"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 12 de fevereiro de 2012

O IRÃ JÁ É, AGORA, UMA CRISE DE GRANDES PROPORÇÕES

O palco está armado para elevar o petróleo a 200 dólares o barril.

Justo quando parecia que a situação no Golfo Pérsico, mais particularmente no Estreito de Ormuz, ia dar uma trégua, toda a atenção se volta de novo para o Irã. Os motivos são três e tudo aconteceu na semana passada:

Primeiro, foi o lançamento bem sucedido de um satélite considerado, na região, como de inteligência militar, por Teerã.

Segundo, o líder supremo do islamofascismo persa, o aiatolá Ali Khamenei, no seu discurso mais duro até hoje, desafiou as sanções a serem impostas pela ONU e prometeu retaliação aberta, caso elas entrem em vigor, o que, na prática, corresponde a uma declaração de guerra contra o Ocidente.

E, terceiro, na quinta-feira da semana passada, o Secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, expressou a preocupação de que, caso a situação perdure, Israel poderá desfechar um ataque aéreo contra as instalações nucleares iranianas dentro de um mês, no máximo. O Irã vem mobilizando freneticamente componentes essenciais de seu programa nuclear para instalações subterrâneas para resistir e suportar tal ataque.

Se tudo isso seguir o pior curso, que é o da guerra, um aumento do custo do petróleo será inevitável, mesmo com o ocidente – principalmente os EUA – tendo já reduzido drasticamente suas compras no Golfo.

Além do mais, agora, a União Européia, decidiu também parar de importar petróleo iraniano a partir de 01 de julho o que inviabilizará qualquer possibilidade por parte de Teerã de combater a crise econômica doméstica que se avoluma.

No entanto, o tom desafiador do discurso de Khamenei, numa reunião de ‘oração’ numa mesquita persa, faz pensar que a teocracia iraniana não vai esperar que tais coisas aconteçam e é, justamente, tal suspeita que torna o país já uma crise de grandes proporções.

A IMINÊNCIA DE FECHAMENTO DO ESTREITO DE ORMUZ

Em função dessas perspectivas, o que está sendo feito?

Washington, no momento, tem pouca capacidade de alavancar sua capacidade de moderar uma escalada imediata na capacidade bélica israelense (a única coisa que pode ser feita, por enquanto, são esforços diplomáticos) e pouca influência, mesmo assim indireta, sobre possíveis decisões militares da União Européia e dos membros da OTAN. Obama diz que não deseja o conflito, mas que não poderá fazer nada para impedi-lo caso Teerã opte pelo confronto militar fechando o Estreito de Ormuz.

Atenta e, acima de tudo preocupada, a Arábia Saudita é um coringa na manga do Ocidente, pois o país árabe não vai tolerar um Irã nuclear.

Para agravar o quadro, há amplas indicações de que as inteligências, americana e israelense, já concluíram que o Irã será capaz de desenvolver ogivas nucleares nos próximos 18 a 24 meses. Alguns componentes desse processo poderão estar disponíveis antes disso, mas é preciso considerar que a arma nuclear, para ser efetiva, tem que ser montada num foguete e viajar até o alvo escolhido e, para isso, o Irã não dispõe ainda de domínio tecnológico, logística, e infraestrutura para realizar sua possível intenção de ataque.

Israelenses e sauditas não parecem dispostos a esperar e pagar para ver. Mas o Ocidente, mesmo em face te tais evidências, parece ter enveredado por um caminho arriscado... O objetivo ocidental não é de jeito nenhum o programa nuclear iraniano (sobre o qual existe cada vez menos controle externo), mas a aposta na criação de uma instabilidade doméstica de tal ordem que promova a derrubada do regime.

Não se trata, também, do fim da teocracia. Afinal, com ou sem Mahmoud Ahmadinejad como presidente ou Khamenei como líder religioso supremo, o Irã continuará a ser um país dominado pelos xiitas e a religião no país ainda deverá controlar a política e o clero a sociedade por muito tempo. O que o Ocidente está buscando é nada mais que uma aproximação com facções xiitas mais moderadas para distender a realidade cultural iraniana e restringir o fundamentalismo islâmico radical. Se isso não for possível, tudo indica que somente uma guerra muito devastadora poderá começar a por as coisas nos seus devidos lugares.

Assim, na medida em que a iminência do conflito aumenta, também aumentam os preços do petróleo bruto. E para Teerã, no futuro próximo, só existe uma possibilidade de aventura militar: o fechamento do Estreito de Ormuz.

Quanto a isso tem havido muita desinformação e, por isso, aqui vão os fatos. Num dia normal, entre 18 a 29% de todo o petróleo bruto que vai para o Ocidente do mundo passa por Ormuz. Conforme informes da OPEP, o ponto mais estreito de Ormuz é de 21 km de largura, mas a largura útil de navegação não passa de 2 km, amortecidos por uma zona de 3 km de cada lado.

De grande importância, no entanto, é o fato de que a maior parte da capacidade de exportação de óleo cru da Arábia Saudita também e exportado pela costa ocidental da península arábica, obrigatoriamente passando pelo estreito de Ormuz, principalmente os eventuais excessos obtidos pelo aumento de extração saudita para compensar a falta do óleo persa (é o óleo que, levado ao mercado, pode compensar os picos de demanda incomuns ou de eventuais cortes de oferta em outros locais).

Se a Arábia Saudita, de repente, se ver impedida de exportar o seu óleo pelo estreito, isso irá criar sem dúvida um desequilíbrio no mercado global que fará com que os preços da mercadoria subam – o que já está lentamente acontecendo mesmo antes da existência de qualquer conflito aberto e declarado.

A pergunta que não quer calar é: o quanto ruim a situação poderá ficar? Com o petróleo a 200 dólares o barril, o americano deverá pagar em torno de 6 dólares pelo galão (3,6 litros) na bomba, ou seja, praticamente o que o palhaço brasileiro já paga hoje, graças ao famigerado monopólio estatal que transformou a PTROBRAS na maior cornucópia do governo.

Com o fechamento do Estreito de Ormuz, é de se esperar uma subida no valor do barril de 30 a 40 dólares em questão de horas... Apesar dos estoques extraordinários tanto nos EUA como na União Européia, a OPEP deverá introduzir aumentos progressivos nas bolsas de mercadorias e futuros. Tais valores variam conforme a disponibilidade do petróleo a ser vendido e comprado e com base nos estoques existentes nas principais nações compradoras (EUA, EU, e CHINA).

A perspectiva é de que, para cada dólar de aumento no custo do barril de petróleo, o preço da gasolina aumente 3,6 centavos de dólar na bomba e, na medida em que o preço do barril se aproxime de 200 dólares, o galão da gasolina, nos EUA, se aproximara dos 6 dólares. Na UE o aumento será ainda maior. Não há dúvida de que tal situação vai travar a recuperação econômica nos dois lados do Atlântico e essa é na essência a ameaça que fez o aiatolá Khamenei. Só não disse que, ao fazer isso, o Irã dará ao Ocidente motivos mais do que suficientes para a guerra em grande escala contra o país persa.

Para o Ocidente, a incerteza é pior do que a ameaça verbal do islamofascismo persa e ela vai aumentar até pelo menos a chegada de julho próximo, pois os mercados não deverão esperar tanto.

Sábado, 12 de janeiro de 2012
francisco vianna (da mídia internacional)

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