"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

NOVELA CUBANA


Se os eficientíssimos serviços de repressão cubanos, que há anos espionam Yoani Sanchez dia e noite, tivessem descoberto a menor prova de suborno, a "agente milionária da CIA" já estaria presa. É sintomático que, para eles, alguém só discorde do governo se levar dinheiro. Freud diria que estão falando deles mesmos.

Antigamente eles queriam ser mais realistas que o rei, hoje tentam ser mais tirânicos que os tiranos, como mostraram os protestos contra Yoani em Recife, Salvador e Feira de Santana, não só com gritos e faixas, mas esfregando dólares falsos no seu rosto e puxando os seus cabelos.

Mas Yoani até gostou dos protestos, como um sopro de democracia para quem vive numa ditadura sufocante, e se divertiu ouvindo velhas palavras de ordem "que nem em Cuba se ouvem mais". O resultado foi uma repercussão muito maior – maciçamente a favor da blogueira – do que teria a sua viagem ao Brasil.

No sertão baiano, uma milícia de talibãs tropicais impediu a exibição do filme Conexão Cuba-Honduras, porque não queriam discutir nada, mas calar o opositor no grito. Quando conseguiu falar, Yoani disse que vive numa sociedade "onde opinião é traição" e eles vaiaram. Mas deveriam aplaudir, porque no Brasil que eles sonham também será assim. A maior fragilidade da democracia é poder ser usada livremente pelos que querem destruí-la, a começar pela liberdade de expressão.

Yoani escreve, descreve e analisa muito bem o cotidiano de Cuba, mas suas criticas não são violentas, debochadas ou incendiárias. Muitas vezes são crônicas sobre as dificuldades para comprar um ovo, o elevador quebrado há oito anos, a escassez de quase tudo, os roubos e malandragens sistêmicos, a internet lenta e censurada, os privilégios da elite.

Como quase todos num país ainda na idade do byte lascado, Yoani não tem conexão em casa. É obrigada a postar em hotéis a preços absurdos porque as poucas lan houses são só para estrangeiros e seu blog não pode ser acessado na ilha.

Agora Yoani quer usar o dinheiro dos seus prêmios culturais ganhos no exterior para fundar um jornal independente. Ley de Medios em Cuba já!

22 de fevereiro de 2013

Nelson Motta (O Estado de S. Paulo)

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