"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 18 de novembro de 2011

NOTAS POLÍTICAS

Baleia no aquário

Viajar no avião de um cliente não chega a ser pecado mortal. Mentir pode ter sido a gota d’água, quando negou na Câmara e no palácio do Planalto a carona fotografada e agora divulgada na primeira página dos principais jornais. Carlos Lupi está sendo defenestrado menos pelo vôo, em 2009, no King-Air alugado pelo empresário Adair Meira, pelo interior do Maranhão, mais pelo conjunto da obra não realizada no ministério do Trabalho.

Além de haver celebrado convênios com montes de ONGs fajutas, ligadas ao PDT, daquelas que se apropriaram de recursos públicos sem prestar os serviços prometidos, o que mais fez o ministro desde que empossado, nos últimos anos do governo Lula? Pouquíssima coisa. Deixou de destacar-se na luta por um salário mínimo mais digno, deu de ombros para o reajuste das aposentadorias do trabalhador que recebe acima do salário mínimo. Ignorou as greves justas de diversas categorias de trabalhadores. Deixou o combate ao trabalho infantil e ao trabalho escravo por conta da Polícia Federal. Não reuniu nem dialogou com empregados e patrões, simplesmente engolindo as determinações de um governo infenso a lutas sociais.

Lupi cai por inação, muito mais do que por aviação. Porque se fosse para contar as vezes em que ministros voaram em aeronaves particulares, nem de carreira, nem da FAB, quantos ministérios inteiros já teriam sido exonerados?

Também cai por haver transformado sua pasta num feudo do PDT, onde, para exercer funções grandes e pequenas, o único requisito tem sido a carteirinha de filiação ao partido. Bem como, é claro, as facilidades de locar dinheiro público para atividades eleitorais-partidárias.

Não fez, o indigitado ministro, nada além do que a maioria de seus colegas de ontem e até de hoje, mas com o agravante de não haver realizado mais nada. Nenhum plano de vulto, nenhum programa capaz de merecer os aplausos gerais, sequer de chamar a atenção dos assalariados. Quanto mais da presidente Dilma. Com todo o respeito, foi uma baleia nadando num aquário.

Cinco outros ministros do atual governo já saíram por acusações de corrupção, enriquecimento ilícito ou mau uso dos recursos públicos. Mas principalmente por empáfia e incapacidade de ser ministros. Carlos Lupi é apenas o sexto. Serviu fielmente a Leonel Brizola, mas esqueceu-se das lições do mestre. Nada deixa capaz de ser lembrado, ao contrário da reforma no ensino público, da resistência democrática contra a ditadura, das obras materiais e, em especial, da esperança pelo aprimoramento social.

***
AINDA É TEMPO

A questão Lupi acende o sinal amarelo no semáforo postado diante do palácio do Planalto. Com todas as dificuldades inerentes à sua ascensão ao poder pelas mãos do Lula, Dilma Rousseff tem diante dela a chave para o futuro: acabar com o loteamento do governo entre partidos que só pensam em aumentar o próprio faturamento, e quem sabe de seus caciques, ou romper o círculo de giz e escolher uma equipe capaz de exprimir a construção de um projeto digno do país.

Está mais do que claro que com os ministros já demitidos, e agora, com Lupi, a presidente não chegaria a lugar algum. Ainda pontificam no ministério figuras iguais ou piores daquelas até hoje exoneradas. A hora seria de extirpar os incompetentes. E os malandros. Para que esperar janeiro? Por que não manter apenas aqueles que colaboram com ela?

***
OS VELHOS E OS NOVOS

Quem não se programa, em política, costuma quebrar a cara. É aquela historia do provérbio árabe que vivemos repetindo neste espaço: bebe água limpa quem chega primeiro na fonte.

Para as eleições presidenciais de 2014 já estão posicionados a presidente Dilma, como alternativa o ex-presidente Lula, Aécio Neves, José Serra, Geraldo Alckmin, Eduardo Campos e até Michel Temer, se a realidade revelar-se mais estranha do que a ficção.

Esses são, sem referências à idade, os candidatos velhos, de que todo mundo começa a falar. Mas os novos, aqueles que nem por sombra são incluídos no rol dos prováveis óbvios?

Quem quiser que especule, mas tem gente dando asas à imaginação. Coisas novas sempre aparecem, à margem dos partidos e dos esquemas ortodoxos. Como, também, afastados da mídia. Como, por exemplo… (cala-te boca, para não perturbar a placidez da equação). Mas poucos imaginavam, três ou quatro anos antes das respectivas eleições, que Getúlio Vargas voltaria pelo voto, Jânio Quadros, pelo histrionismo, Fernando Collor, pela audácia, e até Dilma Rousseff, pelo ineditismo. Todos, vale lembrar, surpreendendo as pitonisas antecipadas…

***
LIÇÕES DE ANTANHO

Em Paris, o Barão d’Olbach, um dos pais do iluminismo e do enciclopedismo que tanto abriram a cabeça da Humanidade, escreveu certa vez que “se recuarmos ao começo, veremos que a ignorância e o medo criaram os deuses, que a imaginação, o entusiasmo e o embuste os desfigurou, que a fraqueza os venera, que a credulidade os preserva, que o costume os respeita e que a tirania os apóia, a fim de fazer com que a cegueira dos homens atenda aos seus interesses”.

Mais de trezentos anos depois, fica difícil resistir à tentação de aplicar a lição do mestre à nossa realidade política. Ou a cegueira dos homens não faz a tirania apoiar líderes que a maioria venera como se fossem deuses?

Carlos Chagas

Nenhum comentário:

Postar um comentário