"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 2 de novembro de 2012

MAIS NEGAÇÃO COM RELAÇÃO À CRISE FINANCEIRA

 

Consegui evitar ler o perfil de Glenn Hubbard no The New York Times até o momento. Mas vou deixar a consultoria para outros e falar sobre as más teorias econômicas.



Glenn Hubbard repete o que agora se tornou a linha do partido: que todas as recessões profundas são as mesmas e devíamos ter tido uma curva de recuperação em V da crise de 2008-2009, de modo que é tudo culpa de Obama:

“É absolutamente possível, tanto em termos dos modelos de efeitos políticos sobre a recuperação e experiência histórica”, ele disse num tom professoral, mas não condescendente. “Se você examinar a recuperação dos anos 74, 75 ou 81 e 82, facilmente observará um crescimento do emprego nesta faixa. Nós temos uma miscelânea de políticas erradas. Tivemos um choque horrível, estamos numa situação diferente, mas poderíamos estar muito melhor”.

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DUAS IDÉIAS

As palavras me fogem. Bem, na verdade não. Aqui estão algumas: logo no início da crise, bem antes de as pessoas que hoje assessoram Romney estarem mesmo dispostas a reconhecer que houve um problema, havia um debate entre duas ideias: que as recessões profundas sempre foram acompanhadas de uma recuperação rápida e que recessões provocadas por crises financeiras – que forçaram a política monetária no sentido de juro quase zero – foram seguidas por recuperações lentas “de desemprego” .
É o que tenho afirmado desde janeiro de 2008.
 
Isto não foi apenas uma questão política: os especialistas em prognósticos para o setor privado também ficaram divididos. Inúmeras pessoas previam uma recuperação em V. Mas estavam erradas e acabaram tendo de admitir que estavam erradas ou então ficaram em silêncio.
 
Os dados de Reinhardt-Rogoff sobre consequências de crises são oportunos neste debate, mas se somam à conclusão de que a recuperação de 2008-2009 não foi provavelmente similar às de 81-82 ou 74-75. E esta é uma opinião avalizada pela teoria, pela história e, como se verifica, pelas previsões acertadas na crise atual.
 
E a equipe de Romney está simplesmente rejeitando-a, porque é politicamente conveniente ignorar tudo isso. Incrível.

02 de novembro de 2012
 Paul Krugman

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