"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 12 de junho de 2013

POIS É! O TEMPO É O SENHOR DA RAZÃO: `GUVERNU` PERDIDO...


 
A melhor imagem de um governo perdido é a fotografia da presidente Dilma Rousseff publicada nesse domingo no caderno de Economia e Negócios do Estado.
Cabisbaixa, com a face apoiada na mão direita, olhar vago e expressão de desalento, sua figura é a ilustração perfeita para a principal cobertura econômica - uma entrevista com um ministro da Fazenda acuado pelos fiascos e uma coleção de notícias e comentários sobre os tropeços federais.
"O governo perdeu o rumo", sintetiza o título de um artigo do economista José Roberto Mendonça de Barros. A equipe econômica, informa outro texto, desistiu de anunciar metas ou previsões de crescimento, exportação, arrecadação, inflação e até de prazos para concessões de serviços de infraestrutura.
Apesar dos fracassos, tudo vai bem, recitam os funcionários mais importantes, mas o ministro Guido Mantega, entrevistado, recusou-se a formular uma nova previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, alegando o temor de ser "linchado em praça pública", se o número final apurado for diferente do projetado.
Com um pouco mais de ousadia, a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, havia reiterado no começo do mês a expectativa de exportações em "patamar elevado, semelhante aos de 2011 e 2012".
Mas o valor exportado em 2012 foi inferior ao de 2011 e o deste ano, até maio, ficou, abaixo do de um ano antes. Na melhor hipótese, portanto, repete-se o número de dois anos atrás?
Também no domingo, o Globo destacou a herança fiscal prevista para o próximo governo subsídios ao BNDES e incentivos, fiscais devem retirar R$ 50 bilhões do próximo governo em. seu primeiro ano.
A desordem nas contas públicas, lembra a reportagem, foi uma das razões alegadas pela agência Standard & Poofs para impor um viés de baixa à perspectiva econômica do Brasil - tema inicial: da entrevista do ministro Mantega ao Estado.
No mesmo dia, reportagem da Folha de S.Paulo vinculou à perda de popularidade e aos riscos eleitorais a mudança de política ensaiada pelo governo coma elevação dos juros básicos e a decisão de retorno- ao câmbio flutuante.
A coincidência dos temas está longe de ser uma casualidade e tampouco resulta de urna conspiração da imprensa burguesa contra a reeleição da presidente. A cúpula do governo, segundo informaram fontes federais há mais de uma semana, percebeu o custo político da inflação elevada e resistente e decidiu aceitar o aperto mais forte da política monetária.
Essa mesma cúpula notou, com certeza, os sinais de mudança no mercado financeiro internacional e decidiu facilitar o ingresso de capital - um ato preventivo, em face do risco de um déficit crescente
nas transações do Brasil com o exterior.
O governo, portanto, tem noção dos fracassos, fareja perigos e até encontra justificativas para ensaiar mudanças políticas sem admitir os erros, mas, apesar disso, continua incapaz de encontrar um novo rumo.
Sua política fiscal permanece desastrosa.
A gastança prejudica a eficácia da política monetária e dificulta o combate à inflação. A alta de preços, na versão oficial perde impulso e em breve o problema terminará, Mas os fatos contrariam essa versão, porque desajuste real e muito mais grave que um choque de preços de efeito passageiro.
Incapaz de trocar o populismo, o fisiologismo e o voluntarismo por uma política econômica digna desse nome, o governo insiste na improvisação já denunciada até por alguns de seus técnicos.
As desonerações devem chegar a R$ 72,1 bilhões neste ano e a R$ 91,5 bilhões em 2014, disse ontem o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland. Na semana passada, medida provisória sobre transferências ao BNDES já havia prenunciado mais buracos no Tesouro.
De improvisação em improvisação, o governo continua desmontando os fundamentos da economia e compondo uma herança maldita para o próximo governo. Chega a parecer estranho a presidente insistir nessa política e ainda pretender a reeleição.
Ou será apenas mais um desatino?
 
O Estado de S. Paulo
12 de junho de 2013

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