"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 25 de setembro de 2012

(P) ARTIDO (T) ORPE - HORA DE REPOSICIONAMENTOS

 


É cedo ainda para o desfecho da Ação Penal 470(MENSALÃO/PT) no Supremo Tribunal Federal, mas já se pode chegar a algumas observações relevantes. A primeira é de que o Partido dos Trabalhadores nunca mais será o mesmo após o julgamento do mensalão.

A condenação do alto comando petista em crimes como peculato, lavagem de dinheiro, desvio de recursos públicos e corrupção atingiu gravemente o patrimônio ético do partido, que, dia após dia, ruiu ante as provas recolhidas e os argumentos apresentados pelos ministros do Supremo nos últimos 45 dias.

Não se tratava de caixa 2.

Não se tratava de dívida de campanha.

Não se tratava de uma prática feita corriqueiramente por todos os partidos.

Não se trata mais da imprensa golpista.

Não se trata mais de uma conspiração urdida pela oposição.

As sessões do Supremo tornam cada vez mais evidente que o partido do ex-presidente da República executou um plano, ao arrepio da lei, para obter sustentação política. E isso feriu de morte o brilho da estrela petista.

A menos que a hipocrisia prevaleça, a crise que se abate sobre o PT terá desdobramentos nos rumos da legenda. Enquanto determinado grupo insiste na tese de que tudo sobre o mensalão é ficção ideológica, outra banda mantém distância segura do episódio — seja por conveniência política ou por não concordar com os atos supostamente praticados pelos réus.

O fato é que começam a tomar forma dois PTs:

aquele que está sob a espada da Justiça e aquele que quer passar longe do veredicto.

O julgamento do mensalão também estabelece novas bases ao Supremo Tribunal Federal. A exemplo do que ocorreu com a Ficha Limpa, o Judiciário dá mais uma demonstração de que encontra grande ressonância na opinião pública, a ponto de o relator ser aplaudido nas ruas.

O estilo contundente do ministro Joaquim Barbosa, somado ao consenso entre os ministros em boa parte do que foi tratato até aqui sobre os réus, contribui para que a sociedade perceba uma resposta do poder republicano contra a impunidade.



No calor do momento, as consequências do julgamento do mensalão podem ser consideradas benéficas ou não, a depender do ponto de vista. Mas as lições retiradas do momento histórico devem balizar a evolução dos atores sociais.

A longo prazo, é possível que o PT se reencontre após o julgamento.

O caminho para esse novo posicionamento reside na defesa legítima e legal das convicções políticas, respeitadas as regras do jogo democrático.

Carlos Alexandre Correio Braziliense
25 de setembro de 2012

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