"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

TEMPOS INTERESSANTES

"Que você viva tempos interessantes”.

Essa antiga maldição chinesa é explicada assim pelo engenheiro Demi Getschko, um dos pioneiros da internet no Brasil:

“Ao que se diz, os antigos sábios chineses consideravam a estabilidade dos tempos o melhor ambiente para a evolução do pensamento, para o seguimento calmo da vida, para se obter a felicidade em terra. Assim. desejar “tempos interessantes” a alguém significaria profetizar tribulações, agitação, mudanças, dificuldades de enraizamento e falta de tranquilidade e de paz. Em resumo, tempos difíceis, fluídos e perigosos”.

Foi por isso que o historiador inglês Eric Hobsbawm deu o título de “Tempos Interessantes” à autobiografia onde relata sua inserção nos fatos que abalaram o mundo entre as duas grandes guerras.

Nossos tempos interessantes incluem turbulências que envolvem o jornalismo e os dias políticos que o País vive.

Parece não haver nada de comum entre os dois fenômenos, mas no mesmo momento em que, como diz a revista eletrônica norte-americana Salon “o Iceberg comprou o Titanic” (referindo-se á compra do jornal Washington Post pelo empresário Jeff Bezzos, fundador da Amazon), um “coletivo” alternativo chamado Midia Ninja, ganha espaço na mídia tradicional como um exemplo da emergência de uma nova forma de jornalismo que veio para transformar o mundo.

Ninja, palavra formada pelas iniciais do “coletivo” Narrativa Independente Jornalismo e Ação, um grupo alegadamente apartidário (mas que circunstancialmente é capaz de comprovar que “non tropo”), tornou-se célebre nas coberturas dos protestos de rua e foi saudada no mínimo como uma intrigante tendência revolucionária destinada a estabelecer novos padrões para a indústria da informação em dolorosa transição do processo analógico para o digital.

Revoluções para todo lado. A “crise narrativa” da velha mídia, foi penosamente descrita por Capilé e Bruno Torturra, os líderes inspiradores do Ninja no programa “Roda Viva”.

Eles não conseguiram narrar claramente nem o que seriam as “multiparcialidades” nem como funciona o seu mecanismo de financiamento, e deixaram claro que o dinheiro público seria bem recebido, já que a velha mídia também o recebe. ( Substituiriam talvez o critério de audiência pelo do merecimento?)

Coincidência ou não, na mesma semana, a velha mídia atirou-se com tenacidade a deslindar os meandros de um suposto cartel denunciado pela Siemens nas concorrências para o metrô de São Paulo em governos do PSDB e que está sendo investigado pelo CADE, pelo MP e pela PF.

Nada a opor à dedicação da velha mídia.É seu dever empenhar-se na tentativa de esclarecimento do caso, embora seu ímpeto investigativo,como sempre, se limite a transcrever informações vazadas.

Mas isso não justifica o deslizamento de sentido, que levou um dos jornais – a Folha - a publicar uma manchete lançando uma acusação sobre um nome importante da oposição, José Serra, que é desmentida em um dos parágrafos do próprio texto; a reportagem diz que “os documentos examinados (pelo jornal) nao contém indícios contra José Serra”.

Crise narrativa ou tempos interessantes?

09 de agosto de 2013
Sandro Vaia é jornalista.

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