museu da República. Revisitado nove anos depois, o trecho do falatório capturado pelo vídeo implora pela transferência para o Museu da Era da Mediocridade ─ mais precisamente para a ala do cinismo, onde poderá descansar ao lado de outras abjeções produzidas pelo sumiço da vergonha. Em 1° de janeiro de 2002, Lula já assumira o posto de Padroeiro dos Pecadores.

O esquema do mensalão fora inaugurado seis meses antes, na reunião em que ficou acertada a entrega de alguns milhões de reais ao PL de Valdemar Costa Neto, em troca do apoio da sigla ao candidato do PT.

Participaram da reunião, entre outros comparsas, Lula, José Alencar, José Dirceu e Valdemar. No dia em que prometeu combater os corruptos, Lula sabia que estava tudo pronto para institucionalizar a roubalheira impune.

Augusto Nunes, 11.12.2011

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