"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

SEGURANÇA, VIOLÊNCIA E ME ENGANA QUE EU GOSTO

"A Polícia Civil brasileira (em especial a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro) está de parabéns pelo encerramento de mais de vinte e oito mil inquéritos policiais referentes a homicídios não solucionados desde 2007. O feito histórico, correspondente à conclusão de 96% dos inquéritos pendentes no Estado é um marco na história das polícias investigativas mundiais e um privilégio só disponível a nós brasileiros e fluminenses. Em paralelo, quero agradecer a excepcional participação o Ministério da Justiça, das Procuradorias Federais e Estaduais e o desempenho monumental dos grandes presidentes que essa nação brasileira já teve: Lula e Dilma.

Sem eles, com seu papel fundamental na liberação de verbas para a segurança pública, nada disso teria sido possível. Seu principal parceiro aqui no Rio, o governador Sérgio Cabral, também estaria de mãos atadas e impedido de cumprir o eu papel exemplar na condução de uma política de segurança pública vitoriosa.

VIVA LULA! VIVA DILMA! VIVA SÉRGIO CABRAL! OS SALVADORES DO BRASIL E DO RIO DE JANEIRO!"

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Pois é, leitor do Visão Panorâmica, você não mergulhou em um universo paralelo ou numa realidade alternativa. O que você leu acima é nada mais nada menos do que a mais pura e simples ironia. Uma ironia digna de quem não tem mais a menor paciência com essa corja que tomou de assalto o país e está destruindo as instituições republicanas aos poucos.

O tal mutirão existiu e os números de casos “conclusos e fechados” é verdadeiro. Foram mesmo 96%. O grande detalhe desse excelente número é que esses casos foram meramente arquivados sem que se chegassem a autoria dos crimes.

É isso mesmo que você leu: Nada mais, nada menos do que 96% dos inquéritos policiais tratando de homicídios que tramitavam nas delegacias do Rio de Janeiro desde 2007 foram simplesmente encaminhados ao arquivo com a marcação de “conclusos”. Muitos deles são casos encerrados sem que uma única diligência tenha sido efetuada e com a identificação de criminosos feita assim: “Yara de Tal”; “João Gordo”; “Sicrano de Tal”; etc…

Nacionalmente, o tal mutirão comandado pelo Ministério da Justiça petista, conseguiu a “façanha” de elucidar 3% dos crimes cometidos. Isso não chega sequer à marca tradicionalmente alcançada pela nossa incompetente e desaparelhada Polícia Civil (que é de 5%). O que dá, a esse arremedo de trabalho, a bela qualificação de um “belo mutirão de M”.

Envergonhada a Promotoria do Rio nega o arquivamento em massa, mas os números apresentados pelo Estado e pelo Ministério da Justiça falam, no computo geral, do estrondoso fracasso do tal mutirão.

Um levantamento mostrou que, descontado o desaparelhamento criminoso das delegacias (onde falta até papel para os caras escreverem) e a falta crônica de equipamentos que permitam uma investigação minimamente dentro dos parâmetros policiais modernos; é a preguiça a principal causa da falta de elucidação dos crimes cometidos no Rio e no Brasil.
Muitos policiais recusam-se a efetuar diligências ou perseguir suspeitos. Há denúncias de facilitação de fugas por mero descaso ou pela pura e simples recusa em “estourar o horário” na perseguição de um criminoso.

A elucidação de crimes é tão baixa no Brasil e, em especial, no Rio de Janeiro que até varas criminais foram fechadas pela falta do que fazer. Isso mesmo. Não havia o que ser julgado, já que os inquéritos não eram concluídos ou continham tantos erros processuais e de investigação que não podiam dar origem a um processo criminal.

A quantidade de casos arquivados “a moda” só não foi maior porque o Judiciário recusou o arquivamento de 69 mil inquéritos e os enviou de volta para as delegacias, com ordens para que fossem refeitos.

Então, caro amigo leitor, você ainda não está convencido de que vivemos a política do “me engana que eu gosto”? Como podemos nos aquietar diante de tal ineficiência e de tal falta de competência de autoridades que adoram alardear as “grandes conquistas” de seus governos?
Estará o brasileiro fadado a ser sempre um espectador passivo de sua própria desgraça e um otário simplório nas mãos dos canalhas que manipulam os seus cordões?

E ainda temos que aturar imbecis fazendo campanha pelo desarmamento, como se isso fosse a causa da violência e a chave para uma sociedade mais segura. É a impunidade, fomentada por esse retrato miserável de nossas polícias investigativas que alimenta a violência e dá asas aos marginais.

Resta saber até quando a nação vai se calar diante do morticínio orquestrado por políticos que desejam apenas enriquecer e aproveitar ao máximo as mordomias e vantagens de um cargo público.

O que você acha disso?
24 de fecvereiro de 2012
visão panorâmica

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