"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 4 de novembro de 2012

A TITÂNICA TAREFA DE DISTINGUIR OBAMA E ROMNEYE

 

O jornalista americano Glenn Greenwald foi convocado pelo jornal inglês Guardian para comentar ao vivo o terceiro e último debate entre Obama e Romney.


Almas gêmeas…

Greenwald, escreveu o jornal, estava entregue à “titânica tarefa” de distinguir os dois candidatos. Clap, clap, clap.

O tema era a política externa. Ambos pareciam disputar quem vai bater mais no Irã por conta do alardeado projeto nuclear.
Como o próprio Greenwald já escreveu, as sanções americanas ao Irã – “duríssimas”, nas palavras de Obama – podem repetir o que aconteceu no Iraque sob boicote do governo Clinton. Morreram 500 mil crianças iraquianas, segundo levantamentos respeitados, por falta de comida, remédios etc.

Alguns jornalistas americanos notaram um fenômeno interessante. Práticas tidas pelos democratas como intoleráveis sob George W Bush acabaram se tornando aceitas quando adotadas por Obama.
Um jornalista americano escreveu, antes do debate:
“Se eu pudesse fazer uma pergunta, seria esta: Senhor Obama, qual a diferença entre as torturas de Bush e sua decisão de autorizar execuções sem julgamento?”

Obama e Romney parecem viver num mundo de fantasia. No debate, Romney a certa altura disse, sobre a política externa americana: “Nós não ditamos coisas. Nós salvamos países que estão sob ditaduras”. Será que ele acredita nisso?

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O ÓDIO AO IRÃ

As origens do ódio do Irã pelos Estados Unidos datam do começo da década de 1950, quando os americanos, aliciados pelo governo inglês de Churchill, conspiraram e derrubaram o altamente popular presidente iraniano Mossadegh.

O motivo: Mossadegh disse não a uma das maiores mamatas da história – a exploração de petróleo iraniano pelos britânicos.

Em seu excelente livro sobre a queda de Mossadegh, “Todos os Homens do Xá”, o jornalista americano Stephen Kinzer, veterano correspondente do NY Times, conta coisas que você atribuiria a teorias conspiratórias.

Agentes da CIA, por exemplo, escreviam artigos anti-Mossadegh que eram imediatamente veiculados na mídia iraniana alinhada com os interesses americanos e ingleses.

Derrubado Mossadegh – que defendia um regime laico, secular –, os Estados Unidos devolveram o poder no Irã ao localmente abominado Xá Reza Pahlevi.

A selvagem polícia política do Xá matou milhares de iranianos até que ele fosse derrubado, em 1979. O fundamentalismo do aiatolá Khomeini é fruto do golpe dado pela CIA contra Mossadegh. Um democrata admirado pelos iranianos foi substituído por um fantoche detestado e sanguinário.

Mas, para Romney, os Estados Unidos derrubam ditadores e instalam democracias. Pinochet é uma prova disso. Os generais brasileiros de 1964 também.

Ao ver Romney e Obama, você logo concluí que o declínio americano é uma coisa positiva para a humanidade.

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