"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 20 de maio de 2012

SAUDADES GASTRONÔMICAS

Quando voltei permanentemente para Porto Alegre alguns anos atrás procurei saber quais os restaurantes que ainda existiam. Muitos infelizmente haviam ido para as campinas eternas.
Um era o Spaghettilândia. Fazia o melhor Bife à Parmiggiana que já comi. (Eu sei Giulio, em Parma nunca ouviram falar deste prato, mas no Brasil existe, portanto perde a população de Parma por não fazê-lo.).
Alguns anos após minha saída do Rio Grande do Sul, fui ao centro almoçar lá, mas ele .havia sumido do seu ponto na Travessa Acelino de Carvalho.

 
Desapontado fui caminhando até uma rua acima quando senti o cheiro do molho para massa à Bolonhesa dele. Lá estava o restaurante, do outro lado da rua. Isto devia ser nos anos oitenta. Agora ele não existe mais, atropelado por uma pizzaria ou um restaurante de comida a quilo.

O Líder, na Barros Cassal com Independência também se mudou. Teoricamente existe ainda, a uma quadra e poucos de onde moro. Mas o sabor não é o mesmo. Não tem a sujeira e o cheiro da cerveja entranhadoem tudo. Tambémnão sabe mais fazer aquele filé mal passado na manteiga com dois ovos estrelados e arroz. Provavelmente os colesterolcultores condenaram o pobre filé ao exílio numa masmorra distante. Talvez tenham mandado os dois ovos junto.

Outro restaurante que pelo jeito só vive nas nossas lembranças é o Lawson’s. O Lawson, um técnico de basquete baixinho teve este restaurante por décadas na Cristóvão Colombo. Eu ia lá para comer duas bistequinhas de porco a milanesa com maionese de batata, chukrut e arroz. Acho que o prato se chamava “Apito de Fábrica”.
Outra coisa que comíamos lá era um file alto mal passado acompanhado apenas de pão, mas que encharcávamos em ketchup e mostarda super-picante.
Todos os nomes no cardápio eram na base do humor. E faziam sentido. Havia o prato chamado de “As Coisa” que consistia de uma salsicha bock com dois ovos cozidos. Logo abaixo deste vinha o μοναχικός, assim em grego mesmo, seguido da tradução (só) que era simplesmente uma salsicha bock com mostarda preta.

Um amigo conseguiu lembrar de mais dois nomes de pratos. Cabo de Martelo e Chave de Fenda. Não sei mais, se algum dia soube, do que consistiam, pois sempre pedia os mesmos dois pratos.
Felizmente o primeiro restaurante freqüentado pela minha família ao chegar no Brasil ainda existe. É o Restaurante e Churrascaria Santo Antônio na Rua Dr. Timóteo (foto). Meu pai descobriu este restaurante dois dias depois de descermos do avião chegando ao Brasil em 1948.

Eu o freqüentei inicialmente no carrinho de criança chupando belas tiras de filé cortadas pelo meu pai. Trinta e poucos anos depois eu estava almoçando no local com meus três filhos, um dos quais ainda no colo, e comentei para o velho garçom, o mesmo desde a década de quarenta:
“Estes são a terceira geração da família a freqüentar a churrascaria”.
O garçom me olhou com uma risadinha e apontou um sujeito mais ou menos da minha idade na mesa ao lado. “Pois este aí é a quarta geração da família dele que vem aqui. Se reparares bem na barriga da mulher dele a quinta geração também já está aproveitando nosso filé”.

Ralph J. Hofmann
20 de maio de 2012

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