"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 31 de outubro de 2012

CLINT EASTWOOD ESTRÉIA "CURVAS DA VIDA" SOMENTE COMO ATOR

Ator fala de filmes, Siegel, Leone e seu apoio a Mitt Romney em entrevista ao 'Estado'
 
Para se encontrar com Clint Eastwood, o repórter transpõe os portões da Warner. O estúdio localiza-se em Culver City e a primeira surpresa é que, lá fora, com exceção de um pôster gigantesco do up coming Man of Steel (Superman), todas as imagens nas paredes são de séries de TV. A entrevista não se realiza no bangalô da Malpaso, a empresa produtora de Eastwood, abrigada na Warner. O encontro ocorre num estúdio no qual foram montadas duas mesas. Cada uma delas reunirá cinco jornalista vindos de diferentes partes do mundo - e o entrevistado.

Clint chega. Alto, magro e rijo. Elegante. Fala manso. Responde sobre tudo - o novo filme, no qual é só ator (Curvas da Vida estreia dia 23 de novembro), o apoio a Mitt Romney (ele ainda não fez encenação sobre a cadeira vazia de Barack Obama) e também Sergio Leone e Don Siegel.

'Tento ser coerente e defender minhas ideias', diz - AP
AP
'Tento ser coerente e defender minhas ideias', diz

O senhor havia anunciado que iria se concentrar na direção e não atuaria mais. O que o fez aceitar Curvas da Vida?

Robert Lorenz tem trabalhado comigo nos últimos anos como produtor associado. Há tempos ele sonhava com sua estreia na direção. Surgiu essa história sobre o velho olheiro de um time de beisebol. Ajudei-o a formatar o projeto, acompanhei a escritura do roteiro. O personagem ficou muito próximo de mim. Robert passou a vê-lo como uma extensão de mim e eu próprio me sentia confortável nos seus tênis. Foi assim que voltei a atuar.


É um longo caminho desde que o senhor começou, aqui mesmo na Warner, nos anos 1950. Dois diretores foram decisivos na sua evolução, Don Siegel e Sergio Leone. Foram seus mestres?
 
Não diria que tenham sido só meus mestres. Foram mestres de muita gente. Sergio (Leone) tinha a minha idade, era só um ano mais velho. Sou de 1930, ele, de 1929. Sergio inventou um gênero, o spaghetti western. Formatamos o personagem, O Estranho Sem Nome, em conjunto. Eu lhe sugeri que o Estranho devia se explicar pelos gestos. Havia muitas falas desnecessárias. Sergio era filho de diretor, criado no e pelo cinema. Tinha entusiasmo, motivava as pessoas. E, embora ouvisse a gente, ele com certeza sabia o que queria. Don (Siegel) já era um veterano. Tinha quase 60 anos quando fizemos Meu Nome É Coogan (em 1968). Ele começou como assistente de montagem, fez um longo aprendizado nos estúdios. Don já pensava num filme como montagem. Só de ver os dois trabalharem, aprendi muita coisa.

Seu personagem em Curvas da Vida está ficando surdo e tem problemas com as filha. Ele fica na contracorrente das invenções tecnológicas. Não é um ataque à juventude?

Você quer me dizer que o filme é reacionário? Fale com Robert (Lorenz). Embora o jovem disponha hoje de mais ferramentas, isso não significa que saiba mais, conheça mais nem que esteja mais preparado para a vida. O conflito de Curvas da Vida é entre pai e filha, mas também é entre esse homem que está ficando surdo e necessita de ajuda para ‘ouvir’ o som da jogada. É o som que lhe diz quem é o grande jogador. O jovem, com seu computador, não tem tempo para o ouvido. Não sou contra a técnica, seria absurdo, só acho que ela não é soberana. Acima da técnica existem inteligência, sensibilidade, humanidade. Não foi a técnica que fez a grandeza de Sergio (Leone) e Don (Siegel), mas o uso que eles fizeram dela.

Existe um culto ao senhor, mas na França surgiu um livro (Clint Fucking Eastwood) que contesta o mito. Diz que só os filmes não explicam sua fama. Critica o machismo. O que pensa disso?

Não li o livro e, nesta quadra da minha vida, nem tenho tempo para isso. O que sei é que ninguém chega à posição em que estou mantendo minha independência na indústria e sendo uma unanimidade. Você é uma unanimidade? Com esses cabelos brancos, eu diria, mesmo sem conhecê-lo, que não. Quando se tenta agradar a todo mundo, não se agrada a ninguém, muito menos a nós mesmos. Provavelmente vão contestar muitas de minhas escolhas. Nunca quis ser uma unanimidade. Houve uma época em que as feministas adoravam me odiar. Nunca mudei para agradá-las. O que tento é ser coerente e defender minhas ideias sobre o cinema e o mundo. Acredite, é bem difícil.



O senhor tem apoiado a candidatura de Mitt Romney à Presidência dos EUA. Por quê?

Não quero ser ofensivo com (Barack) Obama, mas com ele a América e o mundo andam à deriva. Gostem ou não as pessoas no exterior, a América representa o poderio militar e econômico. Não pode se vergar. As políticas de Obama são sociais. Muita intervenção do Estado para o meu gosto. Sou contra o intervencionismo. Detesto quando o estúdio vem me dizer o que tenho de fazer. Venho de uma família que passou dificuldades, até fome, na depressão dos anos 1930. Meu pai nunca esperou que o governo viesse nos salvar. Ele deu duro e nos ensinou a nunca depender dos outros. Um país é como uma casa. Precisamos de uma boa limpeza e quem pode fazê-la é Romney.

31 de outubro de 2012
Luiz Carlos Merten / LOS ANGELES

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