"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O FLAMENGO NOS BRAÇOS DOS QUE O AMAM


Assistimos a dois debates dos candidatos à presidência do Flamengo. Patrícia Amorim, postulante à reeleição, não compareceu, certamente temerosa de prestar esclarecimentos sobre os desmandos administrativos de que é a principal responsável.

Há inusitada desproporção entre a grandiosidade do clube e os que malbaratam a administração. Figuras menores que se valem de pretexto até — vejam o extremo a que se chegou! — para apropriarem-se das camisas destinadas aos jogadores. Há dirigente, mais de um, responsável pelo desvio mensal, em benefício próprio de 100 dessas peças! Cada um muito mais preocupado com extrair proveitos — dos menores aos mais significativos. Não se veem idealistas e sem estes não se constroem as instituições.

Comenta-se que a diretoria já recebeu por antecipação as quotas televisivas dos anos vindouros, previstas em contrato. As receitas restantes, como as dos jogos, encontram-se penhoradas. Há cerca de três anos que a desordem reinante afastou o patrocinador máster. Mesmo com tanta ineficiência, a atual mandatária é a mais provável vitoriosa na eleição do início de dezembro.
Em colégio eleitoral restrito, tem ela votantes certos, a maioria não-flamenguistas, mais interessados em transformar a sede da Gávea em clube social, de custo módico, para fruição de suas famílias. Pasmem, mas o presidente do Clube de Regatas do Flamengo se elege com maior simples!

Começamos falando sobre os debates de cinco dos seis candidatos à presidência. Ficamos pasmado com o despreparo de todos. Não demonstraram conhecer o Brasil flamenguista. Só conhecem a cidade do Rio de Janeiro. Falta-lhes — o que se afigura essencial — a vivência com as comunidades flamenguistas radicadas nas lonjuras desse país continental.
Qualquer deles que se eleja, o Flamengo continuará com as mesmíssimas receitas convencionais que os clubes coirmãos também, uns mais outros menos, recebem-nas. A dívida estratosférica jamais será quitada com as medidas burocráticas de sempre, que atrasam o clube há décadas.
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INSOLVÊNCIA

A decadência do Flamengo é tamanha, que tem estado dependente de empréstimos bancários para o pagamento da folha salarial, sempre em atraso. A última tentativa de concretizar essa onerosa operação com os bancos, não foi bem sucedida, certamente por ter sido impossível apresentar as garantias exigidas.

Temos o dever de dizer aos candidatos que o Flamengo, para se soerguer, está carecendo de gestão verdadeiramente revolucionária. É imperioso que a grande entidade — com quase 40 milhões de adeptos, segundo as estatísticas — precisa ser submetido a estudos e, após diagnóstico, seja bafejado com ampla mobilização nacional para transformar as imensas potencialidades em riquezas.

Torna-se necessário se operacionalize urgente descentralização administrativa para que os rubro-negros aglutinados, em todos os quadrantes da Pátria, possam gerar receitas.

Reunificados nas próprias comunidades, em núcleos flamenguistas, sob regime de transparência, com a ajuda da mulher-torcedora, os rubro-negros, sob o signo de um grande amor e altruísmo, elevarão o
Flamengo a alturas inimagináveis. Claro que vai precisar de muita interação, tanto pessoal quanto via internet.

Não desconhecer a existência de milhares de flamenguistas nas diversas regiões brasileiras, destacados nas mais diversas especialidades, todos desejosos de poder contribuir com o clube do coração. É indispensável a quem pretenda exercer a presidência do Clube Mais Querido do Mundo seja dotado de inteligência, honradez, coragem, grandeza de vistas, serenidade e amor ao diálogo.

Se souber bem assessorar-se, se souber atrair as sumidades de vários saberes para dentro da Gávea, transformando a sede numa oficina de ideias, serão alcançados os mais altos objetivos.

08 de novembro de 2012
Hugo Gomes de Almeida


Por que Obama venceu
Obama foi um enorme decepção. Ainda assim , foi bom para os Estados Unidos e para o mundo que ele tenha derrotado Mitt Romney.

Festa em família

Romney é um arquiconservador que simboliza a iniquidade social que se alastrou globalmente nas últimas três décadas – e é o maior drama moderno, aquele que ocupa a prioridade entre as prioridades de homens públicos sérios em toda parte.

A imagem que ficará de Romney para a posteridade é a do magnata que, sem perceber que gravavam suas palavras, disse a um dono de cassino que não ligava para os 47% dos americanos mais desassistidos e mais pobres. Para ele, são os “loosers”, os derrotados da sociedade americana.

Obama teve a sorte de enfrentar um candidato que representa o zeitgeist, o espírito do tempo, às avessas. Romney é um daqueles casos de ricos que encontraram múltiplas maneiras de sonegar – dentro da legalidade amoral – impostos.

As únicas duas declarações de renda que ele publicou, depois de intensa pressão, mostravam que ele pagou de imposto alguma coisa na faixa de 13% — uma ninharia, uma migalha, um absurdo para quem tem uma fortuna como a dele.

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EFEITO CHINA

Romney acusou a China de competição desleal, mas não hesitou, em sua vida de empreendedor, iniciada aliás graças a uma milionária herança paterna, em usar mão de obra chinesa em empresas que ele comprou semiquebradas para — fazendo cortes brutalmente e assim dando aparência de saúde a negócios na realidade doentes — vender logo depois com altos lucros. Romney é o Gekko, do filme Wall Street, na vida real.

Obama, espertamente, explorou isso em sua campanha. Obama incorporou, sem citar, as linhas essenciais dos protestos do movimento Ocupe Wall Street. Ele caracterizou Romney como o “1%” e disse querer governar os Estados Unidos por mais quatro anos em nome dos menos afortunados – os “99%” do OWS.

Espera-se que, em seu segundo mandato, Obama faça mais do que fez no primeiro pelos “99%”. Se der foco a atenção a eles, talvez se ocupe menos em matar inocentes no Oriente Médio com os infames drones, os aviões de guerra não tripulados.

O conceito de “justiça social” deu a vitória a Obama, assim como derrotou, há seis meses, o presidente francês Nicolas Sarkozy.

Com enorme atraso, num artigo no Estadão, FHC notou que para o PSDB não virar insignificante o partido tem que se conectar com os pobres, ou, sigamos na linha do OWS, os 99%.

Mas isso não se materializará enquanto as lideranças tucanas forem políticos como Serra, Alckmin e Aécio. São homens que representam exatamente o oposto, o 1%, e que por isso são tão favorecidos por colunistas como Dora Kramer, Merval Pereira e Arnaldo Jabor, entre tantas outras almas gêmeas – articulistas arquiconservadores que dão apoio a ideias como as de Mitt Romney mas não dão votos.

08 de novembro de 2012
Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)

Aumento da demanda também contribui para a morosidade da Justiça
De acordo com os dados divulgados no dia 29 de outubro pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os tribunais brasileiros resolveram 26 milhões de ações em 2011, o mesmo volume de processos que ingressaram ao longo do ano, o que indica crescimento de 7,4% em relação a 2010.

Analisando o Relatório, se conclui que o aumento continua insuficiente para reduzir o estoque de casos pendentes na Justiça. O principal motivo é o aumento da demanda, que só no ano passado o número de casos novos subiu 8,8%, atingindo quase 90 milhões.

Essa é a oitava edição do Relatório, iniciado em 2006, e apresenta diagnóstico dos diversos seguimentos da Justiça brasileira, com indicadores sobre demanda, produtividade, pessoal e despesas.

O levantamento feito pelo CNJ revela que a maior causa de morosidade que atravanca a celeridade processual, é a quantidade de execuções de títulos extrajudiciais fiscais – correspondentes a 35% do total de processos que tramitaram na 1ª instância em 2011, apresentando taxa de congestionamento de 90%.

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INSS NA LIDERANÇA

Na Justiça Federal, na qual tramitam processos envolvendo empresas e órgãos federais, a liderança cabe ao INSS, com 34,35% dos processos, ante 12,89% ligados à Fazenda Nacional, 12,71% da Caixa Econômica Federal, 11,51% da União e 2,01% da Advocacia-Geral da União. Em todos esses casos, um aberratio juris, o advogado que fez a captação e sustentou o processo durante anos, não tem seus honorários incluídos na fatia destinada ao INSS e a Fazenda, em flagrante arrepio ao direito de sua verba alimentar.

Outro dado alarmante é a despesa da Justiça que atingiu R$ 50,4 bilhões no ano passado, o que mostra aumento de 1,5% em relação a 2010, desconsideradas as inclusões de tribunais feitas no relatório relativo a 2011. Aproximadamente 90% desta despesa correspondem a gastos com recursos humanos (R$ 45,2 bilhões), considerando todos os servidores ativos, inativos, servidores que não integram o quadro efetivo, além de gastos com ajuda de custo, diárias, passagens e auxílios.

Em suma, do orçamento anual, 93% são consumidos pela folha salarial, contemplando os altos salários do Judiciário. O relatório traz ainda recomendações ao Poder Judiciário, com base nos dados apurados. Entre elas, está a criação de indicadores que mensurem o tempo processual, já que a “celeridade e o tempo de processo são questões muito levantadas e cobradas pela sociedade”.

A ideia é informar à população a diferença entre a data de distribuição de um processo e a sua data de baixa. A medida, conforme destaca o documento, “possibilitará a criação de faixas de intervalo de tempo processual, ou seja, dividir o quantitativo de acordo com o seu tempo de duração”.

08 de novembro de 2012
Roberto Monteiro Pinho

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