"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

DESMOND TUTU E SUA CARTA AOS COLOMBIANOS

    
          Artigos - Globalismo 
tutu Desmond Tutu, como é seu costume, se põe mais uma vez a serviço da mentira revolucionária. A vítima agora é a Colômbia, e os heróis do momento para arcebispo globalista são os narcoterroristas das FARC.


Não me surpreende que o arcebispo Desmond Tutu tenha vindo agora, com o dedo em riste contra a Colômbia, e tenha comparado nosso sistema político com o regime de apartheid que existia na África do Sul e que recomende aos colombianos que se entreguem às FARC.
Desmond Tutu, 82 anos, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1984, e cinco outras altas distinções por sua luta contra o apartheid. Entretanto, nem tudo o que ele diz e faz deve-se tomar como artigo de fé. As posições cripto-comunistas de Desmond Tutu e suas lamentáveis campanhas a respeito de Israel, Estados Unidos e Grã-Bretanha o afastaram de Nelson Mandela, o verdadeiro herói da luta contra o ignominioso apartheid. Por isso, não é estranho que em sua carta aos colombianos Tutu não mencione Nelson Mandela nem uma só vez.
Suas divergências com Mandela são conhecidas. Em janeiro de 2003, quando o Estado de Illinois suspendeu as execuções, Mandela felicitou o governador George Ryan. Tutu continuou sua cruzada contra os Estados Unidos. Mandela não esteve de acordo com isso e lhe respondeu: “Os Estados Unidos são uma referência para o resto do mundo”.
Na época da URSS, Tutu desfilava sob as bandeiras comunistas nas capitais européias. Alinhado com Leonid Brezhnev e Yasser Arafat, ele ajudou a desenvolver a tese de que Israel praticava o sistema de apartheid na Judéia e Samaria. Essa imunda falsificação contribuiu para alimentar o ódio anti-judaico na Europa e serviu aos propósitos do terrorismo árabe contra Israel.
Em novembro de 2011, Tutu participou de uma conferência do pseudo “tribunal Russel pela Palestina”, onde militam velhos amigos de ditadores, como o padre belga acusado de pedofilia François Houtart, e o suíço Jean Ziegler, admirador de Khadafi, de Roberto Mugabe e de Hugo Chávez. Essa reunião tinha por missão acusar Israel, uma vez mais, de exercer uma política de apartheid com os palestinos. Nelson Mandela negou-se a validar com sua presença semelhante farsa.
Tutu é dos que pede que os países e as empresas não comercializem com Israel. Teria sido preferível que Desmond Tutu condenasse os governantes psicopatas da Coréia do Norte e de Cuba, ou os ditadores neo-stalinistas e muçulmanos como Assad e Ahmadinejad. Mas não.
Em 2 de setembro de 2012, Tutu declarou, pelo contrário, que quem deveria ser julgado pela Corte Penal Internacional de Haya eram George Bush e Tony Blair pela guerra no Iraque. Uma frase que Tutu lançou para sustentar sua curiosa idéia escandalizou milhões de pessoas: “A pergunta não é se Saddan Hussein era bom ou mau, ou a quantas pessoas de seu país matou”.
Tony Blair respondeu que lhe parecia estranho que Desmond Tutu considerasse que o massacre de centenas de milhares de iraquianos por ordem de Saddan Hussein não fosse para ele um justificativo moral para esse derrocamento. O ex-primeiro-ministro britânico lembrou a matança de 5 mil civis com armas químicas na cidade de Halabja em 1988, ordenada pelo ditador iraquiano, e o milhão de mortos, em parte com armas químicas, que Saddan Hussein causou durante a guerra Irã-Iraque, e a tortura sistemática de seu povo e os assassinatos de seus opositores políticos. Por tudo isso, disse Blair, era perfeitamente moral derrocar o ditador iraquiano. “Apesar dos problemas, a economia do Iraque é hoje três vezes mais do que era e a mortalidade infantil se reduziu a uma terceira parte”, concluiu Blair.
O arcebispo anglicano é casado e tem quatro filhos. O mais velho deles tem problemas com a justiça. Trevor Tutu foi condenado em setembro de 1991 a três anos e meio de prisão, por dar um falso alarme em um aeroporto de Londres sobre uma bomba em um avião. Apelou, mas não chegou à audiência e perdeu sua liberdade sob fiança. Em 1993, ele devia começar a cumprir sua condenação mas não se entregou às autoridades. Foi detido em Johannesburgo em agosto de 1997. Pediu a anistia à Comissão de Verdade e Reconciliação, presidida por seu pai, que a concedeu e foi posto em liberdade. Quando se tem um pai tão influente...
Desmond Tutu nos vem agora com a conversa de que a Colômbia é um país monstruoso como a África do Sul na época do apartheid e, em que pese tudo isso, devemos ser “magnânimos” com as FARC. Essa é a mensagem subliminar de sua carta que El Tiempo publicou ontem, sem um único comentário crítico. Tutu não está longe de nos dizer que “a pergunta não é se as FARC são boas ou más, ou quantas pessoas mataram na Colômbia”, senão que devemos “reconhecê-las” e “escrever [com elas] uma Constituição e uma declaração de direitos”.
A carta de Desmond Tutu sobre a Colômbia trata de adormecer as pessoas a respeito do que são as FARC. Por isso está cheia de erros e falsificações. Ou o arcebispo não a escreveu e assinou o que outro lhe apresentou, ou ele se meteu nisso plenamente consciente do que fazia. Há falsificações de fato e de análise. E não só sobre a Colômbia.
Os dois países não são comparáveis. O câncer que as FARC representam para a Colômbia é muito mais antigo do que o próprio apartheid. O sistema de apartheid começou em 1948 e terminou em 1991. Esse regime repousava sobre quatro pilares: segregação entre negros, brancos, mestiços e índios; negação aos negros dos direitos fundamentais; evacuações forçadas dos bantustãos urbanos e repressão violenta de toda a oposição (mais de 200 mil torturas e detenções arbitrárias unicamente entre 1960 e 1992). Após 27 anos de detenção arbitrária, Nelson Mandela, líder do partido Congresso Nacional Africano (ANC), saiu da prisão em 1990, durante o governo reformista de Frederik De Klerk.
Na Colômbia nunca houve algo parecido. Não há segregação racial e a ninguém se lhe negou a liberdade de eleger e ser eleito, de se reunir, de se expressar, de ter acesso à saúde, à educação, pela cor de sua pele ou por outras razões. A Colômbia nunca deportou sua população. Os que fazem isso são, ao contrário, as FARC. Elas seqüestram, atacam e usam como escudos humanos a população civil e obrigam-na a fugir de suas cidades. Desmond Tutu cala sobre isso e diz, sem nenhuma vergonha, que “os dois países [África do Sul e Colômbia] se converteram em sinônimo de divisão violenta e foram rechaçados no mundo”. Falso. A Colômbia é uma democracia, uma das mais antigas e fiadoras do continente, e jamais foi rechaçada pelo mundo. Quem escreveu essa carta mentiu como só podem fazer os publicitários das FARC.
O prêmio Nobel comete outros erros. Na Colômbia não há uma guerra civil. A guerra entre liberais e conservadores terminou em 1957. Desde esse dia, os dois partidos históricos se alternaram no governo por meio de eleições e construíram o país que hoje conhecemos: não houve enfrentamento “entre os que tinham poder e os que não”, como pretende o arcebispo. Isso é uma falsidade, uma caricatura para enganar os ignorantes.
O que houve e o que há, desde então, é uma colaboração entre todas as classes, categorias sociais e partidos políticos para desenvolver e pacificar o país. Contra isso se levantou uma minoria terrorista, orientada e financiada pelo imperialismo soviético que se opôs à paz na Colômbia, por sua luta geo-estratégica contra os Estados Unidos e tratou, por todos os meios, de levar a Colômbia a uma guerra civil. Nunca conseguiu, porém construiu um aparato armado para solapar a democracia.
Os colombianos estão em paz consigo mesmos. A esmagadora maioria vive em paz. Só a minoria vende-pátria - a que propiciou o massacre das bananeiras em 1928, a que assassinou Gaitán em 1948 para se insurgir contra o país e tomar o poder, sem que conseguisse, a que ante seu fracasso criou entre 1959 e 1961 as “repúblicas independentes”, a que politizou os bandoleiros mais sanguinários, a que fundou as FARC com alguns deles em 1964, a que desde então atacou e ataca diariamente a sociedade e o Estado, sem conseguir chegar ao poder nem conquistar duradouramente um só quilômetro da República -, é a que insiste ainda hoje em pôr o país sob a dominação de poderes totalitários.
Desmond Tutu cita uma frase de Ernesto Guevara de 1952, escrita durante sua pretendida “visita à Colômbia” e apresenta-a como “uma descrição de apartheid” [na América Latina]. Absurdo! Guevara nunca “visitou a Colômbia”. Ele esteve alguns dias em Leticia, alojado em um quartel da Polícia de onde teve que sair após insultar o hino nacional. Chegou de avião a Bogotá e dormiu uns dias como um vagabundo em um hospital, pois não queria “pagar o conforto burguês de uma pensão de família”. Um dia sacou um punhal em plena rua e um policial o repreendeu. Assustado por isso, saiu correndo para a Venezuela com Alberto, seu companheiro de aventuras.
Por isso Guevara se vingou da Colômbia queixando-se à sua mãe, em 10 linhas de uma carta onde afirma que dos países que “percorreu”, a Colômbia é “onde menos se respeitam as liberdades individuais”. Seu conhecimento da Colômbia era tão nulo que escreveu que “os conservadores brigam entre eles [deveria ter dito liberais e conservadores] e não se põem de acordo e a lembrança do 4 de abril de 1948 [sic, deveria ter dito 9 de abril] pesa como chumbo em todos os lugares”. O futuro “carniceiro de La Cabaña”, que levou ao paredão centenas de inocentes e ajudou a arrasar as liberdades em Cuba, é o guia intelectual de Desmond Tutu sobre a Colômbia.
O arcebispo sul-africano não é exato nem a respeito de seu próprio país. A reconciliação nacional na África do Sul não foi um êxito. Os partidos políticos estavam mais de acordo em responsabilizar do que em perdoar e deixar na impunidade os responsáveis pelo apartheid. Essa foi a linha de Nelson Mandela. A lei de anistia previa libertar todos os criminosos que pudessem demonstrar que haviam matado por motivações “políticas”. Durante três anos essa comissão deliberou. Recebeu 20.000 testemunhos. Porém, sem o apoio dos meios de comunicação e dos partidos, não avançou. Só 900 anistias foram concedidas das 7.000 que haviam sido pedidas.
Das 250 recomendações da comissão de reconciliação quase nenhuma teve efeitos. Nenhuma política séria de indenização às vítimas se levou a cabo. Inclusive o informe entregue em 1998 a Nelson Mandela não recebeu o apoio dos partidos. A justiça penal chamada “transicional”, a mesma que alguns querem impor na Colômbia, para deixar os criminosos das FARC em liberdade, fracassou na África do Sul, pois foi incapaz de julgar os agressores não anistiados. Isto não sou eu que digo, senão um jurista africano que conhece muito bem o tema, Ruffin Viclère Mabiala, em seu livro “La justice dans les pays en situation de post-conflit” (L’Harmattan, Paris, 2009).
Mais modéstia, pois, sua eminência. Não nos conte histórias falsas sobre a Colômbia e, sobretudo, não nos fale de “verdade e perdão” citando um dos seres mais brutais e intolerantes do planeta, o Che Guevara.
Escrito por Eduardo Mackenzie
Tradução: Graça Salgueiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário