"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 1 de junho de 2012

SOBRE ENSINO

Sempre que volto a pensar no sistema de quotas no ensino e na injustiça flagrante que o mesmo representa acabo concluindo que a algum nível do subconsciente nacional brasileiro, de inspiração portuguesa ( e aqui não cabem as piadas de português e sim mera constatação de fatos inerentes) me ocorre que a educação, no sentido mais largo do que o conceito de ensino, parece ser vista como um privilégio, a despeito do enorme corpo de leis assegurando educação para todos.


Anos atrás, em algum momento, creio que o Secretário da Receita era o Dornelles, até mesmo o direito à dedução do Imposto de Renda dos gastos com educação foi negado aos contribuintes.

Estranhamente a própria revista Veja, comentando as reclamações sobre o assunto alegava que os que se dirigiam ao ensino pago eram privilegiados já por poderem pagar o ensino privado. Ignoravam o fato de que alguns pais faziam sacrifícios enormes para manter dois ou três filhos na melhor escola possível, onde não havia greves de professores, e que o ensino recebido por nossos filhos se incorporava ao patrimônio intangível da nação.

É importante dizer que as boas escolas privadas haviam se originado nas comunidades, seja de cunho religioso seja de natureza laica. O Rio Grande do Sul tivera uma excelente rede de ensino público, mas nos anos 70 esta já estava decadente pela politização excessiva do corpo docente.
Os melhores resultados no ensino sempre foram alcançados por crianças cujos pais se interessaram pelo aproveitamento dos filhos. Crianças criadas em comunidades engajadas neste sentido, como por exemplo, o Bexigaem São Paulo, ou as regiões com comunidades japonesas ou alemãs recebiam este tipo de incentivo de uma maneira geral. Nas escolas públicas havia a convivência de todos e o ambiente levava a um interesse competitivo na educação. Verdadeiramente a escola brasileira que existia, se insuficiente, era eficaz na formação de pessoas dos anos 30 aos anos 70. Depois dos anos 80 nota-se um interesse em estatísticas falsas que não indica a efetiva decadência.

A presença de alunos com mais facilidade de aprender e maiores tradições educacionais, por terem preparo e atenção em casa convivendo lado a lado com outras para quem o desafio era maior, era salutar.

O sistema de quotas, entre outros defeitos, tende a remover essa possibilidade de transferência de atitudes culturais. O fato de pessoas bem preparadas serem preteridas significa fixar as expectativas de educação num patamar mais baixo.

Na minha infância eu ouvi falar de comunidades que tinham uma sala de aula, com uma professora apenas, atendendo alunos de diferentes idades em séries diferentes. A comunidade juntava algum dinheiro, mantinha uma professora e um prédio com uma sala.
Não obstante isto, dali saíram advogados, médicos jornalistas e fundadores de empresas.
Do sistema de quotas o que sairá?

(*) Charge: O sistema de cotas, por Alpino

Ralph J. Hofmann
01 de junho de 2012

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