"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 13 de outubro de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

MIERDA PARA USTED!


Em 1952, Anastásio Somoza, “Tacho Somoza”, ditador da Nicarágua, pai do Somoza nº 2, o “Tachito”, derrubado pela Revolução Sandinista em 1979 e depois assassinado em Assunção, no Paraguai, por traficantes de drogas concorrentes, chegou a Bahia em visita oficial e convocou uma entrevista coletiva no palácio da Aclamação.

Nilson de Oliva César, jornalista, o histórico “Pixoxó”, folclore e orgulho da Bahia, foi lá representando o jornal Estado da Bahia. As perguntas todas muito cerimoniosas, formais, alienadas, Somoza falando, descrevendo o “paraíso” da Nicarágua, que ele governava como uma fazenda.

E sua guarda de segurança ali de pé, homens enormes, brutamontes, em torno dele e dos jornalistas, Pixoxó deixou sua pergunta para o fim:

– Quem matou Sandino?
Somoza lavantou-se, estapeou o microfone, chutou a mesa e gritou:
– Mierda para usted!

Augusto Cesar Sandino, general, chefe da resistência da Nicarágua contra a ocupação do País pelos Estados Unidos, anistiado depois da retirada dos EUA, tinha sido assassinado em 1934 por ele, general Anastásio Somoza, então comandante da guarda nacional e ditador por 30 anos, a partir de 1936.

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CONSPIRAÇÃO

Em 1959, o embaixador Sete Câmara era chefe da Casa Civil do presidente Juscelino e o diplomata Paulo de Tarso Flexa de Lima seu chefe de gabinete. O deputado Fernando Santana, PCB da Bahia (eleito na legenda do PTB) e o antropólogo Edson Carneiro foram ao Catete conversar com Juscelino.


O inesquecível Fernando Santana

A porta do gabinete de Sete Câmara estava com a luz vermelha acesa. O bravo e venerando Fernando, orgulho da Bahia, bem se lembravs e me contou:
– Foi me dando uma vontade irresistível de desobedecer àquela luz vermelha. Não agüentei. Meti a mão na maçaneta, empurrei, entramos.
Lá dentro, no sofá, Sete Câmara sentado no meio, Augusto Frederico Schmidt do lado direito, Horácio Lafer do lado esquerdo. Constrangimento de longo silêncio. Fernando, com seu vozeirão de sertanejo baiano, gritou:
– Parem essa conspiração contra o Brasil!
Só faltou gritar “mierda para ustedes”. E conversaram sem luz vermelha.

13 de outubro de 2012
Sebastião Nery

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