"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 12 de maio de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY


OS NOVOS CORSÁRIOS

PARIS – Lá em cima dos penhascos de Bacharach, à beira do Reno, a caminho da Baviera, na Alemanha, corsarios afundavam seus barcos nas águas azuis quando se deixavam encantar pela voz de Lorely, loura e linda.

Já não há Lorely como antigamente. Os corsarios do século XXI, os banqueiros, já não se deixam encantar. Assaltam o mundo na bruta, atrás de seus gabinetes insondáveis, como nos filmes do faroeste americano os bandidos esperavam os trens de pagamento por trás das colinas do Velho Oeste e como hoje nos mares da África piratas das águas invadem navios.

A Europa, que ensinou o mundo a pensar, está sendo cercada, sitiada e dominada por aqueles que o novo presidente da França, François Hollande, chamou de “o muro do dinheiro”. A lição de Monteiro Lobato é atual: em pleno século XXI, em vez de acabar com a saúva, ou o mundo acaba com os bancos ou os bancos acabam com o mundo.

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GRECIA

Foi esse o recado de dois italianos insuspeitos, ilustres economistas convocados para missões inadiáveis, que, ainda nesta semana, vieram a Berlim, Paris e Bruxelas: Mário Graghi, presidente do Banco Central da Europa, e Mário Monti, presidente do governo italiano.

O tal “pacto de austeridade” está matando a Europa e o Ocidente. Ou a Europa cria imediatamente “um pacto de crescimento” para sustentar seus países ou explodirá, como a Grécia explodiu e Portugal, Espanha e a Itália estão ameaçadas. Todo o dinheiro que entrou até agora para os países ficou com os banqueiros. Para os banqueiros não há Nações nem Estados. Há seus cofres. Eles entendem que o dinheiro dos povos é para eles. E os governos, se não resolverem os problemas, que se danem.

Os banqueiros diziam que se os governos lhes dessem dinheiro eles resolveriam a crise da Grécia, de Portugal, da Espanha, da Itália, de outros. O Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu, os Bancos Centrais Nacionais e os governos descarregaram 380 bilhões nos cofres dos banqueiros e a crise só sobe, chegando ao máximo.

Não adianta a Lorely cantar nem os xerifes do Arizona darem o alarme. Lobato e Dilma têm razão: os bancos são saúva e corsários.

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JAVALI

A Europa já percebeu que, como em outras crises, a de agora é sobretudo política. A história das nações sempre foi conduzida por estadistas que em determinados instantes assumiram o comando de seus povos. Agora, aparece na Alemanha uma javali feiona, chamada Merkel, que quer doar não apenas a Alemanha mas toda a Europa aos banqueiros.
Ainda bem que, como qualquer javali encurralado, ela começou a pegar o caminho do mato. Vem perdendo as eleições regionais e logo será enxotada do governo alemão, como Sarkozy, seu parceiro, acaba de ser rifado aqui do governo da França. A França não é a Grécia. Não entregou seu futuro aos banqueiros. E a Espanha e Itália também não entregarão.
Esse tal “pacto de austeridade” é uma esperteza inventada por “analistas”, “economistas”, “jornalistas” para seus patrões das Febrabans da vida. “Austeridade” para eles quer dizer negócios escusos com governos, assessores teorizando falcatruas, políticos no bolso e imprensa comprada.

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HOLLANDE

Quando a campanha comecou aqui na França, o socialista François Hollande avisou que seu adversário não era o presidente Sarkozi mas os bancos. Os “Globos” dos Estados Unidos, Europa , América Latina, zombaram porque ele não tinha o apoio dos bancos e mercado financeiro e por isso da imprensa e sua candidatura era inviável sem o poder financeiro.

Hollande lembrou que o primeiro banco a quebrar foi nos Estados Unidos. E que era um “candidato normal” e por isso ia fazer sua campanha a partir de uma proposta simples. Garantiu que em um ano de governo a França voltaria a começar a crescer. Primeiros pontos de seu programa :

1 – Aumentar a taxa máxima de imposto de renda de 41% para 45%.

2 – Quem tem mais de um milhão de euros de renda pessoal anual pagará uma taxa excepcional de 75% sobre a a renda além de um milhão.

O país entendeu. Pela primeira vez o governo ia cobrar mais impostos dos ricos do que dos pobres e assalariados médios. Os bancos deram gargalhadas. Disseram que no dia seguinte eles e os especuladores financeiros estariam todos fora do país. Hollande ganhou e nenhum saiu.

12 de maio de 2012
Sebastião Nery

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