"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 24 de fevereiro de 2013

MINISTÉRIO PÚBLICO SE MOBILIZA PARA MANTER O DIREITO DE INVESTIGAR E LEVANTA OS PODRES DOS DEPUTADOS PAULISTAS

 

Um grupo de promotores de Justiça de São Paulo, insatisfeitos com a Proposta de Emenda à Constituição estadual que lhes tira o poder de investigar, está rastreando os processos que têm deputados como réus em ações de caráter civil e penal, incluindo nessa lista os que já sofreram condenação ou que ainda são alvo de inquéritos.



A ofensiva é uma resposta ao avanço da proposta que concentra exclusivamente nas mãos do procurador-geral – chefe do Ministério Público Estadual – a missão de investigar, até no âmbito da improbidade administrativa, secretários de Estado, prefeitos e deputados estaduais – tarefa hoje conduzida por promotores em qualquer município.

O mapeamento é informal – os promotores pretendem mostrar apenas a razão para a tentativa de “amordaçar” a classe. Também não se trata de iniciativa institucional, mas de alguns promotores preocupados com o risco de perderem prerrogativas que conquistaram em 1988 – a Constituição conferiu ao Ministério Público o papel de fiscal da lei.
Eles pesquisam parlamentares paulistas que assinaram a PEC: 33 ao todo. A consulta, ainda parcial, indica que seis deles estão sob investigação.
A proposta vai à Comissão de Constituição e Justiça. Alguns deputados estaduais rastreados têm mais de uma pendência nos tribunais.

PODER DE INVESTIGAR

O procurador-geral de Justiça, Márcio Fernando Elias Rosa, defende enfaticamente o Ministério Público e não abre mão dos poderes que lhe foram conferidos, mas quer evitar atritos com a Assembleia paulista, a maior do País, com 94 deputados.

“As sucessivas investidas que ressurgem contra o regime constitucional do Ministério Público não encontrarão, não encontraram no passado, apoiamento no meio social e jurídico e haverão de ser rechaçadas pelo próprio Legislativo ou pelo Judiciário”, disse, acrescentando:

Segue a mesma linha do procurador-geral a Associação Paulista do Ministério Público, que congrega promotores e procuradores. Seu presidente, Felipe Locke Cavalcanti, afirmou em nota que a entidade é contrária à proposta, por considerar que “ela cerceia, restringe e coíbe o poder de atuação dos promotores, prejudicando a população e o andamento de investigações de grande importância”.

Locke ressalta que a proposta pretende reeditar atribuições previstas no inciso V do artigo 116 da Lei Orgânica do MP do Estado. Nesse inciso, a eficácia da expressão ‘ação civil pública’ está suspensa por liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de Inconstitucionalidade 1285/SP. Na prática, essa liminar abriu caminho para que os promotores instaurem inquéritos e proponham ações civis contra gestores públicos com base na Lei de Improbidade.

FIM DO AUXÍLIO-MORADIA

A proposta do deputado Campos Machado, do PTB, joga na mesa do procurador-geral competência única para investigar no âmbito civil secretários de Estado, prefeitos e deputados estaduais – em matéria criminal, essa missão já é do mandatário do Ministério Público.

A proposta foi apresentada depois que a Promotoria arrancou dos deputados o auxílio-moradia – em ação civil, liminarmente acolhida pela 13.ª Vara da Fazenda, a Promotoria apontou inconstitucionalidade na regalia concedida a todos os deputados.
A ação mostra prejuízo anual de R$ 2,5 milhões aos cofres públicos.

Promotores que se lançaram ao rastreamento dos antecedentes de deputados acreditam que a ira da Assembleia não se deve à perda da verba de moradia, mas ao contingente cada vez maior de colegas que vão para o banco dos réus em ações por improbidade, enriquecimento ilícito e fraudes. Essas infrações, na maioria dos casos, teriam sido praticadas por eles quando ocupavam cargos no Executivo, como prefeitos de seus municípios de origem.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG No Congresso Nacional tramita proposta idêntica, que visa extinguir os poderes de investigação conquistados pelo Ministério Público. A sociedade civil organizada – perdão, mesmo desorganizada – devia lutar contra esse tipo de projeto de lei, que só interessa aos políticos corruptos e criminosos do colarinho branco. (C. N.)

24 de fevereiro de 2013
Fausto Macedo e Bruno Boghossian (O Estado de S. Paulo)

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