"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 22 de junho de 2013

DILMA CITA "LIMITAÇÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS" E DIZ QUE VIOLÊNCIA EN VERGONHA O BRASIL

Presidente diz que é preciso aproveitar o vigor das manifestações para realizar as mudanças que a juventude deseja

 

BRASÍLIA — A presidente da República, Dilma Rousseff, fez um apelo em cadeia nacional nesta sexta-feira para que a população compreenda algumas “limitações políticas e econômicas” do momento para realizar as mudanças cobradas nos protestos que levaram milhões de pessoas às ruas nas últimas semanas, e elogiou, mais uma vez, o vigor das manifestações que pedem mudanças. Dilma ressaltou que tais atos mostram a força da democracia, conquistada com muita luta.

— Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas.
Mas, se deixarmos que a violência nos faça perder o rumo, estaremos não apenas desperdiçando uma grande oportunidade histórica, como também correndo o risco de colocar muita coisa a perder — disse ela.

Dilma voltou a falar da importância e do valor das manifestações populares pacíficas numa democracia, mas condenou, com duras críticas, a violência de grupos isolados nos protestos de rua. Ao falar sobre a violência, ela ressaltou a necessidade de respeito à democracia e ao diálogo, e também sobre a importância de se manter a tranquilidade para a Copa das Confederações.

— O Brasil lutou muito para se tornar um país democrático. E também está lutando muito para se tornar um país mais justo. Não foi fácil chegar onde chegamos, como também não é fácil chegar onde desejam muitos dos que foram às ruas. Só tornaremos isso realidade se fortalecermos a democracia, o poder cidadão e os poderes da República.

Os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo, de propor e exigir mudanças, de lutar por mais qualidade de vida, de defender com paixão suas ideias e propostas, mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira — disse ela, que completou um pouco mais adiante:

— Essa violência, promovida por uma pequena minoria, não pode manchar um movimento pacífico e democrático. Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil.

A presidente disse ainda que o governo está atento às reivindicações do movimento e que o esforço será no sentido de atentar aos pleitos. Dilma garantiu que irá procurar representantes de todos os poderes para, juntos, “criar um grande pacto” para melhorar os serviços públicos.
Ela anunciou quatro prioridades: elaboração de um plano nacional de mobilidade urbana; repasse de 100% dos recurso do petróleo para a educação; trazer milhares de médicos do exterior para atender no sistema público de saúde; e receber os líderes das manifestações pacíficas.

Dilma destacou ainda que é preciso “oxigenar o sistema político” para tornar “mais transparentes os malfeitos”, lembrando que é preciso ser feita uma reforma política e ampliar a Lei de Acesso à Informação.

— A Lei de Acesso é um poderoso instrumento para fiscalizar os gastos de dinheiro público
Sobre o caráter apartidário que tem aparecido em manifestações, Dilma expôs o seu ponto de vista de forma clara:

— É um equívoco que a sociedade prescinda de partidos políticos.
A presidente lembrou que os recursos investidos para a Copa do Mundo não saíram do Orçamento.

Reuniões com ministros

Pela manhã, após se reunir com ministros, Dilma voltou do Palácio da Alvorada ao Planalto. No fim da tarde, ela recebeu o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Raymundo Damasceno e o presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL). Antes do encontro, Dom Raymundo disse que esperava que Dilma se manifestasse sobre a onda de protestos violentos que atingiu diversas capitais e municípios do país.

Depois de se reunir com a presidente Dilma, Dom Raymundo Damasceno Assis, disse não estar preocupado com a segurança dos participantes da Jornada Mundial da Juventude, entre 23 e 28 de julho, no Rio. Segundo Dom Damasceno, a presidente garantiu a segurança dos fieis e do Papa Francisco, que chegará ao Brasil dia 22 de julho.

— É missão do Estado, é missão do município, é missão do próprio governo estadual dar garantias a todo cidadão que vem ao Brasil. Isso é fundamental. E é claro que ela vai nos garantir, porque se trata de um evento grande, um acontecimento grande. Nós falamos em 2 milhões de pessoas, sobretudo jovens.
E ainda o Santo Padre, que sempre foi acolhido de maneira calorosa — disse o cardeal.
No encontro, Dom Damasceno reafirmou a mensagem da CNBB de apoio às manifestações, mas condenando a destruição do patrimônio público e a violência.

Mais cedo, a CNBB divulgou nota sobre as manifestações em todo o país. A entidade declarou solidariedade e apoio às manifestações, mas condenou a violência.

— As manifestações têm nosso apoio e nossa solidariedade. O que rejeitamos é a depredação do patrimônio público e privado. É preciso respeitar o direito de ir e vir das pessoas — disse Damasceno, que estimulou a sociedade a participar desses atos.

— Que a sociedade procure ir e entender o que quer nos dizer essas manifestações. Pede que se reveja as políticas públicas. Insistimos que a violência não leva a nada. Na democracia nada se resolve pela violência, mas de outras formas. Se muda de vários modos, até pelas urnas.

22 de junho de 2013
O Globo

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