"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 14 de janeiro de 2012

RELAÇÕES DE INTERESSE x RELAÇÕES INTERESSANTES. O QUE VOCÊ CULTIVA?

Eu tomei verdadeiro pavor, aversão, horror a situações toscas com vistas a troca de favores onde há um interesse explícito ou velado no que outro tenha .

Antes eu achava que era por puro orgulho - também, of course -, mas acontece que comecei a perceber tantos jogos de interesse, que fiquei - segundo minha amiga de Belém - com "abuso" disso.

Conhecer pessoas de forma real é uma experiência muito gratificante, quando estamos abertos a saber o que fazem, porque fazem e trocar idéias e experiências, o que é diferente de conhecer alguém já de olho no que ele/ela podem te prover. Gosto de trocas interessantes, mas detesto interesses escusos. Diga-se por trocas interessantes, qualquer coisa: um olhar, uma palavra, um sorriso, uma papo muito maneiro ou um projeto. Normalmente, quando a coisa é natural, encontramos pontos comuns de ligamento e a partir daí nascem grandes idéias e parcerias.

Mas, o fato que me chama a atenção é que tenho visto demais essa vibe interesseira nas ruas e nas relações, seja o guardador de carro que te cobra uma grana pra não fazer nada, o feirante que vende seu produto de acordo com a cara-de-compra do cliente, pessoas deslumbradas com as posses dos outros que colam pra tirar uma casquinha do luxo, entre tantos casos.

É fácil achar um absurdo essas situações, mas as relações de interesse se dão das formas mais simples e muita gente não percebe isso: aquele cara da sua faculdade é um pôia, mas como ele tem dinheiro e normalmente se faz de otário e paga pra todo mundo, tu cola junto pra se dar bem... Uma coisa é você estar sem grana e seu amigo segurar a onda, e quando a situação for inversa a gente chega junto, outra, é você se dar bem numa situação só porque o outro dispõe de MAIS recursos, sejam eles quais forem: dinheiro, contatos, meios, relações, enfim!

Mas é impressionante, como estamos tão, tão cheios dessa galera por aí: micro, meios e mega-aproveitadores, golpistas até. Acham que o outro vai no banheiro e descarrega dinheiro, e como eles, ainda não descobriram o capim que dá essa liga, dão uma ruminada na moita alheia pra ver se pelo menos adubam a própria cova. Fico muito impressionada com essa Geração-Cérebro-de-Mosca que fica rondando os outros pra ver se sobra alguma migalha.

Muito bem. Vamos para o lado bonzinho da coisa: por não ter construído uma percepção dos seus valores e potenciais pessoais, o mané-aproveitador não se sente à altura de uma troca justa com aquele que, para ele, está acima dos seus recursos. Sim, os interesseiros também estão na trupe do mal comportamento por baixa-estima.

Sabe aquele pensamento "se eu não posso ser igual a você, então, eu ferro você", é por aí. Essa coisa de se aproveitar do outro tem um conteúdo de vingança implícito: "Você só serve isso mesmo, ser usado". Nome disso? Despeito. Inveja preta. Baixa estima.

Como pode todo mundo querer ter dinheiro e ser bem sucedido
se acabam punindo quem tem?
E quando você tiver, também merecerá passar por isso?

A galera que se deixa ser aproveitado, ou, que vive emaranhada nessas relações de interesse e só tem amizades e contatos por intermédio do que pode oferecer.... sinceramente, não é uma vida feliz.

Tenho a sensação que é como viver cercado de vampiros, e você sabe, vampiro não presta atenção à qualidade da sua vitima, ele só quer sugar. Mas muitos desses caras também tem uma estima inconsciente onde ser um saco de sangue para os outros é a única forma de se sentir valorizado e percebido. As pessoas que são comumente acharcadas ou se servem de pastelão, obviamente, desconhecem seu valor e acreditam que servindo de capacho aos outros estarão de alguma forma inseridos Mas, uma vez inserido no grupo como um capacho, capacho você será eternamente amigo, até porque o grupo escolhido não tem interesse REAL na sua pessoa, mas sim no que você pode proporcionar para eles. Acabou o benefício "mútuo", acabou a inserção.

Qualquer ato é válido para "fazer parte de".

Tem muuuuuuuuuuuuuuitos grupos de pessoas assim, dos mais diversos tipos, classes, etnias e jeitos. Grupos onde "aproveitador x aproveitado" sobrevivem numa relação simbiótica. Tem até aqueles grupos onde a regra implícita para estar inserido vêm de uma relação de interesse explícita, vá entender?

Mas bom, já as Relações Interessantes, agregam valor pra todo mundo e tendem a expandir, é muito legal viver isso.

Uma boa rede social é cheia de relações interessantes, onde uma pessoa reforça a outra e quando a corda fica bamba para quaisquer uma das partes, a galera dá suporte à quem está na maré baixa. Sim, existem os que têm mais, os que têm menos, mas essa relação não é vista como uma auto-desvalorização de um em relação ao outro, e sim, como níveis a seres alcançados. Serve mais como um incentivo, do que um alvo de inveja. As partes se admiram, administram e estimulam seus potenciais, o sucesso do outro caminha com o meu porque estamos juntos nos construindo ao longo do caminho, sabendo que toda jornada tem seus percalços e é muito mais fácil trilhar junto que sozinho.

A grande diferença entre Relações Interessantes e Relações de Interesse, é que na relação interessante estamos o tempo todo reforçando o caminho do outro, enquanto espelhamos e ajustamos o nosso, já nas relações de interesses as pessoas não só não caminham, como se afundam na própria mediocridade.

Monik Ornellas
10 Jan 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário