"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 12 de junho de 2013

"MOVIMENTO PASSE LIVRE"

Milhões de trabalhadores e estudantes são reféns da truculência de meia dúzia de bandidos fascistoides; entes do estado brasileiro, patrulhados por militantes da imprensa, se mostram fracos e hesitantes na manutenção da ordem


Milhões de trabalhadores e estudantes que querem trabalhar e estudar são hoje reféns da vontade de meia dúzia de vagabundos, que se outorgam o direito de suspender o seu direito de ir e vir, assegurado pela Constituição. Os fascitoides — alguns deles apropriadamente vestidos de negro e mascarados, como bandidos que são — impõem a sua vontade de forma truculenta, na base da força bruta, e ainda são incensados por certa imprensa e por intelectuais do miolo mole.
 
A Polícia Militar fica praticamente de mãos atadas e só age mesmo em último caso. No Rio e em São Paulo, vimos carros da PM “acompanhando” a passeata — estavam lá, em suma, para assegurar a integridade daquela gente que lembra a SA nazista, a tropa de assalto comandada por Ernst Röhm. Ontem, até a OAB do Rio entrou em cena. Em defesa dos fascistas, é claro! Já volto a este ponto.
 
Esta terça promete em São Paulo. Os rebeldes sem causa — 200, 300, sei lá quantos — tentarão provocar de novo o caos na cidade sob o pretexto de protestar contra a elevação da passagem de ônibus, que passou de R$ 3 para R$ 3,20 — estudante paga meia. A Paulista deve ser um dos locais de concentração.
Também estão previstas manifestações na avenida de policiais civis descontentes com o salário e de funcionários em greve do setor de saúde. Independentemente da justeza ou não de cada uma das reivindicações, uma coisa é inequívoca: é a população que paga o pato.
 
Todos esses que escolhem uma via central na cidade para se manifestar não fazem reivindicação, mas chantagem. E tornam o povo refém ou de seus interesses particulares ou de suas ideologias amalucadas. O sentido original das greves operárias no fim do século 19 e no século 20 era provocar um prejuízo imediato aos patrões. Respondam depressa: que prejuízo efetivo terão os entes do estado com a anarquia na Paulista e adjacências? Nenhum! O estado gere a riqueza, mas não a gera.
 
Um dos malditos equívocos em voga no Brasil, muito presente em setores do funcionalismo público, é precisamente este: imaginar que exista um estado gerador de riqueza. Não existe. Ao contrário: ele a consome. Pode, eventualmente, atuar como um redistribuidor por intermédio de programas sociais. Só neste ano, a Prefeitura gastará R$ 1,2 bilhão subsidiando as passagens de ônibus, que custam mais do que R$ 3,20.
Os rebeldes sem causa, no entanto, não querem nem saber. E não medem consequências. Quem são esses valentes? Seriam trabalhadores? Operários? Comerciários? Não! Trata-se de militantes do Movimento Passe Livre, da Juventude do PT, do PSOL, do PSTU e do PCO. Também já se veem entre os baderneiros alguns mascarados vestidos de preto. É a versão caipira do “Black Bloc”, movimento que se autointitula anarquista e prega a depredação do patrimônio púbico e privado em manifestações.
 
Vejam as fotos dos protestos em São Paulo, no Rio e em qualquer lugar. Digamos que aquela gente realmente ande de ônibus — a maioria sabe que isso existe por causa de suas empregadas… Os R$ 4,40 (têm direito à meia passagem) que desembolsariam a mais por mês os impediriam de comprar seus tênis importados, suas mochilas da moda, seus jeans de grife?
Quem deu a essa gente o direito de falar em nome de milhões de usuários e de paralisar a cidade com sua pantomima violenta, impedindo os motoristas dos carros e os passageiros de ônibus de chegar às suas respectivas casas no tempo esperado, com óbvios reflexos no sistema de metrô e trens?
Por que 200, 300 pessoas — mil que fossem — se julgam no direito de agir dessa maneira?
 
O crime compensa

Eu me arriscaria a dizer que é porque vale a pena. Sempre que o crime compensa, o que se tem é ainda mais crime — além do aprimoramento das técnicas dos criminosos. Qual é a recompensa que obtém esse tipo de delinquência política? Não é financeira, pecuniária, mas, ousaria dizer, moral — ainda que uma moral torta. Esse tipo de mobilização provoca, sim, prazer, numa era em que todos são convidados, por intermédio das redes sociais, a se “mobilizar contra a opressão”, seja ela de ordem objetiva ou subjetiva.
 
Basta, assim, que um grupo reivindique o estatuto do oprimido para que adquira o direito de enfiar goela abaixo do outro a sua causa. Nesta segunda, vimos se repetir no Rio o mesmo padrão de violência já verificada em São Paulo. Pelo menos 30 pessoas foram detidas. E o que se viu? A seção da OAB do Rio imediatamente se mobilizou em defesa dos… presos! Correu para a órgão policial para acompanhar as diligências, para assegurar que o direito daqueles patriotas não fossem violados. Não que devessem sê-lo, é claro! O ponto é outro: pergunto-me por que a OAB não se interessa por milhões de pessoas que tiveram seus direitos violados pelos manifestantes?
 
A lei brasileira também é ruim para casos dessa natureza. Ainda que um bando seja preso num ato coletivo de depredação do patrimônio público ou privado ou em ações que coloquem em risco, como era o caso, a segurança de milhares de pessoas, vai-se exigir que as condutas sejam individualizadas para que se possa instaurar o devido processo penal, o que é praticamente impossível.
Assim, ficam as vítimas à mercê da sanha dos furiosos. O que vale para as ruas vale, por exemplo, para as invasões patrocinadas pelo MST. Se a polícia prender um bando que tenha acabado de depredar uma fazenda ou um laboratório, será preciso dizer, detalhadamente, quem fez o quê. Trata-se, em síntese, de uma lei que protege o crime cometido em bando.
 
Aqui e ali, já começam a surgir as reportagens de apoio aos trogloditas, com a exposição das deficiências do sistema de transportes, a precariedade dos serviços etc. Não que isso não deva ser noticiado. Mas por que agora? Se o modelo fosse exemplar, o PSTU, o PSOL e o MPL estariam, por acaso, aplaudindo o sistema? O movimento já deixou claro que está pouco se lixando para a questão do transporte em si. Seu negócio, como confessou, é “superar o capitalismo”.
 
Vamos ver. Hoje, mais uma vez, há o risco de que milhões de pessoas sejam submetidas em São Paulo à ditadura de uma minoria de extremistas que decidiu libertar o povo de sua falsa consciência. De que modo? Ora, punindo-o, impedindo-o de ir e vir.
 
12 de junho de 2013
Reinaldo Azevedo

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