"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 5 de outubro de 2011

ÚLTIMA INDIGNAÇÃO CONTRA O MINISTÉRIO DA CULTURA DO GOVERNO DILMA

Uma coisa é a Cultura e outra é o mercado, não obstante todas as interseções que se possa fabricar entre essas duas esferas.

Ademais, Cultura e Arte, no sentido estrito, não são assuntos dos Governos. A Arte quem a faz são os artistas, a cultura se faz nas ruas, nas comunidades, nas interações humanas. Aos Governos cabe apenas o controle da Arte e da Cultura e se necessário, para melhor controlá-las, suprimem o artista – já vimos disso. A Cultura e a Arte só podem ser livres.

Chega, por fim, o dia em que um punhado de comerciantes e industriais podem se dizer os possibilitadores, os donos, da Cultura, desfigurando-a, explorando-a, extorquindo-a, corrompendo-a e violentando-a. Esse dia, que é o que estamos vivendo, deveria nos inspirar ao menos uma atitude firme de afirmação da Cultura Livre, e até um sentimento de compaixão contra a pobre e inofensiva Ministra Ana de Hollanda, fantoche que não é capaz de articular uma ideia sequer, vítima de suas debilidades. Não é ela a inimiga, embora seja ela um torpe sintoma das atuais circunstâncias.

A palavra asco resulta aqui muito débil para exprimir a inteligência e o realismo da presidenta Dilma Roussef, suficientes para vermos ela prescindir da Cultura e transformar a pasta num incipiente banquete para comerciantes autoritários da indústria cultural e da economia criativa, termo que a própria Ministra da Cultura não sabe o que significa. São as honras de um Ministério que opera claramente, quase declaradamente, como uma quadrilha de burocratas a serviço da ganância de grupos de poder incompetentes para enxergar o futuro. É um Governo que diz defender a Cultura atuando ao lado dos assassinos da Cultura, realizando transações em forma de políticas públicas, regateando atrás dos biombos institucionais.

Parece inútil manifestar uma vez mais a nossa indignação, mas como se não bastasse, a resistência contra a política do Minc de Dilma, embora quase insignificante, suscita preocupações: baseia-se no discurso duvidoso de intelectuais e de pessoas ligadas à produção cultural e ao mercado de música alternativa que exploram coletivos culturais e marchas. Tais discursos partem do impulso irracional e comodista de pessoas decentes que se dizem parte da esquerda, mas separam-se, em termos práticos, daqueles que lutam. Utilizam jargões e frases feitas mal encaixadas como recursos para fazer as suas falas parecerem profundas e importantes, quando não se tem nada a dizer. Como diz Chomsky, “o saber convencional mantém seus méritos como arma ideológica para disciplinar os indefesos” – mas não a nós…

Ainda Chomsky:

“Essas são as formas pelas quais os intelectuais contemporâneos, inclusive os da esquerda, criam grandes carreiras, conseguem poder, marginalizam as pessoas, intimidam etc. (…) muitos jovens militantes sentem-se simplesmente intimidados pelo jargão incompreensível que vêm dos movimentos intelectuais da esquerda, impossível de entender, e que faz com que as pessoas sintam que não podem fazer nada porque, a não ser que de algum modo entendam a última versão pós-moderna disso e daquilo, não podem sair as ruas e organizar as pessoas, pois não são suficientemente inteligentes”. In “Notas sobre o anarquismo”, Editora Hedra, 2011. Pg 103.

O atual estado do Ministério da Cultura revela o caráter do Governo Dilma: nos permite julgar a sinceridade da política democrática constituída a partir de Partidos que se tornam burocracias verticais e necessitam reafirmar as práticas do clientelismo e do autoritarismo programático.

Mas, como disse, a Cultura que nos interessa é a que fazemos, é a que somos e a que nos constitui enquanto comunidades, coletividades, nação e seres humanos políticos, racionais e espirituais.

O que temos hoje é um MinC tutelado por um Governo que atua como uma associação de políticos e empresários a serviço de qualquer política excludente que favoreça interesses financeiros de grupos de poder em cega agonia.

Contra isso, cada um de nós a partir de seu lugar – e sobretudo das ruas – lutaremos sempre frontal e firmemente – fortalecidos inclusive pelo descaso que o Poder Político instituído tem dedicado à Cultura. O resultado da luta veremos em breve nas ruas, nas redes… Aliás, já o estamos vendo.

pensador selvagem

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