"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 14 de agosto de 2012

PARAGUAI, VENEZUELA, CUBA E "FACTSTORMING"


As anestesias coletivas, ao longo da história, só puderam se manter amparadas em climas de unanimismo psicológico. Se setores de opinião mais lúcidos conseguem rasgar essa sutil atmosfera de unanimismo, as esquerdas latino-americanas poderão ver neutralizadas uma de suas principais armas psicológicas de domínio mental, social e publicitário.

1. O presidente Chávez, da Venezuela, pouco antes de partir para Brasília, onde foi recebido com os braços abertos no Mercosul, qualificou de “nefasta, podre e degenerada” a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e disse que esse organismo deveria ser pura e simplesmente suprimido, do mesmo modo que outros organismos judiciais e de defesa de direitos humanos continentais.

2. Ante essa nova manifestação de brutalidade chavista, nenhum dos presidentes do Mercosul que o aguardavam em Brasília e, que nos conste, nenhum outro presidente latino-americano, disse esta boca é minha. As presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, e o presidente José Mujica, o receberam com todo tipo de mostras de cordialidade, com sorrisos de orelha a orelha como se ele não tivesse dito nada, e como se não tivesse feito nada na Venezuela e na América Latina inteira para corroer as instituições democráticas.

3. Poucos dias antes, com uma brutalidade política não muito diferente da brutalidade verbal de Chávez, esses mesmos presidentes haviam suspendido sumariamente o Paraguai do Mercosul. Os presidentes do Mercosul deram um verdadeiro golpe de Estado internacional no qual, como reconheceu o presidente Mujica, do Uruguai, “o político superou amplamente o jurídico”.

4. Se o fundamental plano jurídico ficou a mercê das decisões políticas, no continente latino-americano as leis e tratados internacionais passaram a valer pouco ou nada. Pode-se usá-los, pisoteá-los, subjugá-los, ignorá-los e até insultá-los, dependendo de sua utilidade ou inutilidade política segundo o paladar das esquerdas e independentemente das normas legais. Na América Latina, enfim, favorecer a todo custo às esquerdas, passou a justificar, como nunca antes, qualquer meio.

5. Segundo informe do laboratório social da agência Destaque Internacional, trata-se da aplicação de uma estratégia de “factstorming”, de uma sucessão tempestuosa e brutal de ditos e feitos políticos. O objetivo dessa estratégia seria aturdir àqueles setores de opinião de diversos países que, de uma maneira ou de outra, continuam se opondo, muitas vezes com o mero peso da inércia, ao avanço dos governos esquerdistas da região.

6. Cada governo regional de esquerda está adotando um estilo próprio de “factstorming”. Não obstante, a estratégia de brutalidade dos presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, Rafael Correa, do Equador, Cristina Kirchner, da Argentina e Evo Morales, da Bolívia, têm um denominador comum: constantemente criando tormentas de fatos e dando ponta-pés políticos para intimidar e aturdir as respectivas forças opositoras. Com esse aturdimento induzido pretendem também provocar uma paralisia e um bloqueio mental nas pessoas, evitando que elas consigam analisar objetivamente a realidade, e impedindo que tirem as naturais conseqüências dos fatos e das contradições que presenciam. Em uma palavra, “factstorming” é um meio artificial para levar os opositores à frustração e ao desânimo.

7. Essa paralisia mental induzida faz com que as pessoas do centro e da direita pareçam não perceber contradições elementares e óbvias dos dirigentes de esquerda, contradições que se fossem assinaladas com o senso comum e palavras adequadas, poderiam desmoralizar merecidamente os líderes regionais de esquerda, impedindo-os de levar adiante o atual despotismo político.

8. Um exemplo típico de paralisia mental induzida é o que diz respeito a Cuba comunista, um regime ditatorial que já leva mais de 50 anos oprimindo 11 milhões de irmãos ibero-americanos. Nenhum dos atuais presidentes da região e nenhum dos inúmeros organismos continentais, em particular, os presidentes e organismos que acabam de satanizar o Paraguai, disseram sequer uma palavra em favor da liberdade de Cuba, oprimida por um regime que, esse sim, é mil vezes mais nefasto e putrefato.

9. Essa estratégia dos governantes mais radicais da região é sem dúvida agressiva, intimidante e brutal. Mas também é preciso compreender que contém um alto grau de vulnerabilidade, porque só consegue resultados enquanto dure o clima de anestesia mental de setores do centro e da direita. As anestesias coletivas, ao longo da história, só puderam se manter amparadas em climas de unanimismo psicológico. Se setores de opinião mais lúcidos conseguem rasgar essa sutil atmosfera de unanimismo, as esquerdas latino-americanas poderão ver neutralizadas uma de suas principais armas psicológicas de domínio mental, social e publicitário.

10. Duas datas importantes no horizonte inter-americano que não podemos perder de vista: 07 de outubro, eleições presidenciais na Venezuela, e 6 de novembro de 2012, eleições presidenciais nos Estados Unidos.


Destaque Internacional - Ano XIV - nº 361 - Madri - São José da Costa Rica - Santiago. Domingo 12 de agosto de de 2012. Editorial interativo.
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