"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 20 de maio de 2012

CASO CACHOEIRA: A TURMA QUE PODE COMPLICAR AGNELO

Cláudio Monteiro, Marcello de Oliveira, Paulo Tadeu, Rafael Barbosa e João Feitoza, o Zunga: contatos do grupo com a máfia incluem menções a propina

Gabriel Castro
Do quinteto-problema de Agnelo, três integrantes falarão à CPI: Monteiro, Zunga e Marcellão
Do quinteto-problema de Agnelo, três integrantes falarão à CPI: Monteiro, Zunga e Marcellão (Beto Barata/AE)
Ainda não surgiu um elo definitivo e pessoal do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), com a quadrilha do contraventor Carlinhos Cachoeira. Mas diálogos obtidos pela Polícia Federal (PF) tornam delicada a situação da gestão petista na capital do país, que ainda não respondeu de forma contundente às acusações. Ao menos cinco figuras do primeiro e segundo escalões do governo mantiveram contatos suspeitos com o bando. São relações que podem ser esclarecidas pela CPI do Cachoeira no Congresso.

O chefe de gabinete do governador, Cláudio Monteiro, caiu por suspeita de recebimento de propina. João Carlos Feitoza, o Zunga, foi subsecretário de Esporte. Também deixou o cargo quando surgiram indícios de que havia recebido dinheiro da quadrilha. Marcello de Oliveira, o Marcellão, foi assessor especial da Casa Militar. Acabou exonerado porque os investigadores descobriram que atuava como uma ponte entre o grupo de Cachoeira e o governo.

Ao trio somam-se dois integrantes do primeiro-time de Agnelo: o secretário de Governo, Paulo Tadeu, e o de Saúde, Rafael Barbosa. A dupla se encontrou com Cláudio Abreu, então diretor da Delta no Centro-Oeste, para tratar do contrato de coleta de lixo na capital. Abreu relatou o encontro em um telefonema ao próprio Cachoeira. E contou que a dupla pretendia se aproximar do contraventor.

Propina

Os indícios de corrupção são fortes: os diálogos da quadrilha revelam que um pagamento de 3 000 reais a Zunga entrou na contabilidade do bando. O próprio Zunga aparece em diálogos cobrando o adiantamento "daquele negócio". Cláudio Monteiro, por sua vez, é citado como o destinatário de um "presente" pela indicação de um aliado da quadrilha no comando do Serviço de Limpeza Urbana da capital: 20 000 reais de imediato e uma mesada de 5 000 reais.

Em um diálogo posterior, integrantes do grupo revelam uma mudança de estratégia. Cláudio Monteiro não receberia mais propina. O alvo seria Rafael Barbosa. Ambos têm ligações estreitas com Agnelo. Monteiro foi número 2 de Agnelo no Ministério do Esporte. Barbosa foi número 2 de Agnelo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Em 2010, Monteiro foi candidato a deputado distrital. Agnelo gravou um vídeo ao lado do amigo e pediu votos: Cláudio Monteiro seria, segundo ele, "um deputado de quem nós não teremos surpresa. Competente, de trabalho, comprometido com a nossa cidade e que honrará o seu mandato". Monteiro ocupava outro cargo-chave: o de secretário-executivo do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014.

Do quinteto-problema de Agnelo, três integrantes foram convocados para falar à CPI do Cachoeira: Monteiro, Zunga e Marcellão. Será uma chance de esclarecer o grau de infiltração do grupo de Cachoeira no governo do Distrito Federal. Até agora, Cláudio Monteiro, Paulo Tadeu e Rafael Barbosa alegam inocência. Zunga e Marcellão sumiram.

É difícil imaginar que o grupo, especialmente Cláudio Monteiro, tenha agido à revelia do chefe do governo. Diante das denúncias contra seu braço-direito, Agnelo se vê contra a parede: se sabia das irregularidades, prevaricou. Se não sabia, não mantém controle sobre a antessala do próprio gabinete.

20 de maio de 2012
Veja

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