"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

QUANDO A MEMÓRIA COLETIVA FALHA, AS NULIDADES TRIUNFAM

 


Manter a sanidade às vezes é difícil. A gente gosta de acreditar que sucesso e mérito são diretamente relacionados. Que a informação leva a correções de rumo. Que saber das coisas é necessariamente o primeiro passo de mudanças positivas. Que o futuro é necessariamente melhor. Enfim, acreditar nas coisas necessárias à manutenção da sanidade.

A realidade, entretanto, frequentemente parece desafiar não somente essas crenças, mas também o bom senso.

Todos os dias, as notícias bombardeiam os valores com a trajetória triunfante de nulidades. Com a ressurreição de coisas, pessoas e assuntos que o bom senso indicaria já estarem há muito superados.

Com uma frequência maior que o desejado, o sucesso das nulidades parece ser permanente e inevitável. A informação não parece se acumular na forma de memória ou história.

Na falta de memória, as nulidades chegam a altos lugares que não merecem. O fato é que a ausência crônica de memória coletiva é combustível importante para o sucesso das nulidades.

Frequentemente, parece que as informações e notícias que povoam os jornais todos os dias são tantas, tão graves e tão desagradáveis que acabam não tendo o efeito da indignação. Talvez o volume de más notícias seja tão grande que o seu efeito não mais seja a correção de rumos ou a melhoria da consciência.

Neste conflito entre realidade e valores, tantos fatos, tão numerosos, podem levar à aceitação das coisas como elas são. À percepção de que nada muda ou mudará.

Que tudo é a mesma coisa. Que o melhor remédio é substituir a indignação pela acomodação. Talvez a sensação de impotência esteja institucionalizada. Espero que não.

O fim da indignação leva somente à construção de um mundo mais medíocre, mais injusto, e menos nobre. É aceitar a morte dos valores o que acaba por dar sentido e sanidade à existência do vazio. É aceitar que o bovino adentre de maneira lenta, mas inevitável, o lamaçal.



14 de janeiro de 2013
Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria).

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