"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 29 de junho de 2013

DORMINDO COM O INIMIGO


Hoje vou lutar pelo inimigo. Passei na Livraria da Vila, no shopping Higienópolis, e fui ver o que havia de novo em matéria de literatura religiosa. A estante é paupérrima em bons títulos. Sob a rubrica Religiões, estão dispostos livros catequéticos e de auto-ajuda, algo sobre judaísmo, islã e espiristismo e o resto é silêncio. Vez que outra, encontro um estudo sério, como os livros de Bart Erhman. Com sorte e paciência, sempre se cata algo legível.
Hoje, encontrei uma edição no mínimo curiosa, Cristianismo, organizada por Ann Marie b. Bahr, impressa na China, em português, e publicada em Postdam, Alemanha, 2011. Capa dura, iconografia belíssima, dimensões 32,5 x 24,5cm, 448 páginas. Atenção: 3,3 quilos.

Trata-se de uma muito bem elaborada história do Cristianismo, que analisa a religião, desde seu surgimento, a Bíblia, a oração, os ritos religiosos, entre outros tópicos. No cardápio: Os primeiros cristão e as primeira igrejas; O Cristianismo durante o Império Romano; O Sacro Império Romano; As cruzadas; As mulheres cristãs ao longo dos séculos; A Reforma; Espanha, Portugal, e a Inquisição; A Igreja anglicana; A Contra-Reforma; Ciência e Religião; Os cristãos indígenas; Do evangelismo ao tele-evangelismo; entre outros.

Não é livro para ler de cabo a rabo. É mais um dicionário, onde podemos nos informar sobre concílios, dogmas, expansão da nova religião, Reforma e Contra-reforma, outros cristianismos. Em uma primeira trecheada, a exposição pareceu-me honesta. De qualquer forma, o volume traz os dados básicos sobre o cristianismo. Recomendo. Particularmente pela farta iconografia. Quem gosta de arte sacra vai delirar. É obra que enobrece uma biblioteca.

É daqueles livros que não se pode deixar de comprar quando o vemos numa livraria, pois logo sai do mercado e depois só em bibliotecas. Preço amistosíssimo, coisa de livro editado na China,199 reais. No Brasil, não sairia por menos de 500 reais. Consegui 15 % de desconto e tinha um bônus de 30 na livraria. Paguei 140.

De lambuja, resolvi dar-me mais um presentinho, O Livro dos Santos, assinado por Rogério de Campos, uma coletânea de santos propósitos destes heróis da Santa Madre. Vale a pena. Segue uma mostragem, o curioso itinerário de Santo Onofre, bela demais para ser feliz.
Santo Onofre, antes de ser santo, era uma moça muito bonita no Egito do século IV. Alguns dizem que era muito virtuosa, enquanto outros afirmam que, ao contrário, era bem dissoluta. Seja como for, todos concordam que era uma mulher muito bonita, que um dia cansou-se do assédio masculino e pediu a Deus que a livrasse daquela incômoda beleza.

Deus atendeu aos pedidos de Santo Onofre e fez com que ficasse feia e barbada. Santo Onofre tornou-se então uma eremita. Andava nua, coberta apenas pelos longos cabelos e pela longa barba. Diversos retratos antigos a mostram usando uma pioneira minissaia baloné feita de folhas. Mas na Yilanli Kilise (igreja da serpente), na Capadócia, Santo Onofre aparece nua.

Não podemos ver seu sexo por causa de uma grande folha rosada de palmeira, mas podemos ver suas mãos delicadas e seus seios arredondados. Santo Onofre viria do egípcio uen-nefer, “aquele que está sempre feliz e satisfeito”.


Vivendo e aprendendo. Santo Onofre, quem diria? O cristianismo guarda mistérios surpreendentes. O livro promete. Certamente voltarei ao assunto.


29 de junho de 2013
janer cristaldo

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