"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O QUADRILHEIRO DO POVO MENSALEIRO

 





O primeiro e decisivo passo para condenar José Dirceu e a antiga cúpula petista pelos crimes do mensalão foi dado ontem, com o voto do ministro Joaquim Barbosa.

A pá de cal deve ser jogada nesta quinta-feira quando se espera que - se nenhum ministro não interpuser delongas injustificáveis - a mais alta corte do país considerará aqueles que, até pouco tempo atrás, comandavam o PT culpados por desviar dinheiro público para comprar apoio político no Congresso.
Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, além de outros cinco réus, foram condenados ontem por corrupção ativa pelo ministro relator. A partir da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi montada uma máquina para corromper parlamentares que se sujeitassem a sustentar o projeto de poder do PT.

O ministro-chefe a comandava.

Barbosa empilhou um monte de evidências para mostrar que José Dirceu detinha o "domínio final de todos os fatos" do mensalão. Nada acontecia sem a sua anuência, de tratativas de liquidação de bancos à exploração do raríssimo nióbio. Marcos Valério era seu operador - "broker", ou corretor e negociador, na definição do ministro relator.
De fato, é difícil admitir que Dirceu participasse de tantas e tão díspares reuniões, com tão distintos interlocutores, sem que fosse para tratar da montagem e da atuação da quadrilha que concebeu, estruturou e operacionalizou o maior esquema de corrupção que se tem notícia na história política do Brasil.
Mais:

como explicar que, para tratar de mineração ou de sistema financeiro, estivessem sempre sentados à mesa de reuniões com Dirceu o tesoureiro do seu partido (Delúbio Soares) e um publicitário cujo maior dom era montar esquemas de desvio de dinheiro público para molhar a mão de parlamentares (Marcos Valério)?
Mais ainda: como explicar que, logo depois de realizadas tais reuniões, uma gorda dinheirama tenha saltado das burras do Banco Rural para os cofres do PT, de onde escorreu para o bolso dos mensaleiros?


Terão sido meras coincidências?

Barbosa deixou claro que não:

era o mensalão mesmo em plena ação.
A defesa de Dirceu argumenta que uma das reuniões com o pessoal do Rural serviu para tratar da exploração de nióbio. Estranhíssimo.

Primeiro, porque, até onde se sabe, não é atribuição da Casa Civil cuidar de pesquisa mineral. Segundo, porque o Brasil tem um único produtor do metal - aliás, um dos únicos no mundo:

a CBMM, que pertence, justamente, a um grupo concorrente do banco mineiro, o Moreira Salles, então à frente do Unibanco, hoje do Itaú-Unibanco.

O que, diabos, o Rural iria querer com nióbio?

Nada, provavelmente; o papo era outro.

Os interlocutores de Dirceu eram gente que não tinha nada a ver com assuntos de governo ou com os temas alegados pela defesa do "chefe da quadrilha", mas tudo a ver com o mensalão, como ressalta Marcelo Coelho em precisa análise sobre o voto de Barbosa ontem no Supremo, publicada na (Folha de S.Paulo).

Era uma profusão de "reuniões fechadas, jantares, encontros secretos", com Dirceu "em posição central, posição de organização e liderança da prática criminosa, como mandante das promessas de pagamentos de vantagens indevidas aos parlamentares que viessem a apoiar as votações do seu interesse", conforme resumiu, com a acuidade de sempre, Joaquim Barbosa em seu voto.

São evidências de sobra para que José Dirceu passe uns bons tempos no xadrez. Se condenado a mais de oito anos pelos ministros do STF, amargará cumprimento da pena em regime fechado.

Um ocaso e tanto para quem foi o segundo homem mais poderoso da República e sonhava tornar-se o maioral. Dirceu terá uma ficha corrida e tanto a exibir:

ex-ministro, deputado cassado, presidiário e quadrilheiro.
Hoje, (O Estado de S.Paulo) diz que o PT prepara manifestações de desagravo para seus próceres condenados pelo Supremo. A turba petista costuma saldar gente como o ex-ministro com urros e palavras de ordem do tipo "Dirceu, guerreiro do povo brasileiro".

No encontro que terão após a conclusão do julgamento do mensalão pelo STF, poderá inaugurar um novo brado retumbante: "Dirceu, quadrilheiro do povo mensaleiro". Fonte: Instituto Teotônio Vilela
04 de outubro de 2012

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