"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

DEPUTADO DO PSOL QUER CRIMINALIZAR A BÍBLIA

A imprensa está eivada de palavras malconstruídas, que designam erradamente o que pretendem designar. Xenofobia, sem ir mais longe. Quando os europeus manifestam sua ojeriza aos árabes, são logo tachados como xenófobos. Ora, fobia é medo. E não é exatamente medo que os europeus sentem pelos árabes. Mas asco. Mais ainda, este asco tampouco é dirigido aos árabes, mas aos muçulmanos. Há quem fale em islamofobia. A palavrinha continua errada. O que está em jogo não é o medo.

Da mesma forma, homofobia. Que significaria, segundo os dicionários, rejeição ou aversão a homossexuais ou à homossexualidade. A construção continua errada. Estas palavras constituem, em verdade, insultos ideológicos brandidos contra quem se sente em pleno direito de não gostar de estrangeiros, árabes ou homossexuais. Curiosamente, ninguém fala em negrofobia. Aí o insulto preferencial é racismo. Até mesmo os defensores da idéia de que raça não existe, na hora de insultar falam em racismo.

No que a mim diz respeito, não me sinto obrigado a gostar de ninguém, embora goste de muitas pessoas. Essa obrigação moral de gostar universalmente de todos é coisa de cristãos, e eu sou ateu. Não tenho restrições nem a árabes, nem a negros nem a homossexuais. Tive amigos palestinos e argelinos em meus dias de Paris. Tive também amigas persas e libanesas. Obviamente, não pertenciam àquela raça que ergue o traseiro para a lua para cultuar Alá. Com estes, não conseguiria conviver.

Tive amigos negros em meus dias de Rio Grande do Sul. Aliás, nem notava que eram negros. Só notei aqui em São Paulo, ao conviver, por questões profissionais, com negros racistas. Daqueles que jogam a moeda racial a todo instante. Se o garçom demora em atendê-los, lá vem o insulto: você é racista, está demorando porque sou negro. Ora, garçons demoram também para atender brancos.

Quanto a homossexuais, convivi com eles desde meus dias de adolescente. Sempre os vi como rebeldes que não aceitavam a ordenação social vigente. Falo no passado: agora querem casar na igreja, de preferência com véu e grinalda. Mas há um tipo de homossexual que me desagrada profundamente. É essa caricatura de mulher, a bicha. Da mesma forma, convivo tranquilamente com lésbicas. Mas há um tipo de lésbica que não suporto. É aquela caricatura de homem, estilo caminhoneiro. Penso que, para ser homossexual, ninguém precisa renunciar às características de seu sexo.

Assim sendo, defendo o sagrado direito de qualquer pessoa não gostar de árabes ou muçulmanos, de homossexuais ou heterossexuais, de negros, brancos, amarelos ou azuis. Não gostar é direito de cada um. O que não se admite é desrespeitar alguém por questão de religião, pele ou preferência sexual. Com uma nuança: me reservo o direito de crítica a religiões. Criticar não é desrespeitar.

Em meio a isto, está surgindo no Brasil um movimento que pretende proibir qualquer pessoa de não gostar de homossexuais. Há horas venho afirmando que a militância homossexual, que pretende proibir qualquer crítica ao homossexualismo, mais dia menos dia iria tropeçar com a Bíblia. Aconteceu.

Um projeto de lei anti-homofobia pretendeu proibir toda e qualquer crítica ao homossexualismo. Ora, o Levítico é claro: homossexuais devem ser mortos. Proibir críticas ao homossexualismo significa proibir a Bíblia. Verdade que há uma brecha: se um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher. Quanto às lésbicas, nada contra. Profitez-en, jeunes filles!

A senadora Marta Suplicy, que não abre mão do voto dos crentes, abriu uma exceção ao projeto de lei. Nos templos, seria permitida a condenação do homossexualismo. Com isto deixa claro que, fora dos templos, qualquer crítica ao homossexualismo está sujeita às penas da futura lei. Se um padre ou pastor ler o Levítico em um templo, tudo bem. Se ler em praça pública, cadeia nele.

Quem está patrocinando esta tal de legislação anti-homofóbica, como também o malsinado kit anti-homofobia, é o PT e adjacências. E só podia ser. Com a queda do muro de Berlim e o desmoronamento da União Soviética, as viúvas do Kremlin, saudosas da finada luta de classes, criaram agora outros conflitos. Se você for pesquisar os arquivos de jornais – e eu fiz esta pesquisa – verá que na década de 90 a palavra racismo se multiplica por mil na imprensa. Se a luta de classes obsolesceu, vamos agora jogar raça contra raça. Se isto não bastar, jogamos sexo contra sexo. Sem lutas, a Idéia – como se dizia no início do século passado – não avança.

O baiano Jean Wyllys de Matos Santos, que se elegeu deputado pelo PSOL graças à sua exposição no programa "Big Brother Brasil", vai mais longe. Hoje, em entrevista à Folha de São Paulo, falou sobre sua decepção com a suavização do projeto que trata da criminalização da homofobia. "Sabe o que é inaceitável? São as igrejas, por exemplo, financiarem programas de recuperação e de cura de homossexualidade. E o pastor promover esse tipo de serviço nos seus cultos. Homossexualidade não é doença."

Claro que não é. Mas vá alguém convencer um pastor de que não é doença! A Bíblia vai mais longe. Não é doença, é abominação. É normal que o pastor, em seu imenso amor pela humanidade - e pelos dízimos -, queira curar os doentes da abominação. Jean Wyllis quer que toda igreja que prega cura dos gays na TV seja punida. Eleito pela participação em um medíocre programa televisivo – aliás, qual não é medíocre? – o deputado sabe muito bem do que fala. Para um público de templo, o pastor pode pregar à vontade. O que não pode é pregar para um público de televisão. Pode acabar sendo deputado.

- As religiões têm liberdade – diz o parlamentar -. Está na Constituição. Os pastores são livres para dizer no púlpito de suas igrejas que a homossexualidade é pecado, já que assim o entendem. Entretanto, eu não acho que os pastores que estão explorando uma concessão pública de rádio e TV tenham que aproveitar esses espaços para demonizar e desumanizar uma comunidade inteira, como a comunidade homossexual.

Só porque a concessão é pública, os pastores devem ser censurados. Considero uma doença considerar homossexualismo como doença que deva ser tratada. Mas o que o deputado está afirmando, no fundo, é que a Bíblia pode ser lida nos templos. Mas não na televisão.

- Se incitarem a violência por meio de um entendimento de que a homossexualidade é uma degeneração, uma abominação, uma doença, um pecado grave e mortal, aí tem que ser enfrentado. E tem que ter janeruma lei que preveja esse tipo de crime.

O deputado quer criminalizar a Bíblia. Não pelos massacres que Jeová ordena, mas por questões menores, tipo comportamento sexual. Não vai ser fácil.

janer cristaldo

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