"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 21 de abril de 2013

TIRADENTES : UM HERÓI NACIONAL E UMA FIGURA RARA

Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, nasceu em 16 de julho de 1746 e foi executado em 21 de abril de 1792


Um dos raros consensos de nosso tempo é o da ausência de heróis, de gigantes na paisagem humana e intelectual deste início de século, disse Carlos Heitor Cony em crônica escrita para a Folha de São Paulo em maio de 2004. No texto, o escritor ainda complementou seu pensamento afirmando que, se os heróis contavam com pouco espaço na história e nas cabeças das pessoas, os vilões não tinham esse problema: reis dos noticiários, esses têm vida breve e atuação datada, mas, enquanto estão atuando, roubam a cena de tal forma que fica impossível ignorá-los. Na ocasião, Cony citou Waldomiro Diniz, Cachoeira, Celso Pitta e Paulo Maluf. Não é difícil presumir que, fosse escrito hoje, o texto citaria Delúbios e Valérios.
Apesar da ausência de heróis na memória dos brasileiros, agravada pela tímida atenção que recebem dentro das salas de aula e nos livros escolares, algumas figuras ilustres se destacam e parecem ter seus feitos históricos bem claros para a maioria dos cidadãos. É o caso de Tiradentes – herói com direito a feriado nacional, o que torna mais fácil a sua memorização e valorização.

A ocorrência Tiradentes aparece aproximadamente 2.160.000 vezes no buscador Google, o que mostra que não é difícil encontrar dados relacionados a essa personalidade, diferente do que acontece com outros grandes nomes da história brasileira.

O fim da vida de Joaquim José da Silva Xavier, que viveu no século XVIII lutando pela independência do Brasil em meio à dominação dos portugueses, remete a questões relacionadas à impunidade que observamos ainda hoje no país. Quando a Inconfidência Mineira foi delatada, em 1789, por Joaquim Silvério dos Reis, seu líder Tiradentes não contava com influências políticas ou econômicas suficientes para reduzir a sua pena. Alguns filhos da

aristocracia foram condenados a penas mais brandas quando houve o julgamento dos inconfidentes em 1792. Os castigos podiam ser, por exemplo, o açoite em praça pública ou o desterro. A Tiradentes – e apenas a ele, entre todos os membros da Inconfidência – restou a execução, em 21 de abril de 1792, e ainda a exposição de partes de seu corpo em postes da estrada que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais. Sua casa foi queimada, seus bens foram confiscados e seus descendentes foram declarados infames.
Se ainda hoje nota-se e protesta-se contra o tratamento vip dado a presos que têm boas condições financeiras ou influências – ou ambos – em outros quesitos o Brasil atual é bem diferente da terra habitada por Tiradentes. Ele nasceu em 1746 na Vila de São João Del Rey, hoje a cidade mineira que leva o seu apelido – Tiradentes – e foi criado em Vila Rica – hoje Ouro Preto. Nessa época não havia no país constituição nem o direito de desenvolver indústrias em território brasileiro, e os impostos cobrados do povo pela metrópole eram extorsivos e provocavam revolta.

Tiradentes ficou órfão cedo, aos 11 anos. Trabalhou como mascate, pesquisou minerais e foi médico prático. Diz-se que tinha a habilidade de extrair dentes e colocar novos que ele mesmo fazia. Como militar, pertenceu ao Regimento dos Dragões de Minas Gerais. No posto de alferes comandava uma patrulha de ronda do mato, prendendo ladrões e assassinos.

A conspiração representada pela Inconfidência Mineira agregou militares, escritores de renome, poetas famosos, magistrados e sacerdotes e, influenciada pela independência dos Estados Unidos em 1776, tinha como principais idéias proclamar uma república independente, com a abolição imediata da escravatura; construir uma universidade; promover o desenvolvimento da educação para o povo e outras reformas sociais. O movimento planejava chamar o povo para protestar no dia em que o governo fizesse a chamada derrama – nome dado à cobrança de impostos – mas não chegou a se concretizar, devido à traição de Joaquim Silvério dos Reis, que se passou por companheiro para denunciar o grupo.

Tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional em 1938, a cidade de Tiradentes apresenta um acervo barroco que permaneceu escondido por muito tempo e hoje está sendo visto por visitantes de diversas origens. Entre seus pontos turísticos principais estão capelas construídas no período em que viveram os membros da Inconfidência – algumas foram habitadas por padres que participaram da conspiração – e o casarão da prefeitura, construído em 1720.

Templos históricos que remetem ao período vivido por Tiradentes, entre igrejas, museus e construções. Estão entre as atrações o Museu do Aleijadinho, o Museu da Inconfidência – que reúne documentos relacionados à Inconfidência – e 19 igrejas e capelas. A cidade foi também tombada como Patrimônio Nacional, em 1938, e declarada Patrimônio Cultural da Humanidade em 1980 pela Unesco.

12 de abril de 2013
opinião e notícia

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