"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 10 de março de 2012

APOIO AOS CICLISTAS PELADOS...

Dimenstein dá apoio a ciclistas pelados e diz que isso, sim, é tirar a roupa por bons motivos… Pois é… Sempre pensei numa causa melhor…

Pois é. Eu sei que há quem deteste essa minha mania de chamar as pessoas pelo nome. Questão de honestidade. Vamos lá.
Eu espero que Gilberto Dimenstein, que se considera o síndico de São Paulo, jamais adira ao texto de humor. Quero que ele continue a escrever coisas com toda aquela seriedade característica. Porque assim se pode rir a valer.

O homem escreve um texto intitulado “Pelados por São Paulo”, em que empenha todo seu apoio a uma passeata de ciclistas nus. Reproduzo seu texto em vermelho e comento em azul.
Num momento espantosamente inteligente, Dimenstein chama o carro de “praga urbana”, o que deve levar os talibikers e os fascisbikers ao delírio — menos quando eles têm de pegar o carrão e se mandar para o Litoral Norte, é claro. Vamos rir um pouco.
*
É um inteligente jeito de tirar a roupa para ajudar a cidade de São Paulo. Neste final de semana, um grupo de ciclistas desfila pelas ruas de São Paulo no protesto batizado de Pedalada Pelada. É uma manifestação que já vem ocorrendo faz algum tempo, mas, neste ano, tem um significado mais forte.

Atenção para a seguinte frase, senhores: “É um inteligente jeito de tirar a roupa para ajudar a cidade de São Paulo.” Isso nos leva, por império da lógica, a supor que:

a) há um jeito não inteligente de tirar a roupa por São Paulo. Qual?

b) tirar a roupa ajuda, de fato, a consertar São Paulo;

c) outros modos de tirar a roupa — inclusive para o nheco-nheco — são menos nobres do que… por São Paulo.

O evento ocorre num momento especial. A morte da bióloga Juliana Dias, na avenida Paulista, deu origem a uma manifestação nacional. A cidade viveu o pânico da falta de combustível nos postos, revelando a dependência doentia do carro. A chantagem dos caminhoneiros mostrou nossa fragilidade. Os congestionamentos cada vez maiores, apesar de todas as obras, fazem com que ideias difíceis de engolir como o pedágio urbano sejam mais ventiladas. Vemos como o rodízio está perdendo o efeito.
É inacreditável. É esse tipo de raciocínio que alimenta os talibikers e os fascisbikers. Ainda que São Paulo tivesse um décimo dos carros que tem, a chantagem dos caminhoneiros seria igualmente inadmissível.
Este senhor posa pra cá e pra cá de “especialista”, converte seus achismos em solução técnica e alimenta a militância de outros mais ignorantes do que ele próprio em questões urbanas e de economia.

Crescem as campanhas contra a violência contra o pedestre. Começamos a memorizar quantas pessoas são mortas ou acidentadas por dia.
É preciso uma, inclusive, contra a violência dos ciclistas.

Cada vez mais pessoas vão percebendo que o carro é uma praga urbana e deve ser combatido, limitado, em nome de um mínimo de civilidade.
E, assim, todos devem ser treinados a andar mais a pé, metrô, ônibus, bicicleta. Ou compartilhar o táxi ou veículo particular.

Sua fala é uma estultice. POR QUE GILBERTO DIMENSTEIN, ESTE SÁBIO, NÃO ESCREVEU UM TEXTO CONTRA O GOVERNO LULA QUANDO ESTE DECIDIU BAIXAR OS IMPOSTOS DOS CARROS E AMPLIAR O CRÉDITO? Onde estava Dimenstein? Por que não usou o tempo que tem na CBN e suas colunas na Internet para dizer algo assim:

“Pô, eu compreendo que o país precisa proteger empregos na crise e que isso beneficia os mais pobres; eu entendo que temos de manter aquecido o consumo nesse momento, mas o carro é uma praga urbana. Presidente Lula, presidente Dilma, zerem o imposto das bicicletas. Lancem o programa ‘Minha Bicicleta Minha Vida’. Sei que haverá desemprego, mas é tudo pelo bem do planeta”.

O poder público é demandado a tomar mais medidas para um trânsito menos violento. Daí que, neste ano, a Pedalada Pelada tem um significado ao mostrar que, na violência cotidiana do trânsito, estamos todos nus.
Nooosssaaaa! Não é que eu arrepiei com esse fecho, gente?! Eu jamais recomendaria a alguém com tanto entusiasmo uma passeata a que eu não fosse… Gilberto Dimenstein ameaça pedalar pelado?
*
É a segunda vez que São Paulo mostra, neste ano, como tirar a roupa com inteligência por uma causa. Um grupo de amigos deixou-se fotografar sem roupa em solidariedade a uma amiga que teve a privacidade invadida e as fotos divulgadas na internet.
Só se falou em outra coisa! Exibicionistas sempre buscam um pretexto para ficar pelados. Nem que seja salvar vidas…

Evidentemente, há leis que podem impedir o desfile dos pelados. Ruas são espaços públicos onde crianças transitam, por exemplo. Dá pra enquadrar esses Manés de várias formas, a começar pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, que Dimenstein deve apoiar.
Mas eu defendo que deixem os pelados à vontade, curtindo o seu selim em público (imagino o desconforto tanto de homens como de mulheres, por razões distintas, mas combinadas). Cada um com o seu prazer. Não julgo! É mais uma chance que a sociedade brasileira tem de conhecer estes valentes, que querem mudar o mundo. Num dia, eles paralisam São Paulo. No outro, transformam seus pingolins e pererequinhas em categoria de pensamento.

A única coisa chata disso tudo — no Brasil e no mundo (e uma turma que costumava tirar a roupa da UnB foi a prova dos noves) — é a seguinte: as pessoas que realmente valem a pena não ficam peladas, e as que ficam não valem a pena…

10 de março de 2012
Reinaldo Azevedo

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Minha grande alegria é que Reinaldo Azevedo é um homem sério, e repudia essa bandalha que invadiu o Brasil. Quando digo sério, quero dizer perfilado ao lado da razão e do bom senso de uma direita sensata.
Aliás, o que seria da direita, se a sua inteligência, dele, estive servindo a esquerda...
Com textos primorosos e melhor coerência, além da competência para transformar coisas sérias em coisas mais sérias ainda, sem perder o magnífico senso de humor, capaz de desmontar qualquer arrazoado, estúpido ou não, como se pode depreender desse texto, acredito que consegue transformar o 'lado de lá' num grande e silencioso vazio, ou quando muito numa multidão de tartamudos.
Ainda bem que ele se senta na arquibancada da direita...
m.americo

Nenhum comentário:

Postar um comentário