"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 4 de julho de 2012

BRAZIL... ZIL... ZIL... ZIL...

Encanador e garçom da Câmara Municipal de São Paulo ganham mais do que os vereadores
Reportagem de Diego Zanchetta e Rodrigo Burgarelli, no Estadão, revela que funcionários de nível básico contratados pela Câmara Municipal de São Paulo ganham salários mais de dez vezes maiores do que se paga no mercado para recém-contratados. É um escárnio, um deboche, uma afronta aos médicos, professores e outros profissionais que não são valorizados neste país.

Um encanador lotado no Departamento de Zeladoria, por exemplo, tem salário de R$ 11 mil. Um chaveiro, da mesma seção, recebe R$ 10,9 mil todo mês. E até um operador de máquina copiadora, outro cargo que exige apenas ensino fundamental para a contratação, ganha R$ 9,3 mil mensais.
A Câmara Municipal de São Paulo foi o primeiro órgão desse poder em todo o Brasil a divulgar os subsídios de seus servidores.

No total, a Câmara tem 662 funcionários concursados e 1.196 que ocupam cargos em comissão – ou seja, podem ser livremente nomeados por vereadores ou pela Mesa Diretora.Os dados fazem parte da segunda e última leva de funcionários do Legislativo da capital paulista que tiveram os salários divulgados no site oficial.

A reportagem do Estadão comparou os números com a média dos salários de recém-admitidos na capital paulista desde janeiro deste ano divulgada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. A média salarial para os encanadores contratados foi de R$ 1,2 mil. Para os chaveiros, de R$ 895. E para os operadores de copiadoras, de apenas R$ 799.

As explicações para os salários tão altos estão na legislação que rege o serviço público municipal. Uma série de gratificações e aumentos automáticos já é programada de acordo com o tempo de serviço, o que leva funcionários que executam funções simples, mas que estão há mais de 20 anos na Câmara, como o chaveiro, o encanador e o fotocopiador, a ganharem mais do que servidores com curso superior.

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COPA E LIMPEZA

A reportagem de Diego Zanchetta e Rodrigo Burgarelli cita outros exemplos de altos salários no setor de Copa e Limpeza. Lá, 13 garçons que trabalham nos coquetéis e eventos realizados nas dependências da Câmara recebem, em média, cerca de R$ 7,5 mil por mês.
O maior salário é de um funcionário com 24 anos e 11 meses de serviço: R$ 10.294,71 mensais. Na iniciativa privada, o salário médio dos garçons recém-contratados é de R$ 872, segundo o Caged. Nesse mesmo departamento, sete auxiliares de copeira recebem até R$ 9,7 mil por mês, ante R$ 825 no mercado.
No setor de Frota e Garagem, também há salários que chamam a atenção do contribuinte. Além do garagista que ganha R$ 11 mil por mês, conforme noticiado pelo Estadão no mês passado, trabalham ali dois lavadores de carro com salário maior que R$ 6 mil.
Um deles, com 26 anos de casa, recebe R$ 8,3 mil brutos. A média da cidade para essa profissão é de R$ 783 mensais.

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VEREADORES GANHAM MENOS

Em 2003, uma reforma idealizada pelo vereador Cláudio Fonseca (PPS) limitou o ganho dos novos funcionários de nível básico a cerca de R$ 4 mil.

Essa regra, porém, só vale para quem prestou concurso após essa data. “Na minha opinião, o teto do salários da Câmara deveria ser o dos vereadores (cerca de R$ 9,2 mil)”, diz Fonseca.

Já o presidente da Câmara, José Police Neto (PSD), alega que é a primeira vez que “se vai discutir esse tema porque é a primeira vez que se deu essa informação”.

Diante dessa farra salarial com dinheiro do povo, poderíamos perguntar ao filósofo Francelino Pereira: “Que país é esse?”. E o cantor Renato Russo responderia: “É o país do carnaval, minha gente”.

Carlos Newton

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