"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

INFLAÇÃO CONTINUA SE EQUILIBRANDO NO FIO DA NAVALHA

 
Análise:
 
O choque na oferta de alimentos, que entrou pela porta de uma grande seca nos Estados Unidos e se espalhou por mercados cerealistas locais, parece ter esgotado a capacidade de empurrar a inflação para cima. Nem por isso o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é base para o sistema de metas de inflação, deixará de sofrer o impacto de altas de outros preços.
É certo que o índice continuará a evoluir no fio da navalha, embora sem ameaça de superar o teto da meta.
Vilões, mais uma vez, da elevação do IPCA em outubro, os alimentos já deram o que tinham de dar para desviar o índice da rota desejada para o centro da meta de inflação. Também divulgado ontem, o Índice Geral de Preços (IGP-DI), da Fundação Getúlio Vargas, apontou deflação, causada principalmente pelo recuo dos preços agrícolas no Índice de Preços no Atacado, principal elemento da composição do IGP.
É uma indicação segura de que, nos próximos meses, os alimentos darão folga aos índices ao consumidor.
Com a saída de cena dos alimentos, porém, outros grupos de preços devem manter a inflação sob pressão. Em outubro, houve altas em seis dos nove grupos do IPCA, com destaque para vestuário, que subiu além do previsto, mesmo para o período de mudança de coleções e consequente alta nos preços.
Também os preços dos veículos voltaram a subir.
Todas as medidas de núcleo de inflação continuaram avançando em relação a setembro. E, mesmo quando se exclui o item alimentos, o índice de difusão de altas, tomado o conjunto de preços do IPCA, manteve-se em torno de 65%. O fato de a difusão das altas ter se estabilizado não indica despreocupação.
Ao contrário, mostra que as pressões atingem quase dois terços dos preços.
A difusão das altas nos preços, contudo, não pode ser tomada como indicativo de descontrole nos índices de inflação. Nos próximos meses, os analistas preveem alívio nas pressões em alimentos e vestuário e novas altas em itens dos grupos habitação, transportes e despesas pessoais.
Tudo bem medido, as projeções apontam para elevações mensais do IPCA entre 0,5% e 0,6%, nos dois meses que faltam para fechar o ano. Isso significa que continuará a subir, mas não a ponto de escapar das vizinhanças de 5,5% - ponto equidistante entre o centro e o teto da meta de inflação.
José Paulo Kupfer
O Estado de S. Paulo
08 de novembro de 2012

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