"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 1 de abril de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

Uma aventura chamada Roraima

Roraima sempre foi uma aventura na floresta. Chamava-se Rio Branco. Um tampão tirado da testa do Amazonas, em 43, por Getulio Vargas, para criar o território federal. Só em 62 virou Roraima (“Serra Verde”), em homenagem ao monte Roraima (2.739 metros), na bela serra de Pacaraima, entre a Guiana e a Venezuela.

Menor população do País (300 e poucos mil, Boa Vista com menos de 200 mil), Roraima foi salva por pouco. Ingleses e holandeses, com suas Guianas ali perto, e espanhóis, com a Venezuela, sempre ficaram de olho gordo.

Em 1904, apesar da brilhante defesa feita por Joaquim Nabuco, a Inglaterra, usando o rei da Itália como árbitro, tomou do Brasil “a maior parte das ricas terras orientais do lago Pirara, incorporando-as à Guiana Inglesa”.

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ÍNDIOS E GARIMPEIROS

É a terra dos garimpeiros. Lá quem manda são os garimpeiros. Pagam tudo com ouro e pedras. Seis da tarde, aqueles homens rudes, queimados de sol, com bolsas e sacolas, brotam na porta do aeroporto como formigas.

Chegam em dezenas de pequenos aviões, minúsculos, que voltam dos garimpos ao cair da tarde. Uma avalanche e uma festa. Chegam falantes, alegres, eufóricos, febris, com as novas frentes de garimpos na floresta.

São extensas jazidas de ouro, cassiterita e pedras preciosas, que atraem grande número de garimpeiros clandestinos, sobretudo na fronteira da Venezuela, em permanente conflito com os índios.

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NEUDO E PORTELA

Roraima virou Estado com a Constituição de 88. Primeira eleição para governador, em 90: ganhou o brigadeiro Ottomar Pinto, pernambucano de Petrolina, do PTB, que tinha sido governador nomeado do território, de 80 a 84, e depois deputado federal de 86 a 90.

Ottomar derrotou o engenheiro Neudo Campos, do PRN, filho de Roraima, que logo depois passou para o PTB e em 94 se elegeu governador, pelo PPB, com o vice Flamarion Portela. Em 98, os dois se reelegeram. Em 2002, Portela foi eleito governador e, com a vitória de Lula, passou para o PT.

Em 98, na reeleição, quase Neudo explode, quando foi denunciado o esquema de corrupção na Condesaima (Companhia de Desenvolvimento de Roraima), caixa-2 da reeleição. Mas se salvou.
Em 2009, Neudo Campos e Flamarion Portela ficaram na crista da onda do bruto escândalo apurado pela Polícia Federal. Neudo foi preso com mais 40 na “Operação Gafanhotos”: um rombo de R$ 230 milhões, através de funcionários fantasmas.

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TERRA DE NINGUÉM

Mais de 60% do território são ocupados pela Floresta Amazônica. Apenas 82 mil quilômetros quadrados são áreas livres, onde vive a população. Nas matas, a terceira maior concentração de índios do País: 38 mil, de 8 etnias.

Só os ianomâmis, maior reserva indígena nacional, ocupam em Roraima 5,6 milhões de 9,4 milhões de hectares (o restante fica no Amazonas). A maioria dos políticos, que devia ver o Estado como uma terra sagrada, acaba imaginando que é tudo uma aventura só, numa terra de ninguém.

01 de abril de 2012
Sebastião Nery

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