"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 29 de julho de 2012

A VIDA NUM CAMPO DE REFUGIADOS CRISTÃOS


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Atentado islamita contra uma igreja católica na Nigéria (REUTERS)
Perseguidos pelos islamitas radicais do Boko Haram, cristãos nigerianos vivem precariamente em refúgios improvisados
Está cada vez mais difícil ser cristão na Nigéria. Só em 2011, mais de 500 pessoas foram mortas pelo Boko Haram, grupo radical que defende a implementação de uma lei islâmica no norte da Nigéria e quer a expulsão dos cristãos do seu território. No início do ano, a violência sectária deixou parte do país sob estado de emergência. No Natal, os extremistas realizaram uma série de ataques a bomba que deixaram 37 mortos em uma igreja perto da capital, Abuja.

“O Estado nigeriano e os cristãos são nossos inimigos e iremos lançar ataques contra o Estado e seu aparato de segurança, bem como contra as igrejas, até alcançarmos nosso objetivo de estabelecer um Estado islâmico no lugar do Estado laico que existe hoje”, disse o porta-voz do Boko Haram.

O país agora se divide numa guerra sangrenta entre sua metade muçulmana e sua metade cristã. Perseguidos pelo Boko Haram, famílias cristãs para campos de refugiados em Jos, uma cidade separada da parte norte do país, onde vive uma maioria muçulmana.
Hoje, dois campos de refugiados existem nas regiões de Taraba, Nasarawa e Jos, onde os ataques de grupos islamitas são raros. Lá, as famílias isoladas sabem que não cruzarão com muçulmanos. Há segurança, mas vive-se precariamente. Cada semana, o governo local fornece comida e medicamentos. A taxa de desemprego, atingindo 40 por cento dos jovens, no entanto, impede os refugiados a começarem uma nova vida profissional.

“Apenas as crianças trazem um pouco de felicidade ao campo”, descreve o jornalista Loris Queyroi, em uma reportagem no local para a revista francesa Les Inrockuptibles. “Os sorrisos estão em bandoleiras. Muitos se assemelham a espectros errantes. Pensionários do além apesar de terem ganho uma trégua”.

Morador de Yobe, Jeremiah, um refugiado de 30 anos, diz à revista que a situação piorou depois das eleições presidenciais de 2011, vencida pelo candidato cristão Jonathan Goodluck. Jeremiah conta que as seitas muçulmanas aproveitam a impunidade para intimidar os eleitores cristãos no dia das eleições. “Na fila de espera das urnas, eles perguntavam a todo mundo quem era cristão. Não nos deixaram votar porque se votássemos, nos disseram eles, nosso voto iria para Jonathan Goodluck. Quando sua vitória foi oficializada, o Boko Haram atacou as casas cristãs do bairro”.

Jeremiah escapou de um ataque à sua casa pelos membros do Boko Haram, que chegaram atirando e gritando “Allah Akbar!”. Por sorte, sua mulher trabalhava naquela noite. Ele conseguiu esconder sua filha no vizinho. Depois, escondeu-se debaixo da cama. Por milagre não foi encontrado.

Há cinco meses em Jos, onde sua mulher teve sua quarta filha, Jeremiah ainda busca um novo emprego. Ele se indigna com a conivência dos homens políticos em relação ao grupo islamita. “Cada vez que um membro do Boko Haram é preso, Ibrahum Gaidam (governador do Estado de Yobe) chama o delegado de polícia para liberá-lo. Eles têm a mesma religião e lutam pela mesma causa: matar cristãos e todos aqueles que não acreditam no Islã”.

A eleição de Jonathan Goodluck não trouxe sorte para os cristãos. O presidente foi incapaz de segurar os ataques dos grupos radicais. Mas, além da situação política e religiosa do país, os campos também são o reflexo de uma crise econômica e social.

29 de julho de 2012

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