"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 21 de janeiro de 2012

EXPULSEM O MASTODONTE DA ESPLANADA

Maioria no Congresso Nacional não é sinônimo de governabilidade. Menos ainda se os interesses dos aliados se colocam à frente dos da nação.

A multiplicação de cargos para a acomodação política é pecado original de governos mais voltados a ouvir as vozes que fazem sua defesa nos gabinetes refrigerados do que as das ruas.

No caso, para ambos os lados, pouco importa faltar médico nos hospitais e professores nas escolas, desde que haja ministérios, autarquias e empresas suficientes para ratear entre os amigos do poder e enchê-los de amigos dos amigos do poder.

Esse pacto antidemocrático e dissimulado desafia a República.
Planejada em um dos períodos mais ousados da história do país em termos de desenvolvimentismo, a era JK, a Esplanada dos Ministérios se tornou acanhada diante do gigantismo dos Três Poderes.


Nada ingênuos, Lucio Costa e Oscar Niemeyer sabiam que ali não caberia toda a máquina pública federal. Deixaram espaço para anexos nas vias paralelas ao Eixo Monumental — já tomado; e criaram setores de autarquia — igualmente esgotados.

Hoje, até prédios comerciais abrigam órgãos da União. Fosse a questão apenas física, Brasília certamente ainda encontraria terrenos para resolvê-la. Um problema mais grave é conseguir espaço para o mastodonte no bolso mirrado do brasileiro. Outro, administrar a infinidade de órgãos e servidores.

O descontrole atingiu ponto tal que virou um desafio achar autoridade capaz de nominar todos os ocupantes do primeiro escalão — e a dificuldade não está na rotatividade, apesar das sete baixas do primeiro ano de Dilma Rousseff, mas no exagerado número de ministros: 38.

Reuni-los é um tormento improdutivo; ensaiá-los para tocarem como orquestra afinada, uma improbabilidade.

A presidente, contudo, encontra-se em momento ímpar do mandato. As eleições municipais de outubro a obrigam a mexer no tabuleiro do xadrez governamental. Fernando Haddad deixou a pasta da Educação para disputar a prefeitura paulistana.

Aloizio Mercadante foi para o lugar dele, liberando o posto em Ciência e Tecnologia para Marco Antonio Raupp, físico que presidia a Agência Espacial Brasileira. Até aqui, a troca de cadeiras segue o script tradicional.

Cabe à chefe do Executivo imprimir marca original à reforma e dar um xeque-mate no império da irracionalidade.

Dilma Rousseff teve sua candidatura à Presidência da República construída sobre uma imagem de gerente competente. Eleita, convidou a assessorá-la o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, a quem entregou a coordenação da Câmara de Políticas de Gestão.

Para ele, "é pacífico que é impossível administrar com 40 (são tantos, que errou a conta ou quis indicar o absurdo, mostrando que não importam dois a mais ou a menos) ministérios". Por que, então, não modernizar o Estado, privilegiando a meritocracia e a racionalidade?

Com popularidade crescente, cabe à presidente costurar o apoio político necessário ao enxugamento da máquina estatal.

Grandes potências mundiais, Estados Unidos, Alemanha e França têm 15 ministérios cada uma.
Não precisamos de 38.


20 de janeiro de 2012
Correio Braziliense

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