"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

HISTÓRIAS DO SEBASTIÃO NERY

Um ministério para o PDT

“No imenso palanque armado na Candelária (para o comício de encerramento da campanha de Lula, no Rio, no segundo turno de 1989), já se falava abertamente em ministeriáveis de um possível governo Lula.

Em nome de Brizola, Roberto D’Ávila veio me pedir que transmitisse a Lula a única reivindicação do PDT: o ministério da Fazenda. Perguntei ao amigo quem era o indicado pelo ex-governador:

– “Você não vai acreditar, mas ele mesmo gostaria de ser o ministro”.

O petista mais cotado para o posto era Aloizio Mercadante, que estava no avião (na volta para São Paulo) quando contei a Lula sobre o pedido de Brizola. Eu não saberia dizer qual dos dois ficou mais atônito”.

O dono dessa história e seu livro estão aí: Ricardo Kotscho (“Do Golpe ao Planalto – Uma Vida de Repórter”, Companhia das Letras, pag. 176).

***

BRIZOLA

Imaginem o fuzuê que teria havido se Collor não tivesse derrotado Lula (49,94% contra 44,23%). Brizola ia cobrar o ministério da Fazenda na ponta da bota. E não era a primeira vez que ele queria o ministério da Fazenda.

Em dezembro de 63, quando João Goulart foi obrigado a tirar o conservador Carvalho Pinto do ministério da Fazenda por exigência dos banqueiros, que não aceitaram a Instrução nº 255 da Sumoc para combater a inflação, e por pressão dos Estados Unidos, que não admitiam a Lei da Remessa de Lucros, Brizola também exigiu o ministério da Fazenda.

Jango não deu (nomeou seu amigo gaúcho e ex-presidente do Banco do Brasil Nei Galvão), Brizola nunca perdoou, veio o golpe de 64 e os dois passaram doze anos exilados no Uruguai sem se falarem.

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LUPI

Como a história gosta mesmo de se repetir como farsa, desde a campanha o PDT vinha fazendo oposição cerrada a Lula. De repente, sem explicar por que, aderiu. E exige um ministério pelo apoio ao governo Lula.

Partido trabalhista, ao menos no nome, deveria querer o ministério do Trabalho, mas é uma pasta pobrezinha, maneja pouco dinheiro. O PDT já escolhera e “fechou questão”: queria o ministério da Previdência, cheio de grana.

Dizia-se no Planalto que Lula toparia, desde que o ministro fossea “seu amigo” Miro Teixeira. A direção do PDT nem quis ouvir falar. Desde que ele foi ministro das Comunicações no primeiro mandato, não confiam em Miro. O ministro “tem que ser” (falavam textualmente) Carlos Lupi, o presidente.

Agora, como ex-ministro, está de volta à presidência do partido.

Sebastião Nery
18 de janeiro de 2012

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