"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 18 de novembro de 2011

LULA E AS MANCHETES


A fotografia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado de dona Marisa Letícia, divulgada ontem na internet e estampada na primeira página desta edição do “Brasil Econômico”, é mais significativa do que pode parecer à primeira vista

Em primeiro lugar, ao se mostrar publicamente sem cabelos e sem barba, Lula dá uma demonstração de que, mesmo em tratamento do câncer, não perdeu uma de suas habilidades mais evidentes. Ao longo de seus oito anos de governo, ele poupou horas e horas de trabalho dos editores de jornais ao lhes entregar de bandeja a primeira página do dia seguinte.

Ora com um boné do MST, ora com o cocar de chefe indígena, ora com uma frase de efeito ou com alguma comparação sem propósito com o governo anterior, Lula era o presidente da manchete pronta. Fora do Planalto, manteve intacta a habilidade midiática e, depois do recolhimento inicial diante do diagnóstico indesejado, ele se mostra numa cena que muita gente quer esconder.

Impossível não pensar em três consequências desse gesto. A primeira, claro, é social. Ao se expor numa cena como essa, Lula passa o recado de que o câncer, por mais terrível que seja, não é uma doença incurável e que é possível combatê-lo com sucesso. (Dona Marisa fez o corte do cabelo e da barba vestindo uma camiseta com o símbolo da campanha de prevenção do câncer de mama.)

A segunda consequência é política. Lula mostra aos aliados que o recolhimento para o tratamento não significa afastamento (ou alheamento) da vida política. Afinal, ninguém que estivesse preocupado apenas com a evolução do próprio tratamento teria o cuidado de se expor num momento tão íntimo se não houvesse um propósito claro por trás disso.

A terceira, claro, é eleitoral. Uma foto como aquela tem o poder de provocar comoção suficiente para manter em alta a figura de um dos poucos presidentes da história (não apenas do Brasil, mas de todas as democracias) que sairam do governo mais popular do que eram ao ser eleito.

Com o governo de sua sucessora e afilhada Dilma Rousseff bem avaliado, a presença de Lula como o grande fiador de uma presidente sem capital político próprio perdeu a importância em muito pouco tempo. Mas, para fora do governo, a história é outra.

Lula sabe que sem ele os partidos de sua “base de apoio” (inclusive o PT) perdem força nas urnas. A saída, portanto, é procurar manter inalterada a capacidade de influenciar decisões, impor candidatos a prefeito para as eleições de 2012 e se manter em evidência. Com a divulgação da foto, Lula parece pretender deixar claro àqueles que poderiam imaginá-lo fora do jogo que não será essa doença que o impedirá de fazer aquilo que mais sabe: política.

E o Lupi, hein? O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, já caiu. Pode, formalmente, conservar-se no cargo por mais alguns dias, conforme a prática da presidente Dilma de só colocar um ministro trapalhão para correr depois de ter encontrado outro nome para a vaga. Mas é evidente que Lupi não tem mais autoridade para conceder uma audiência sem pôr em risco a reputação de quem se reunir com ele. E, além do mais, zomba da paciência alheia ao dizer que não andou no “jatinho” de Adair Antônio Meira depois de ter sido flagrado descendo de um turboélice fretado por ele. Lupi já caiu. E sabe disso.

Fonte: Brasil Econômico, 18/11/2011

18 de novembro de 2011
Ricardo Galuppo

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