"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

DÁ UMA CARONA AÍ, NA PRÓXIMA MANIFESTAÇÃO?

Nasceu em 5/12/1935, Limoeiro – Pernambuco. Na metade da década de 1950 foi dirigente estudantil e posteriormente dirigente dos servidores federais, até março de 1964. Colaborava com os jornais comunistas pecebistas "Folha do Povo" (PE, “A Hora” (PE) e “Novos Rumos” (RIO).

Estudou no Instituto Superior de Ciências Sociais (Moscou). Após o golpe militar ficou preso, em Recife, até julho de 1965 e demitido do serviço público (Ato Institucional nº1).

Transferiu-se para o Rio de Janeiro na clandestinidade, até nova prisão em 1970/1972. Respondeu a vários processos na Justiça Militar (UNE/UBES, IAPB, PCB, etc.) e condenado a revelia. Esteve exilado no Chile e em Cuba.

Foi anistiado com a promulgação da Lei de Anistia de 1979, na primeira lista de anistiados, divulgada na imprensa. Em janeiro de 1992, com a criação do PPS, faz parte, desde então, da sua direção nacional e do diretório estadual do Rio de Janeiro.
Participou, nos anos de 1980, da Cooperativa Brasileira de Cinema e do Conselho Editorial da revista Presença.
Atualmente, é membro do Conselho Editorial da revista Política Democrática, da Fundação Astrojildo Pereira.
No blog de Gilvan Cavalcanti de Melo - Rio de Janeiro

Politizar para avançar

- Artigo de Roberto Freire, deputado do PPS/ex-PCdoB -

Já há algum tempo que setores de classe média buscam mobilizar o conjunto da população contra a corrupção, desde o movimento do “cansei”, no segundo mandato do governo Lula, sem, no entanto, conseguir sensibilizar o grosso da população para essa bandeira, mesmo que saibamos que quem mais perde com os desvios de recursos são os setores mais pobres da população que enfrentam um déficit na melhoria da qualidade de vida, como se pode observar pela falta de saneamento, precária educação pública, falta de assistência médica adequada e segurança. Quem perde são os mais pobres, é verdade, mas justamente são eles os mais facilmente manipuláveis pelo políticos por falta de instrução e conhecimento.
Depois da conquista da Lei da Ficha Limpa, fruto de um amplo e difuso movimento da classe média sustentado e alimentado pelas redes sociais, aprovado pelo Congresso ( ? ) por meio de uma votação que mobilizou a cidadania, setores sociais ampliaram e cristalizaram sua reivindicações, no mesmo momento em que buscavam apoio para as mesmas. O deputado do PPS, que já foi do PCdoB usa pela segunda vez o termo classe média em seu artigo que, mesmo de maneira disfarçada, pode ser usado de forma um tanto discriminatória ou pejorativa quando repetido insistentemente, principalmente quando usado por simpatizantes a grupos de baixa renda, vistos sempre "como pobre coitados explorados pela ... classe média. Aliás, gostaria de saber se os deputados se consideram uma simples classe média ou já perceberam que se aproveitam de seus cargos para se tornarem uma classe privilegiada (apenas em termos monetários, é claro).

Claro que é auspicioso jovens se conectando e participando das discussões dos problemas do país como vemos agora. Mas é fundamental que se compreenda que nos sistemas democráticos, mais cedo ou mais tarde, todas as questões que dizem respeito à cidadania terão que encontrar o caminho institucional da representação política, intermediada pelos partidos. Já deu para perceber que as atuais mobilizações tanto incomodam como atiçam os políticos, que andam loucos para pegar uma carona na insatisfação da, como disse o politico do PCdoB, classe média. Ora! Por serem facilmente manipuláveis, desde quando a classe pobre brasileira se mobiliza ?

Essa marcha contra a corrupção, que se dá em seu sentido genérico, sem definir concretamente contra que instância ou órgão do governo se realiza, a continuar como está, tem grande chance de não alcançar seu objetivo se não for politizada. O movimento não é genérico, no sentido que deu o deputado do PCdoB, pois é genérico apenas em outro sentido: o que lhe foi dado à marcha por seus participantes: ABRANGE TODOS OS POLÍTICOS, TODAS AS INSTITUIÇÕES, TODOS OS ORGÃOS DO GOVERNO, TODA ESSA CORJA DE CORRUPTOS QUE NÃO FAZEM NADA MAIS DO QUE MAMAR NAS TETAS DE UMA MÃEZONA QUE NÃO É DELES. E tem tudo para dar certo, sim, do contrário não estaria incomodando tanto políticos, como vem acontecendo.

Movimentos apolíticos podem ter um certo charme, sobretudo em sociedades, como a nossa, cujos parlamentos gozam de pouca confiança de seus cidadãos. Mas, como aconteceu com o projeto da Ficha Limpa, sua resolução necessariamente terá que passar pelo parlamento (Pois é... parlamentares jamais votarão contra seus interesses escusos), como passou a imensa mobilização pelas diretas já para a eleição de presidente da República (as 'diretas já' servem como exemplo para mostrar o que acontece quando partidos políticos pegam carona na vontade popular e dela se aproveitam) . Que mesmo derrotado pela maioria que ainda detinha a ditadura em seu estertor, não impediu a vitória da oposição com a eleição de Tancredo-Sarney, que pôs fim ao ciclo militar, imposto em 1964. (NÃO IMPEDIU, NÃO! Fez parte dos acertos e conchavos apropriados para o momento).

O fim da corrupção no país não será apenas fruto de um movimento popular, por mais amplo e denso que seja, mas também função de uma profunda mudança em nossa cultura política (ÓTIMO, ENTÃO VAMOS A UMA VERDADEiRA REFORMA POLÍTICA *), começando pelo fim da impunidade aos que se apropriam do dinheiro público. Pelo fortalecimento dos órgãos de fiscalização (Heim? Órgãos de fiscalização? Onde? Existe algum? Qual é ele?) abertos ao escrutínio da sociedade civil, e pela punição exemplar - com perda de direitos políticos, no caso de pessoa física, e impossibilidade de participação de concorrência pública em projetos governamentais e financiamento de bancos estatais, no caso de pessoa jurídica. (Blá-blá-blá político tipicamente oportunista)

A corrupção política está de tal modo entranhada no corpo social - desde o mais humilde servidor público até o mais destacado ministro das altas esferas - que para enfrentá-la precisamos unir esforços dos atores políticos e da sociedade nas manifestações de rua, que viabilizem a criação de comissões parlamentares de inquérito e a aprovação de uma legislação eficaz. ÔOOOOOO !!! É mesmo, é? Pena que já estamos DE SACO CHEIO DE TANTAS COMISSÕES PARLAMENTARES (cruz credo!) que só aprovam a sacanagem. Esse deputado pensa que consegue falar asneira e convencer todos os brasilerios de que preto é azul.

Enquanto não entendermos o papel do parlamento nessa luta, ficaremos presos ao ato, deixando de enfrentar o fato da maneira correta.

Roberto Freire
deputado federal (SP) e presidente do PPS

14 de outubro de 2011
No blog de Gilvan Cavalcanti de Melo - Rio de Janeiro

TOME TINO, DEPUTADO!

No dia em que for permitida a entrada de políticos nos movimentos, sugiro que todos compareçam com máscara respiratória e botas para se protegerem da lama.


( * ) ÚNICA REFORMA POLÍTICA DECENTE E ACEITÁVEL

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