"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 16 de dezembro de 2012

DUAS TENTATIVAS - UMA BOA, OUTRA RUIM - DE REGULAMENTAR A INTERNET

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Muitos temem que novas regulamentações prejudiquem a liberdade na internet (Reprodução/Internet

Enquanto Washington quer tornar leis de privacidade mais robustas, a União Internacional de Telecomunicações discute formas de trazer a rede para sua alçada

Duas medidas que afetarão a privacidade de usuários da internet nos próximos anos estão atualmente sendo discutidas em lados opostos do planeta. A primeira se refere à determinação de uma comissão do Senado americano de tornar as leis americanas de privacidade online ainda mais robustas.

A segunda preocupação se refere a esforços da União Internacional de Telecomunicações (UIT), um órgão intergovernamental sob os auspícios da ONU, para reescrever o seu tratado para regulamentar as telecomunicações ao redor do mundo, o qual data de 1988, de modo a trazer a internet para sua alçada.

Muitos temem que o movimento do UIT prejudique a liberdade de a internet não ser influenciada por governos, o anonimato na rede e a sua abertura a todos os usuários – isso sem mencionar o enorme aumento em inovação e comércio que a rede mundial estimulou.

Nenhuma das duas medidas foram formuladas concretamente. Ambas têm o potencial de mudar o status quo de modo determinante: em Washington, sem dúvida, para melhor; em Dubai, certamente para pior.

Primeiro as boas notícias. A medida do Congresso americano, aprovada com ampla maioria pelo Comitê Judiciário do Senado em 29 de novembro, imporia a investigadores criminais nos EUA a necessidade de obter um mandado de busca de um juiz antes de coagir provedores de serviços de internet a fornecerem o e-mail e outros tipos de conteúdo online de uma pessoa.
Hoje em dia, um mandado é necessário apenas para o fornecimento de e-mails não lidos com menos de 6 meses de envio. Caso o e-mail já tenha sido aberto, ou tenha sido enviado há mais de seis meses, tudo que membros das forças policiais precisam é uma intimação assinada por um procurador.

Compare isso à tentativa da UIT de regular a internet, atualmente em trânsito na Conferência Mundial de Telecomunicações Internacionais em Dubai. Ao serem redigidas em 1988, as regulações da UIT acerca das telecomunicações interfronteiriças não continham referência alguma à internet.

O principal objetivo da conferência em Dubai é ampliar a definição de "telecomunicações" de modo a incluir a internet – com a suposta intenção de tapar o abismo digital e levar todos os benefícios da internet aos pobres do mundo.

Mas não se deixa levar por esses alegados ideais. O objetivo é conceder a governos a autoridade de impor cobranças a provedores de conteúdo como Amazon, Google, Facebook e Twitter, que permitem que seus dados cruzem fronteiras nacionais.

Caso seja posto em prática, tais propostas quase certamente desestimulariam o investimento em infraestrutura de rede, aumentaria o custo para os consumidores e dificultaria o acesso à internet justamente para aquelas pessoas que o UIT alega querer ajudar.

Conceder à UIT a jurisdição sobre a internet permitira também que tiranos legitimassem suas ações de censurar o conteúdo que lhes convêm na internet.

16 de dezembro de 2012

Fontes: Economist - Nobbling the internet

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