"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 25 de março de 2012

ANOTAÇÕES POLÍTICAS DO JORNALISTA CARLOS CHAGAS

A História exige explicações

Agora que está para ser constituída a Comissão da Verdade, para investigação, elucidação e divulgação de crimes praticados durante a ditadura militar, será preciso abrir o leque. De um lado, identificar antigos agentes do estado e seus malfeitos, mas, de outro, aqueles que se valiam dos mesmos métodos para concretizar objetivos igualmente deletérios, quer dizer, os terroristas.

Vai, como provocação, um tema capaz de atormentar uns e outros. Acima e além da prescrição que já ocorreu para o crime de aliciamento para assassinato, fica evidente não poder passar em branco antiga denúncia feita pelo general Newton Cruz, há anos na reserva, em programa de televisão. Falou da visita que lhe fez Paulo Maluf, pedindo-lhe providenciar a morte de Tancredo Neves. São desvãos da crônica política nacional que, quando menos se espera, aparecem.

No começo de 1985 o general Newton Cruz era Comandante Militar do Planalto. Contou que num sábado pela manhã jogava peteca com amigos, em sua residência oficial, quando o então candidato presidencial apareceu. Recebeu-o e ouviu dele que o país não poderia cair nas mãos da oposição, chefiada por Tancredo. Àquela altura, estava claro que Maluf seria derrotado no Colégio Eleitoral. A única solução, para o visitante, seria os militares darem sumiço no ex-governador de Minas.

O general conta que ouviu a proposta e imediatamente pediu que Paulo Maluf se retirasse. Acrescentamos que, correta ou não a versão, tantos anos depois, a verdade é que a assessoria de Tancredo havia providenciado minucioso plano de retirada do candidato de Brasília, por estradas de terra no entorno da capital federal, para chegar a um pequeno aeroporto onde um teço-teco permaneceu muitos dias de plantão, com piloto e tudo o mais, pronto para voar para Minas. O episódio precisa ser elucidado, e melhor oportunidade não há do que levá-lo à Comissão da Verdade.

Paulo Maluf precisa dar sua explicação, inclusive porque, depois, tentou processar o general Newton Cruz. Ambos estão velhinhos, mas preparados para elucidar a História.

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PROIBIDO FUMAR?

Em recente entrevista, uma pergunta gerou sonora gargalhada de José Serra, mas sem a consequente negativa que seria natural. Ele foi indagado se, caso eleito, um de seus primeiros decretos seria proibir o cigarro em todo o território da cidade de São Paulo, mesmo nas residências dos fumantes.

Riu, para depois alinhar as medidas que tomou ao longo dos anos contra o fumo: ministro da Saúde, obrigou as fábricas de cigarro a estamparem nos maços horrorosas fotografias de mutilados, com a indicação do fumo como causa. Proibiu que se fumasse no prédio do ministério. Estendeu a proibição aos aviões comerciais. Como governador de São Paulo, patrocinou legislação banindo o cigarro de todos os recintos fechados, públicos ou privados. Conseguiu que o país inteiro adotasse a restrição. Não parece fora de propósito que, se voltar à prefeitura, Serra complete sua obra, continuando a puritana cruzada em defesa da saúde da população paulistana.

Com todo o respeito, porém, vai uma observação: para obter rápido o resultado final, não seria preferível proibir a existência de fábricas de cigarro e da comercialização do produto em São Paulo? Haverá coragem?

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ABRIL VERMELHO

Recrudesce o MST, tentando pintar de vermelho o mês de abril, como aconteceu em outros. Fica até difícil entender porque a escolha, entre outras onze que poderiam ter sido definidas. O diabo é que o movimento dos sem-terra, de maior fenômeno político acontecido no Brasil em muitas décadas, caminha célere para transformar-se num partido sectário.

Invadir usinas e propriedades improdutivas, no Nordeste, faz parte do jogo, mas edifícios urbanos do Incra e outras repartições, além de inócuo, é burrice. Apenas um convite a que a polícia tente reconquistar próprios do estado, gerando confrontos e conflitos.

Aliás, a respeito do MST, seria bom que algum veículo de comunicação fizesse ao líder João Pedro Stédile a pergunta que não quer calar: acha que a presidente Dilma cumpre suas promessas de campanha e realiza uma verdadeira reforma agrária no país? Ou vai ficar devendo, quando deixar o poder?

Carlos Chagas
25 de março de 2012

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