"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 14 de março de 2012

RELAÇÕES TENSAS, APESAR DA FESTA

Não se espantou quem assistiu a chegada de Dilma Rousseff, ontem, ao Congresso, para ser homenageada com o Prêmio Berta Lutz, destinado a exaltar as mulheres que se destacam nas campanhas feministas. Mesmo chegando com trinta minutos de atraso, a presidente cumprimentou efusivamente José Sarney, Marco Maia e muitos parlamentares que a esperavam na entrada do Salão Negro, junto com dezenas de senadoras e deputadas. Além do vice-presidente Michel Temer. Até o ex-líder do governo, Romero Jucá recebeu afagos, apesar de demitido na véspera.

O singular na solenidade, além dos tradicionais beijinhos para todo lado, foi que nenhum dos presentes demonstrou o menor constrangimento, a começar por Dilma, apesar da delicadeza que marca o relacionamento entre Executivo e Legislativo. Os presidentes da Câmara e do Senado andam agastados com Dilma. Michel Temer, também. Para não falar de Jucá.

À margem da festa, dos papagaios e das papagaias de pirata, vistos em profusão, acima e além dos discursos protocolares, registre-se que desde sua posse a presidente Dilma não havia retornado ao Congresso. Como também jamais enfrentou situação tão incômoda no diálogo com as forças partidárias que a apóiam. Sua presença no plenário do Senado não terá sido bastante para desfazer tensões.

O interregno dessa celebração do papel das mulheres na vida nacional, na manhã de ontem, não foi suficiente para afastar a sombra de mais dias de tensão entre o governo e os partidos que o apóiam. Dilma abriu brechas no PMDB a ponto de a bancada de deputados do partido haver-lhe enviado manifesto de protesto contra o que chamaram de discriminação favorável ao PT. Para não falar na súbita defenestração de Romero Jucá da liderança do governo, substituído por Eduardo Braga, não propriamente nas graças de dirigentes como José Sarney e Renan Calheiros.

Mesmo disposta a prestigiar o PDT e o PR, devolvendo a seus parlamentares os ministérios do Trabalho e dos Transportes, obstáculos ainda turvam o dialogo entre a presidente e esses partidos.

Nesta semana poderão ser votados na Câmara e no Senado projetos polêmicos de interesse do governo. Caso sobrevenha outra derrota, como no caso da rejeição de Bernardo Figueiredo para a Agencia Nacional de Transportes Terrestres, pelo Senado, fica evidente que o palácio do Planalto irá retaliar.

José Sarney e Marco Maia despejaram monumentais elogios sobre Dilma, do tipo “popularidade ímpar”, “excepcional capacidade política”, “criatura extraordinária”, “grande liderança” e outros. Mais beijinhos, abraços e sorrisos, entre diplomas, placas e flores, mas a pergunta feita por parlamentares, claro que em surdina, era a respeito de qual o próximo lance nesse delicado jogo de xadrez. Nada de xeque-mate, mas, quem sabe, xeque à rainha?

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REAÇÃO NA SOMBRA

De público, nenhum companheiro confirmará, mas a verdade é que no PT não apenas paulistano e paulista, mas nacional, registram-se sinais de que se Fernando Haddad não decolar nas próximas pesquisas, poderá não chegar a outubro como candidato.

A situação do ex-ministro da Educação complicou-se a partir da decisão de José Serra candidatar-se a prefeito. Líderes petistas começam a refletir que se Haddad perder de forma espetacular, sequer indo para o segundo turno, a derrota fatalmente se refletirá nas eleições gerais de 2014. Depois de chegar a dispor da maior bancada na Câmara dos Deputados, o que aconteceria se o PT perdesse a posição? Melhor aguardar.

admin | Carlos Chagas | 2 comentários | quarta-feira, 14 de março de 2012 | 04:26
Emílio Ibrahim destrói a ideia de Eduardo Paes de demolir elevado
Pedro do Coutto

Em excelente artigo publicado na edição de O Globo de terça-feira 13, o engenheiro Emílio Ibrahim, oportunamente, destruiu, em termos de pura lógica, o absurdo projeto do prefeito Eduardo Paes de demolir o elevado da Perimetral. Ibrahim iluminou o problema e – aí sim – demoliu a ideia que, além de desfigurar a paisagem exaltada por Lúcio Costa, em carta que lhe enviou, bloquearia a conexão norte-sul da cidade e o acesso à ponte Rio Niterói.

Eduardo Paes, ele próprio já disse, deseja revitalizar a zona portuária através do oferecimento de condições de infraestrutura para empreendimentos imobiliários. Está completamente por fora. Quem assegura o êxito de empreendimentos imobiliários é o consumo. Não o poder público. A Avenida Rodrigues Alves não é Porto Madero, Buenos Aires.

Grande secretário de Obras dos governos Carlos Lacerda e Chagas Freitas, por mais uma coincidência do destino, coube a Emílio Ibrahim iniciar a obra, em 62 e concluí-la em 79. A conclusão, no segundo governo de Chagas, teve que superar um obstáculo. O ministro da Marinha, Adalberto Barros Nunes, resistia à perspectiva de a pista passar sobre o Quartel dos Fuzileiros Navais.

Chagas Freitas e Emílio Ibrahim, então, final do governo Ernesto Geisel, colocaram em pauta a solução de gradear o elevado naquele trecho. Não se registrou problema algum ao longo dos 33 anos que separam o fim da obra com os dias de hoje. Eduardo Paes quer destruir tudo isso.

Por uma coincidência também, testemunhei, como repórter do Correio da Manhã, a assinatura do convênio que viabilizou a obra. Foi entre o governador Carlos Lacerda e o ministro Virgílio Távora, dos Transportes. Governo João Goulart, ano eleitoral. Na antiga Guanabara, defrontavam-se, para vice-governador, Eloi Dutra, apoiado por Jango, Lopo Coelho, por Lacerda.

Mas Goulart liberou Virgílio para destinar os recursos iniciais, apesar do confronto e da cerrada oposição que o governador lhe fazia. Lacerda disse na ocasião, sou testemunha: “Receba ministro o agradecimento, e o transmita ao presidente, de quem, como eu, não agradece com facilidade. Dezoito meses depois, Lacerda se envolveria profundamente no golpe militar que derrubou Goulart. Mas esta é outra história.

Coincidência existem, é claro. Todos nós nos lembramos de tantas ao longo da vida. Quando Chagas Freitas, em 79, inaugurou o elevado da Perimetral, fui um dos primeiros a passar pela pista. Era diretor da LBA e saia de uma entrevista no programa O Povo na TV, de Wilton Franco, SBT. Dava 14 pontos, apenas 3 abaixo da Globo. Sucesso de audiência. Dialoguei com um dos entrevistadores: era Roberto Jefferson. Wagner Montes integrava o elenco de Wilton Franco. Bem, isso ficou no passado.

A obra se prolongou através de 17 anos. Cito o exemplo para mostrar como são lentas as realizações brasileiras, exceto as que marcaram os anos dourados de JK. O custo da lentidão é elevadíssimo. Não só acarreta o encarecimento, como diminui o retorno econômico e social das obras. Maior rapidez na execução, maiores os efeitos do que foi construído.

Eduardo Paes quer derrubar todo um esforço imenso, uma solução de engenharia fantástica, basta observar como o elevado se conecta com a ponte Rio Niterói e também, como frisou Emílio Ibrahim, com a Avenida Brasil.

O prefeito parece desejar submergir o trânsito nas áreas centrais do Rio. Impressionante desconhecimento da realidade. As manifestações contrárias vêm de todos os lados. Mas Eduardo Paes insiste como uma estranha compulsão no sentido do desastre. Mas agora, diante dos argumentos em série de Emílio Ibrahim, o prefeito terá que recuar. Prosseguir na intenção tornar-se-ia até uma alucinação. O artigo publicado no Globo é uma peça em defesa da cidade.

14 de março de 2012
Carlos Chagas

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