"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

DÍVIDA FAMILIAR BRASILEIRA DEVE ATINGIR 51% DOS SALÁRIOS EM 2012

Estudo da Consultoria Tendências, reportagem de Valdo Cruz e Sheila Damorim, Folha de São Paulo de terça-feira 10, revela que o endividamento das famílias brasileiras deve bater o recorde em 2012 e atingir 51% da massa salarial. Como o volume de salários oscila em torno de 1 trilhão e 100 bilhões de reais, as dívidas vão somar aproximadamente 550 bilhões.

Em 2011, acentua a matéria, corresponderam a 47% dos salários pagos no exercício. Não é difícil calcular o total da massa de vencimentos.
A arrecadação do FGTS (8% das folhas) deve ter fechado em 61 bilhões de reais. Multiplicando-se por 12,5 podemos estimar o rendimento dos celetistas na escala de 750 bilhões. Mas há os servidores públicos e os prestadores de serviços, avulsos. Além disso, o rendimento do trabalho significa 35% do PIB.

A Consultoria Tendências produziu um gráfico comparando o comprometimento da renda dos assalariados brasileiros com os de outros países. Nos EUA, por exemplo, é de 124%. Como o PIB lá é de 15 trilhões de dólares e a massa salarial pesa 60% (o oposto da relação brasileira) conclui-se que as famílias norte-americanas devem 12,4 trilhões.

Mas é indispensável considerar que, em nosso país, são 60 milhões de famílias. Nos EUA 100 milhões de unidades familiares. A população lá é de 300 milhões de habitantes. Aqui de 200 milhões. Na França, a apropriação é de 99%. Na Alemanha de 97. No Reino Unido, a mais alta de todas, de 165%.

Mas ainda não é esta a questão essencial. A questão fundamental está na diferença dos juros cobrados. Nos EUA, de dois pontos apenas, ao ano. Em nosso país, há diversas taxas: 4% ao mês para o crédito junto aos bancos; 4,5% no comércio; de 6 a 8% nos cheques especiais. De 10 a 12% no refinanciamento de compras por cartões de crédito.

Nossas taxas são mensais. Para uma inflação anual de 7%, como o IBGE revelou há poucos dias, os sistemas comercial e financeiro cobram quase dez vezes mais.

Muito diverso, portanto, torna-se o efeito das dívidas familiares brasileiras com as dívidas das famílias de outros países.

No Brasil, os juros dos cheques especiais e dos cartões de crédito tornam os débitos na realidade impossíveis de resgatar. Uma calamidade. Tanto assim que a inadimplência subiu de 5,7, em 2010, para 7,3% do volume de crédito em 2011. A inadimplência, aliás, aumenta com a maior injeção de crédito no mercado.

Mantido o mesmo ritmo, agora, este ano, ela deve alcançar nível maior que o atingido no ano passado. Mas além desse aspecto, existe ainda um outro, consequência dos juros excessivos: a retração natural do consumo. Isso já se evidenciou no ano passado. As vendas cresceram 5% em relação a 2010, para uma inflação de 7 pontos que tem de ser somada, para efeito mercadológico, ao índice demográfico de 1,2%.

A comercialização, assim, recuou 2 pontos em relação à inflação e mais 1,2% tomando-se como base uma população dois milhões de pessoas maior. Esse é o panorama geral visto sob a lente de janeiro.
A Tendências, na versão de Valdo Cruz e Sheila Damorim, assinala que a política do governo Dilma Rousseff joga na elevação do consumo para manter adequado o nível de emprego e o crescimento do PIB.

Porém, digo eu, para que o consumo atenda a meta desejada é indispensável uma revisão nos juros cobrados. Porque aplicar uma taxa que supera de longe o ritmo inflacionário não vai contribuir positivamente para a economia. Muito menos para o desenvolvimento do país.
Os juros brasileiros são estratosféricos.

19 de janeiro de 2012
Pedro do Coutto

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