"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 1 de setembro de 2012

SE O PSDB NÃO SE CONECTAR COM OS 99%, VAI MORRER

 

LONDRES – Ri sozinho ao ler no “Sensacionalista”, o site de gozação jornalística: “Rejeição a Serra cresce e pode ganhar no primeiro turno”. Ah, as virtudes do bom humor.

Fui me inteirar e vi que uma pesquisa do Datafolha mostrava aquilo, e trazia o encurtamento da distância entre Serra e Haddad na segunda colocação, atrás de Russomano, um franco-atirador que está muito aquém da grandeza de São Paulo.

Falo aqui como alguém que votou muitas vezes no PSDB e, algumas, em Serra.
Primeiro: para o PSDB, é bom, paradoxalmente, que Serra perca, de preferência sem sequer chegar ao segundo turno. Isso forçará uma renovação.

Segundo: a renovação tem que se dar também no campo das ideias. Há um consenso, no mundo moderno, de que o problema número 1 da humanidade, hoje, é a iniquidade social. No Fórum Econômico de Davos, em janeiro, isso foi expresso de maneira clara por líderes políticos e empresariais de todas as partes.

Que o PSDB tem a dizer sobre isso?
Nada. Mesmo quem não gosta do PT terá dificuldade em negar que o partido tem uma política consistente em relação à diminuição do abismo que separa ricos e pobres no Brasil. Dilma disse uma vez, depois que uma tempestade matou centenas de pessoas num morro do Rio: enquanto houver tanta miséria, o Brasil não será uma potência.

Na ditadura militar, escrevi sobre isso aqui, a defesa da desigualdade estava numa tese do homem-forte da economia, Delfim Netto. Delfim dizia que você só podia distribuir o bolo depois que ele crescesse.

É uma estupidez. Foi provavelmente sob essa lógica perniciosa que Luís 16 perdeu a cabeça em 1789. Também ele esperava que o bolo crescesse, mas a população não teve tanta paciência assim para esperar.

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MELHORES IDÉIAS

Se quiser ter relevância na cena política brasileira, o PSDB tem que se reinventar – e disputar com o PT no campo das melhores idéias para reduzir a desigualdade. É uma bandeira que não tem dono. Melhor: que pode e deve ter vários donos.

Os tucanos parecem alheados do mundo novo, em que os 99% estão se movimentando contra os privilégios abusivos do 1%. É preciso ação, é preciso gritar que não é aceitável tanta miséria no Brasil. Não basta, para o futuro do PSDB, FHC falar platitudes em variadas línguas em simpósios internacionais.

Serra sair vai ser o primeiro passo, e provavelmente o eleitorado paulistano cuidará disso. Os demais demandam, essencialmente, um comprometimento com o combate à chocante iniquidade social brasileira. Mas, como disse o sábio chinês Lao-Tzu há mais de 2 mil anos, toda caminhada começa exatamente no primeiro passo.

01 de setembro de 2012
Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)
 

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