"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 18 de novembro de 2011

AS FALAS CORRETAS DE GENOÍNO E DILMA

As falas corretas de Genoino e Dilma sobre a Comissão da Verdade. Vamos ver se serão postas em prática

Não tenho preconceitos. Quando ouço ou leio coisas sensatas proferidas por pessoas de quem costumo discordar, não tenho receio de declarar: “concordo” — e a inversa também é verdadeira.
José Genoino, ex-presidente do PT, um dos processados no escândalo do mensalão, é quem é, e o arquivo está aí para demonstrar o que penso de algumas de suas ações. Mas disse algo sensato hoje, segundo informa o Portal G1.
Leiam. Volto em seguida.

Ex-preso político na Comissão da Verdade “não dá certo”, diz Genoino

Por Nathalia Passarinho:

O assessor especial do Ministério da Defesa, José Genoino, afirmou nesta sexta-feira (18) que ex-presos políticos não devem integrar a Comissão da Verdade, que será criada para apurar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988 - período que inclui a ditadura militar. Segundo ele, escolher alguém que foi torturado durante o regime militar poderá dar margem a questionamentos sobre a imparcialidade da comissão. “Colocar ex-preso político não dá certo. Você não pode dar pretexto, porque se coloca alguém de um lado, o outro vai pedir. Se coloca um preso político, vão pedir para colocar quem prendeu”, afirmou após cerimônia de sanção do projeto que cria a comissão.

Genoino, que foi preso e torturado durante da ditadura, defendeu ainda que a presidente Dilma Rousseff não escolha representantes de entidade nem acolha indicações de ministros. “Não pode ter representante de indicação de ministério, senão vira uma colcha de retalhos. Você também não pode colocar representante de entidade, porque ele vai acabar representando a entidade”, disse.

Para o assessor especial do Ministério da Defesa, o grupo que será responsável por investigar crimes políticos não pode ser um “mero ajuntamento de pessoas”. “A comissão não é um ajuste de contas, é um ajuste de contas com o futuro. Se você ideologizar e dividir, você sacrifica o objetivo principal, que é o direito à memória e não julgar A, B ou C”, disse. Segundo Genoino, a Comissão da Verdade deve iniciar a atuação já no início de 2012. “A presidente tem que escolher os nomes com calma. Deve terminar este ano [sem ser instalada] e começar a funcionar a no início do ano que vem”, disse.

A Comissão da Verdade será composta por sete membros indicados por Dilma Rousseff. Segundo o texto da lei, eles deverão ser “de nacionalidade brasileira, designados pelo Presidente da República, com base em critérios como o da pluralidade, reconhecimento de idoneidade e de conduta ética e por defesa da democracia, da institucionalidade constitucional e dos direitos humanos”.

É o mais sensato, já que se fez a tal “comissão”, com esse nome absurdamente pretensioso. “Comissão da Verdade” regulada pelo estado e por governo é sempre algo suspeito, mas vá lá.

Lembro, sendo absolutamente rigoroso com a fala de Genoino, que não se deve mesmo colocar ex-preso político na comissão, ele está certo, mas não apenas porque isso daria “pretexto ao outro lado”. É porque ficaria caracterizada mais uma revanche do que uma conciliação.

Todo mundo sabe que a nossa comissão, à diferença daquela liderada por Desmond Tutu, na África do Sul, vai apontar os crimes cometidos apenas por um dos lados, certo? Os esquerdistas eram só vítimas, e o Regime Militar, só algoz. Falta agora preencher essa narrativa fantasiosa com alguns personagens. A Comissão da Verdade é isto: um grupo em busca de personagens para dar curso a um roteiro que já está escrito.

Na Bahia, onde participou de cerimônia para o lançamento (Atenção! Era só a inauguração de uma intenção) de obras de mobilidade urbana previstas no PAC, Dilma também falou sobre a Comissão da Verdade:
“Eu acredito que, na questão da verdade, chegamos ao momento em que o Brasil encontra consigo mesmo. A gente encontra consigo mesmo porque a gente encontra sem revanchismos. Porque o revanchismo não é uma forma de encontro. Então, encontramos sem revanchismo, mas também sem o silêncio comprometedor da cumplicidade, sem as duas coisas”.

Tá… O texto é mais confuso do que o de Chico de Oliveira, do PSOL, mas deu pra entender. E o sentido geral é correto. O que não vai bem aí é esse “consigo”. Mas fica para o próximo post.

Por Reinaldo Azevedo

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