"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 14 de maio de 2012

DE QUE RI A SENHORA CACHOEIRA?

Andressa Mendonça não vai posar para a Playboy. Pelo menos por enquanto. Ela recusou o convite da revista. "Meu papel, neste momento, não é esse", disse a mulher de Carlinhos Cachoeira em entrevista ao jornal O Globo. Qual seria o papel de Andressa neste momento? Aparentemente, algo um pouco mais obsceno que vender sua nudez graças à prisão do marido: rir.
 
Quando ela disse que "o Cachoeira é uma pessoa encantadora", a repórter perguntou: "Por isso encantou tanta gente?". Andressa concluiu seu striptease mo­ral com uma risada: "Acredito que sim".
 
A musa dos caça-níqueis também riu ao dizer que não daria "esse gostinho" (expor sua nudez) e que deixaria "só para o Cachoeira", com quem está há nove meses. A graça que Andressa vê nas coisas a sua volta traz a dimensão pornográfica que faltava ao caso do bicheiro.
 
Não pode haver nada mais obsceno que as risadas da senhora Ca­choeira no centro de um dos maiores escândalos políticos brasileiros. Nin­guém precisa tirar a roupa.
Fora um eventual deficit cognitivo da moça, o que será que lhe inspira tama­nha tranquilidade e senso de humor?
 
Não se sabe. O que se sabe é que ela diz estar confiante no doutor Márcio Tho­maz Bastos, advogado de Cachoeira e também, coincidentemente, de Lula.
 
Depois dos indícios de que, além de privatizar o senador Demóstenes Torres, o bicheiro é dono de coisa maior - incluindo um bom pedaço do PAC -, os altos círculos da República parecem conspirar pela paz interior de Andressa.
Romântica, a emergente dama do Cerrado lamenta não ter podido ver o parceiro no dia de seu aniversário. Mas con­ta que deixou na penitenciária um cartão em que escreveu "coisas lindas de uma mulher apaixonada': O enredo policial não a constrange, e isso lhe dá confiança para dizer ao ser amado que tudo é "apenas uma turbulência da vida".
 
"Quem não passa por isso?", diz a loura de 28 anos, convencida da normalidade da situação. E emenda o argumento definitivo:
 
"Quem está livre de ser preso?".
 
Ninguém. Qualquer pessoa de bem, que pague em dia seus deputados e senadores, pode ter o azar de acordar um dia vendo o sol nascer quadrado. São as fatalidades da vida. Nessas horas, não adianta desespero. Melhor pensar em coisas boas, como o Supremo Tribunal Federal (STF).
 
Certamente é um alento para a jovem Andressa Cachoeira lembrar o bando do mensalão, que também pagava regiamente seus parlamentares - e encontrou no STF um calmante para suas angústias. Quando o ministro revisor avisa, sete anos depois, que não sabe se vai dar tempo de julgar os mensaleiros - e de evitar a extinção de seus crimes -, o que mais pode fazer a mulher do bicheiro preso, além de rir?
O Supremo é uma inspiração para todas essas pessoas que não estão livres de ser presas. Ponha-se no lugar de alguém cujas negociatas, por acidente, foram grampeadas e que foi em cana. Imagine o alívio de olhar para a mais alta corte e ver juízes batendo boca como adolescentes, a ponto de um dizer para o outro que ele é "brega" por­que "nunca curtiu (a banda) The Ink Spots".
 
Ou assistir aos mais altos magistrados dando gritos populistas, tipo "Viva o país afrodescendente!", para agitar a bandeira racial dos padrinhos. Um bem-sucedido empresário da contravenção não pode levar isso a sério.
 
Por essas e outras, assim como sua amada, Carlinhos Cachoeira também dá risadas.
 
"Eu contei do convite (da Playboy), e ele gostou, morreu de rir."
 
Portanto, quem achou que o bicheiro estava chateado com a fatalidade de sua prisão agora fica sabendo que ele anda até gargalhan­do. Cachoeira confia nas instituições. Especialmente na­quelas que o consideram uma pessoa encantadora, como explicou Andressa.
 
A missão da CPI é decidir quem vai rir por último. Ca­choeira é homem bomba. Se parar de rir, explode. "Tenho certeza de que ele não quer prejudicar ninguém", disse a primeira-dama, num simpático recado à clientela: salve sua pele salvando Carlinhos - tratar com o advogado de Lula.
Andressa Cachoeira planeja o casamento para breve, quando seu príncipe sair do xadrez. Cada povo tem o con­to de fadas que merece. Ou os brasileiros saem às ruas para incendiar a CPI e explodir o homem bomba ou serão todos súditos da rainha risonha do bicho.
 
14 de maio de 2012
guilherme fiuza

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