"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 10 de julho de 2012

CENTRAL ÚNICA DOS ALOPRADOS?

BRASÍLIA - Tem alguma coisa invertida nessa história: a maior central sindical do país não se mobilizou para protestar contra nenhum dos escândalos e escandalosos nacionais pós-2003 e agora fala em "ataque à democracia", ameaçando "ir às ruas" para defender os réus do mensalão. Dá para entender?

Segundo o atual presidente da CUT, Artur Henrique, "o ataque à democracia" que ocorreu no Paraguai pode se repetir no Brasil: "Ou não foi isso que tentaram neste país em 2005? Ou não tentaram depor e derrubar o presidente Lula com o apoio da imprensa?", disse ele ontem, no congresso da central. E decretou: "Não vamos permitir a volta dos tucanos, do PSDB".

Seu sucessor, Vagner Freitas, avisou, antes mesmo de assumir, que está de olho no julgamento do mensalão: "Não pode ser um julgamento político. Se isso ocorrer, iremos às ruas", disse, pronto para uma guerra, como se estivesse de dedo em riste na cara do Supremo Tribunal Federal.

São deveras curiosos esses arroubos democráticos, mas vamos ao que mais interessa: as greves. Sem falar no setor privado, os professores de universidades federais estão parados há um mês e meio e funcionários de 12 órgãos federais cruzaram os braços. Dilma acaba de mandar cortar o ponto dos faltosos. E isso não é nada, perto do que vem por aí.

A data-base de algumas das categorias mais poderosas, como metalúrgicos, químicos, petroleiros, bancários e carteiros, é no segundo semestre, a partir justamente de agosto -que vem a ser o mês do julgamento do mensalão. Vai ficar animado.

A dúvida, hoje, é se a CUT vai para as ruas a favor dos mensaleiros de Lula, contra o Supremo, ou se vai a favor dos trabalhadores, contra Dilma. Em última instância: a favor de Lula e contra Dilma?


O novo jato da Presidência sai antes dos caças da FAB.

10 de julho de 2012
Eliane Cantanhêde - Folha de São Paulo, Opinião

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